Londres – Em um movimento incomum para os padrões de neutralidade que as redes sociais costumam adotar em relação a países em conflito, a Meta confirmou na quinta-feira (10) que estava autorizando os moderadores a manterem no Facebook pedidos de violência e morte contra ‘invasores da Rússia’, soldados e até dos presidentes da Rússia e de Belarus, Vladimir Putin e Aleksander Lukashenko, no contexto da guerra com a Ucrânia.

“Como resultado da invasão russa da Ucrânia, temporariamente permitiremos formas de expressão política que normalmente violariam nossas regras, incluindo discurso violento como ‘morte aos invasores da Rússia’. Mas não permitiremos pedidos de violência contra civis russos”, disse um porta-voz do Meta, holding do Facebook, em comunicado.

A mudança que a Meta apresentou como temporária na política vale apenas para usuários do Facebook na Armênia, Azerbaijão, Estônia, Geórgia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Rússia, Eslováquia e Ucrânia.

Bloqueio do Facebook na Rússia pode ter acirrado os ânimos

A decisão, revelada pela agência Reuters e depois confirmada pela Meta, veio na semana seguinte à do banimento do Facebook na Rússia, em resposta ao que o órgão regulador de mídia do governo classificou como restrições de acesso à mídia russa na plataforma, o que parece ter esquentando os ânimos. 

O comunicado pode ser interpretado como uma tomada de posição na guerra Rússia x Ucrânia. 

E como um “incentivo” aos moderadores para manterem as postagens mais inflamadas, já que no passado o Facebook não negou notícias de que sua política de moderação de discurso de ódio abria exceção para pedidos de morte a pessoas públicas como políticos e jornalistas. 

A denúncia sobre as exceções foi feita em março de 2021 pelo jornal britânico The Guardian, que teve acesso a um documento de mais de 300 páginas com instruções para os moderadores. 

Segundo o jornal britânico, a política da rede social  permitia explicitamente que “figuras públicas” fossem atacadas na plataforma e chegava a admitir “pedidos de [sua] morte”.

Jornalistas e figuras públicas, incluindo todos os políticos eram automaticamente classificados dessa forma, “seja qual for o nível de governo e se foram eleitos ou estão se candidatando a um cargo”. 

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No entanto, a nova regra parece se aplicar mais a desabafos de usuários do Facebook inconformados com a invasão da Rússia à Ucrânia do que propriamente a planos reais, como fez questão de salientar a Meta. 

Segundo o comunicado enviado aos moderadores sobre a guerra da Rússia com a Ucrânia, os pedidos de morte aos líderes serão permitidos se não mencionarem outros alvos e se não parecerem “sérios”, contendo detalhes como local ou método de um ataque.

Outra condição é de que os pedidos de violência se refiram diretamente ao conflito com a Ucrânia. 

O email enviado aos moderadores diz: 

Além do Facebook, Rússia também bloqueou Twitter 

O Twitter também sofreu bloqueio na Rússia , e está adotando caminhos alternativos para permitir que usuários possam continuar postando mensagens sobre o conflito com a Ucrânia. 

A plataforma de compartilhamento de mensagens lançou uma versão para ser utilizada no navegador Tor, que funciona na chamada dark web. 

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