Londres –  O YouTube tornou-se este ano a plataforma mais utilizada pelos brasileiros como fonte de notícias.

O Facebook segue líder no mundo, mas em tendência de queda, enquanto Instagram e TikTok foram as plataformas que mais cresceram para busca de informação. 

As conclusões são do Digital News Report 2022, o mais abrangente estudo sobre consumo de notícias, confiança e tendências do jornalismo no mundo, que mostra que dois em cada três brasileiros (64%) acessam notícias pelas mídias sociais na semana anterior à das entrevistas da pesquisa. 

Facebook deu lugar ao YouTube como principal mídia social de notícias no Brasil

A pesquisa, que abrange 46 mercados, apontou um declínio na confiança nas notícias de forma geral, inclusive no Brasil, onde a queda foi de seis pontos percentuais. 

O estudo sobre o comportamento do público em relação ao noticiário mostra que o YouTube assumiu a primeira posição não só no Brasil, mas também no Japão, Coreia do Sul, Índia e Turquia. 

Os números refletem o acesso por meio das plataformas a fontes independentes de notícias, como sites e blogs, e também aos veículos de imprensa tradicionais, como jornais, rádios e emissoras de TVs, que mantêm canais nas mídias sociais.

Os pesquisadores afirmam que os dados do Brasil e dos demais países confirmam a tendência de um ambiente de mídia de notícias cada vez mais digital, dominado pelas plataformas e tendo como principal dispositivo de acesso o smartphone.

O YouTube assumiu a liderança no Brasil com 43% da preferência dos entrevistados, seguido de perto pelo WhatsApp (41%) e o Facebook (40%), segundo o Instituto Reuters.

Na última edição da pesquisa, o Facebook era a plataforma mais utilizada pelos brasileiros para se informar, com 47%, seguido pelo WhatApp (43%) e o YouTube (39%).

As quedas dos dois primeiros e o crescimento de quatro pontos percentuais fez o YouTube saltar ao primeiro posto.

Preferência por fontes de notícias mais visuais

Os autores esclarecem que as mudanças estão muito ligadas aos hábitos emergentes de uma nova geração de “nativos sociais” que preferem acessar notícias em redes mais visuais, tendência que vem se verificando nos últimos três anos. 

Instagram e TikTok foram as plataformas que apresentarem o maior crescimento em nível global quando o assunto é informação. Somente elas e o Telegram cresceram em nível global na última pesquisa do Reuters.

O TikTok foi a rede que mais cresceu globalmente, principalmente no grupo de 18 a 24 anos, com 15% deles já usando a plataforma para notícias. 

Mas seu uso para busca de informação está se estendendo a todas as faixas etárias em países com níveis mais altos de utilização, como Quênia, África do Sul, Tailândia, Indonésia, Brasil e Peru.

O Instagram e o TikTok também foram as plataformas que mais ganharam adeptos entre os brasileiros na hora de buscar notícias: ambos aumentaram sua participação em 5 pontos percentuais.

O Instagram manteve-se em quarto lugar, passando de 30% para 35%. E o TikTok encostou no Twitter pela disputa do quinto lugar, passando de 7% para 12%.

Os pesquisadores enfatizam que a guerra entre Rússia e Ucrânia ajudou o TikTok a aumentar globalmente sua participação como fonte de notícias.

Os ucranianos têm usado a rede para documentar suas experiências no conflito, acumulando milhões de visualizações no processo. A BBC News, que tinha decidido originalmente evitar o TikTok, criou canais em russo para combater as informações enganosas compartilhadas na plataforma sobre a guerra.

Mais gente usa mídias sociais para acessar notícias do que canais online dos veículos

A pesquisa apontou também um ponto de inflexão ocorrido desde a última aferição em 2018, com o acesso às notícias por meio das mídias sociais superando pela primeira vez o acesso direto pelos sites e apps dos veículos de comunicação.

Segundo os pesquisadores, essas mudanças são impulsionadas pelos hábitos dos nativos sociais à medida que chegam à idade adulta.

Quase três em cada dez dos entrevistados (28%) da amostra global disseram que acessam as notícias pelas mídias sociais, enquanto os adeptos do acesso direto se limitam a 23%.

Em 2018, a quantidade dos que acessavam notícias pelos canais dos veículos era 40% maior do que os que preferiam se informar pelas mídias sociais.

O número de brasileiros que acessam notícias pelas mídias sociais é bem maior do que a média global de 28%. Quase metade dos entrevistados no Brasil (46%) disseram acessar notícias pelas mídias sociais ou e-mail. Só quinze dos 46 países estudados apresentaram um índice maior.

A campeã de acesso a notícias pelas redes sociais é a Nigéria, com 66%. Dos dez países que mais acessam notícias pelas redes sociais, quatro são da América Latina, três da África e três da região Ásia-Pacífico.

Por outro lado, a quantidade de brasileiros que acessam as notícias diretamente pelos canais dos veículos de comunicação é bem menor do que a média global de 23%.

Os que disseram que acessam as notícias dessa maneira somam apenas 11%, o segundo menor índice do mundo, perdendo apenas para Coreia do Sul, onde o YouTube é também a rede mais usada para se informar. 

YouTube, segunda maior fonte de acesso a notícias no mundo 

Globalmente o Facebook ainda se mantém na primeira colocação global para o compartilhamento de notícias, mas vem perdendo terreno, tendo caído 12 pontos percentuais desde 2016.

O YouTube, preferido dos brasileiros para essa finalidade, se mantém em segundo no ranking global desde o início da pesquisa, à frente do WhatsApp, que assumiu a terceira colocação a aprtir de 2016.

