O Twitter lançou uma versão do seu site para o navegador Tor, software livre de código aberto utilizado na dark web para os usuários se manterem anônimos, como forma de contornar a censura imposta à rede social na Rússia.

A aprovação de uma nova lei que proíbe plataformas e veículos de imprensa informarem de forma independente — sem autorização do Kremlin — sobre a guerra na Ucrânia tem feito empresas estrangeiras encontrarem caminhos para assegurar a livre circulação de informações no país.

O Facebook e a BBC News, que também foram bloqueados por Vladimir Putin, anunciaram medidas semelhantes à do Twitter como alternativa aos usuários russos que estão com restrições à navegação na web.

Contra censura na Rússia, Twitter desenvolve versão Tor

O anúncio do uso do Tor pelo Twitter para driblar a censura na Rússia foi feito pelo engenheiro de software e especialista em segurança da internet Alec Muffett, que trabalhou com outras empresas para criar sites otimizados para o navegador.

Os usuários podem acessar esta versão do Twitter, conhecida como onion (cebola, em alusão às várias camadas do serviço), ao baixarem o navegador Tor, que permite que as pessoas acessem sites no que também é conhecido como “dark web”.

Em vez de .com, os sites onion têm um sufixo .onion.

Embora o termo “dark web” seja comumente associado a sites ilegais, na verdade esse mundo virtual também é frequentemente usado por pessoas que buscam permanecer anônimas para navegar com segurança, inclusive em países que governos opressores censuram determinados conteúdos da web.

O Tor criptografa o tráfego da web e o encaminha através de uma série de servidores para ocultar informações de identificação sobre os usuários.

É uma maneira popular de acessar sites sujeitos à censura na Internet, e isso o tornou particularmente relevante desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, que estimulou uma repressão russa às redes sociais e á imprensa. 

Segundo o site The Verge, alguns provedores de serviços de internet começaram a censurar o próprio Tor em dezembro de 2021, mas o Projeto Tor disse à Vice que o nível real de bloqueio variou, e os usuários russos ainda podem se conectar.

O Facebook e outros sites, como o da BBC, também possuem versões acessíveis no Tor.

Censura ao Twitter, Facebook e imprensa

Desde o início da guerra contra a Ucrânia, a Rússia apertou o cerco contra a imprensa livre e grandes empresas de mídia já suspenderam os serviços no país.

O jornal The New York Times (NYT), as emissoras CNN, ABC News, CBS News, a agência espanhola EFE, a televisão pública italiana RAI, a Rádio Canadá, as alemãs ARD e ZDF e a Bloomberg News são algumas delas.

A censura afeta principalmente os meios de comunicação russos independentes, obrigados a fechar depois da decisão do parlamento do país, incluindo a estação de TV Dozhd e a estação de rádio Ekho Moskvy.

A nova lei aprovada em 5 de março prevê até 15 anos de prisão para jornalistas que veicularem “notícias falsas” sobre o conflito armado entre Rússia e Ucrânia — que o presidente Vladimir Putin insiste em chamar de “operação militar especial”, e não guerra.

Com a lei aprovada, o Facebook foi bloqueado no país, enquanto o Twitter ainda é acessível, mas de forma bastante limitada. Usuários relatam lentidão para logar e navegar no site.

O objetivo do Kremlin é limitar as informações sobre a guerra apenas às mídias estatais, que difundem a narrativa aprovada por Putin sobre a situação na Ucrânia.

Leia mais

Lei de fake news na Rússia silencia plataformas digitais, mídia local e empresas jornalísticas globais

BBC também ajuda internautas driblarem censura

As restrições impostas pela Rússia para a veiculação de informações sobre a guerra na Ucrânia fizeram a BBC buscar alternativas para continuar informando o público do Leste Europeu de forma isenta.

Enquanto muitos veículos estrangeiros optaram por encerrar as operações e retirar seus correspondentes da Rússia, a BBC voltou atrás dessa decisão e publicou no Twitter como os cidadãos russos podem acessar seus serviços pelo navegador Tor, o mesmo usado agora pelo Twitter.

Além disso, a emissora britânica divulgou que trouxe de volta seu serviço de rádio de ondas curtas na Ucrânia e na Rússia para garantir que cidadãos em ambos países possam ter acesso a notícias durante a invasão.

A medida foi uma resposta ao bombardeio da principal torre de rádio e televisão de Kiev, ocorrida no dia 1º de março, que deixou um jornalista morto.

Leia também

New York Times sai; BBC decide ficar: como a mídia global reagiu à nova lei de fake news na Rússia

Manifestantes em frente ao consulado da Rússia na cidade de Nova York para protestar contra a guerra na Ucrânia (Foto: Tong Su/Unsplash)

Driblando a censura, a BBC vai transmitir quatro horas de seu Serviço Mundial, lido em inglês, para a Ucrânia e partes da Rússia todos os dias.

“Muitas vezes se diz que a verdade é a primeira vítima da guerra”, disse Davie, em comunicado. “Em um conflito em que a desinformação e a propaganda são abundantes, há uma clara necessidade de notícias factuais e independentes nas quais as pessoas possam confiar.”

A transmissão de rádio de ondas curtas da BBC pode ser encontrada em 15735 kHz das 16h às 18h, e em 5875 kHz das 22h à meia-noite, horário da Ucrânia. 

O rádio de ondas curtas usa frequências que podem percorrer longas distâncias e são acessíveis em rádios portáteis, tornando-se o método principal para alcançar ouvintes em zonas de conflito ao longo da história.

As ondas curtas foram amplamente usadas na Europa para transmitir informações durante a Segunda Guerra Mundial, e o uso atingiu o pico durante a Guerra Fria.

Mas à medida que a tecnologia de rádio se desenvolveu, juntamente com a adoção em massa de notícias online, as ondas curtas caíram em desuso em todo o mundo.

Após 76 anos, o Serviço Mundial da BBC tinha encerrado sua transmissão em ondas curtas para a Europa em 2008.

Leia também

Jornais da Ucrânia lançam venda de NFTs para financiar cobertura da guerra com a Rússia