© Conteúdo protegido por direitos autorais

Revistas Wired e Business Insider são enganadas pela IA e removem artigos escritos por freelancer ‘fantasma’

Captura de tela matéria Wired feita por jornalista criada com IA

Reprodução / Web Archives



Duas publicações de renome internacional, Wired e Business Insider, foram forçadas a remover artigos de seus sites e admitir que foram enganadas por uma suposta repórter freelancer que, ao que tudo indica, não passava de uma falsa jornalista criada com IA (inteligência artificial).

A revelação feita nesta quinta-feira (21) pelo site britânico especializado em jornalismo Press Gazette expôs uma sofisticada operação de conteúdo falso gerado por inteligência artificial, levantando sérias questões sobre os limites da verificação editorial na era digital.

Os textos cobriam temas variados — desde histórias de amor no game Minecraft até tendências de trabalho remoto — mas todos tinham algo em comum: personagens e eventos que não podiam ser verificados, a começar pela própria autora.

Ambas as publicações reconheceram publicamente que os artigos não atendiam aos seus padrões editoriais e prometeram reforçar seus processos de verificação. Outras publicações também estão removendo artigos assinados pela jornalista aparentemente inexistente.

A descoberta da farsa

A fraude veio à tona graças à desconfiança de um editor do site britânico The Dispatch. Jacob Furedi recebeu um pitch de uma jornalista chamada Margaux Blanchard, que propunha uma matéria sobre uma cidade chamada Gravemont, supostamente usada como centro de treinamento para investigações periciais.

O texto era bem escrito, mas continha elementos estranhos: locais que não existiam, personagens sem rastros online e uma narrativa que parecia boa demais para ser verdade, segundo ele relatou. Ao investigar, Furedi percebeu que não havia qualquer evidência de que Gravemont existisse.

Nem registros públicos, nem menções em mapas, nem qualquer referência confiável. A suspeita cresceu, e o Dispatch decidiu não aceitar a proposta. No entanto, Furedi compartilhou suas descobertas com o Press Gazette, que iniciou uma investigação mais ampla. E a farsa se revelou bem maior do que uma tentativa frustrada.

O nome Margaux Blanchard aparecia em matérias veiculadas por publicações respeitadas como Wired, Business Insider, The Jerusalem Post, Index of Censorship e outros veículos.

As matérias ‘escritas’ pela jornalista criada com IA

Uma delas, publicada pela Wired, narrava a história de um casal que se conheceu jogando Minecraft e decidiu realizar seu casamento dentro do próprio jogo.

O texto descrevia com riqueza de detalhes a cerimônia virtual, conduzida por uma celebrante chamada Jessica Hu, supostamente baseada em Chicago e especializada em casamentos transmitidos por plataformas como Twitch, Discord e VRChat.

A matéria explorava o universo dos relacionamentos digitais e a tendência de eventos realizados em ambientes virtuais, com uma abordagem que parecia alinhada ao perfil tecnológico da revista. No entanto, investigações posteriores revelaram que não havia qualquer registro da existência de Jessica Hu, nem evidências que sustentassem os detalhes da história.

Já no Business Insider, dois artigos atribuídos a Blanchard foram publicados em abril de 2025, ambos em formato de testemunho pessoal – uma abordagem curiosa para uma jornalista criada com IA.

O primeiro abordava os desafios emocionais do trabalho remoto para pais, sob o título “Trabalho remoto foi ótimo para mim como mãe, mas péssimo como pessoa”.

O texto refletia sobre o isolamento social e o impacto psicológico de conciliar carreira e maternidade sem o suporte presencial de colegas ou familiares.

O segundo artigo, intitulado “Tive meu primeiro aos 45″, trazia o relato de uma mulher que teria se tornado mãe em idade avançada, discutindo questões de saúde, expectativas sociais e realização pessoal.

Embora os temas fossem relevantes e o estilo narrativo convincente, nenhuma das personagens mencionadas pôde ser verificada, e os textos foram removidos após a revelação da fraude.

Especialistas consultados pelo Press Gazette concluíram que os artigos foram provavelmente gerados por inteligência artificial, com uso de técnicas avançadas para simular estilo jornalístico e criar narrativas convincentes.

 A reação das publicações

Após serem confrontadas com as evidências, a Wired e a Business Insider removeram os artigos atribuídos a Blanchard e emitiram comunicados reconhecendo que foram vítimas de uma fraude.

A Wired, especializada justamente em tecnologia, admitiu que o artigo sobre o casal gamer que publicou “não atendia aos padrões editoriais”. O Business Insider fez o mesmo com um texto sobre trabalho remoto.

Ambas as publicações prometeram revisar seus processos de verificação de freelancers e reforçar o uso de ferramentas para detectar conteúdo gerado por IA.

Elas não são as primeiras a cair em fraudes semelhantes. Apesar dos vários alertas, publicações reconhecidas têm sido vítimas de trapaças, seja por profissionais que não existem ou conteúdo errado.