O Twitter estagnou na última década em termos de sua base de usuários, embora continua a ser extremamente influente junto a jornalistas e políticos.

E seu futuro permanece uma incógnita, com a tentativa de aquisição da empresa por Elon Musk e a subsequente perda de executivos seniores. 

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Desinformação nas mídias sociais 

A pesquisa encontrou um medo maior de ser vítima da desinformação online entre os que acessam notícias pelas mídias sociais.

No geral, considerando quem acessa notícias diretamente junto aos veículos e os que acessam via mídias sociais, pouco mais da metade dos entrevistados (54%) diz se preocupar com as fake news na internet.

Mas as pessoas que dizem usar principalmente as mídias sociais como fonte de notícias se mostram mais preocupadas (61%) do que as pessoas que não se informam por elas (48%).

Além disso, as regiões com os mais altos níveis de preocupação – África e América Latina – são justamente as que apresentam os mais altos índices de acesso de notícias pelas mídias sociais.

Mídias sociais são a única fonte de notícias que cresceu no Brasil

O estudo demonstra que no Brasil o acesso a notícias por todas as fontes tradicionais vem caindo desde 2013, e de forma mais acentuada no caso da mídia impressa.

O comportamento segue a tendência mundial, que mostra que o acesso às notícias pela mídia tradicional, como TV e mídia impressa, caiu ainda mais no ano passado em quase todos os mercados, com o consumo online e social não preenchendo a lacuna.

Segundo a pesquisa deste ano, o acesso pelas mídias sociais foi o único a apresentar crescimento no Brasil, subindo um ponto percentual para 64% e aumentando a vantagem para a televisão, que no mesmo período caiu de 61% para 55%.

O online se mantém na liderança com o mesmo percentual do ano passado, mas seu índice inclui o acesso aos veículos de notícias feito por meio das mídias sociais.

A queda da mídia impressa deu um refresco e se manteve estável em relação ao ano passado, nos mesmos 12%. Mas seus efeitos negativos têm sido compensados pelo acesso online a jornais e revistas. 

O estudo calcula que ao final de 2021, as assinaturas digitais representavam 67% da circulação dos dez jornais mais vendidos do Brasil.

Smartphone, principal dispositivo para acessar fontes de notícias  

Embora o smartphone continue sendo o dispositivo mais usado para acessar fontes de notícias em todos os países, seja no YouTube ou em outros canais, a pesquisa captou um primeiro declínio global generalizado desde que ela começou a ser feita, provavelmente refletindo a queda no acesso de notícias após o alto consumo registrado no pico da pandemia.

No Brasil, essa queda não foi tão pronunciada, e o smartphone continua com ampla vantagem sobre o acesso pelo computador, com um índice três vezes maior.

Brasil tem uma das maiores quedas no interesse por notícias 

Além de mostrar que o acesso a fontes de notícias no mundo passou a ser dominado pelas plataformas de mídias sociais, o estudo mostrou também que houve uma diminuição generalizada do interesse por notícias.

A má notícia é que o Brasil foi apontado entre os que apresentaram as maiores quedas desse interesse.

Considerando o intervalo entre 2015 e 2022, o estudo destaca que Argentina, Brasil, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos foram os que apresentaram no período as maiores quedas de leitores muito interessados em notícias.

O outro lado da moeda é que, apesar da queda, o índice brasileiro (57%) ainda é maior do que a média global, que também caiu acentuadamente, passando de 67% para 47% no mesmo período.

Influência no humor é uma das causas para evitar notícias

Por causa desse menor interesse, a pesquisa revela que o consumo global de notícias diminuiu, e de forma considerável em alguns países.

Um dos motivos apresentados foi o fato de cerca de quatro em cada dez dos entrevistados ter dito que passaram a evitar as notícias pelos efeitos negativos que lhes causam.

Os brasileiros estão entre os que mais adotaram essa prática de evitar notícias.

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O índice do Brasil (54%) foi o terceiro maior entre os 46 países pesquisados, e dobrou em relação a 2017.

No mesmo período, a média global dos que evitam notícias aumentou bem menos, passando de 29% para 38%.

Os entrevistados da amostra global dizem que passaram a evitar notícias principalmente pela sua repetitividade – especialmente em assuntos políticos e da pandemia (43%).

Cerca de um terço (36%), principalmente aqueles com menos de 35 anos, dizem que as notícias lhes prejudicam o humor e 29% dizem que sentem um desgate com a quantidade de notícias recebida.

Uma proporção significativa diz que evita notícias porque acha que não são confiáveis (29%). 

Outros dizem que algumas notícias levam a discussões que prefeririam evitar (17%), ou lhes causam sentimentos de impotência (16%). 

Uma parcela menor diz que não tem tempo suficiente para notícias (14%) ou que é muito difícil entendê-las (8%).

Brasileiros preferem opinião a imparcialidade dos jornalistas nas redes 

Contrariando a tendência global apontada na pesquisa, que prefere a imparcialidade quando os jornalistas se manifestam em suas redes sociais, quase dois em cada três dos brasileiros entrevistados disseram preferir que os profissionais de imprensa expressem suas opiniões pessoais.

Na maioria dos países, cerca de mais da metade dos entrevistados acha que os jornalistas devem se limitar a reportar imparcialmente as notícias, ao contrário do que acontece no Brasil e no Japão.

Globalmente, os grupos dos mais jovens são os que têm maior preferência pela expressão das opiniões pessoais dos jornalistas na hora de postar nas redes. 

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