Londres – Jornalistas britânico-iranianos que trabalham na Grã-Bretanha estão sob ameaça de morte por integrantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), confirmando uma escalada nas tentativas de reprimir a imprensa independente mesmo fora do território do país.

Dois profissionais que trabalham para o canal de notícias independente Iran International TV receberam da Scotland Yard, a Polícia Metropolitana de Londres, avisos de que suas vidas estão ameaçadas, segundo comunicado distribuído pela rede Volant Media, que controla o canal. 

A Polícia notificou formalmente os dois jornalistas de que os riscos são reais para suas vidas e suas famílias.

Jornalistas transmitem notícias independentes para população do Irã 

Com sede em Londres, a rede Iran International TV é o principal canal independente de notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana, assistido por uma audiência de mais de 30 milhões de espectadores, entre a população iraniana e a diáspora global.

Por ter sua redação fora do país, a rede consolidou-se como fonte confiável de notícias e análises imparciais e sem censura sobre o Irã, diante de um contexto de repressão que se agravou no último mês depois do caso da jovem de 22 anos Masha Amini, morta sob custódia da polícia depois de ter sido presa por estar usando o véu islâmico (hijab) supostamente de forma inadequada. 

À medida que os protestos em todo o Irã se intensificam, jornalistas e outros meios de comunicação continuam sendo pressionados e têm tido negado o direito de reportar os fatos inclusive fora do país, como constatou a Scotland Yard. 

Desde a morte de Mahsa Amini, as mídias sociais também foram severamente restringidas e os apagões na Internet têm ocorrido regularmente.

Um porta-voz da Iran International disse:

“Estas são ameaças patrocinadas pelo Estado a jornalistas no Reino Unido.

É realmente chocante que jornalistas independentes em solo britânico estejam recebendo ameaças às suas vidas, em um esforço para impedir que informações gratuitas e sem censura cheguem ao povo do Irã.

“A Grã-Bretanha é o lar da liberdade de expressão. Fazemos parte dessa tradição, orgulhosos de servir os 85 milhões de iranianos com as informações que eles não podem receber em casa.

O IRGC não pode silenciar uma imprensa livre no Reino Unido.”

A Iran International pediu ao governo do Reino Unido, governos internacionais e outras entidades que condenem as ameaças de morte e continuem a destacar a importância da liberdade de imprensa.

Entre as organizações que se manifestaram contra as ameaças está o Partido Verde alemão, que fez um manifesto nas redes sociais em defesa da rede iraniana. 

O Irã ocupa o 178º lugar entre 180 países no ranking de liberdade de imprensa da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF). 

Em sua análise anual publicada em abril deste ano, a RSF explica que como mídia do país é amplamente controlada pelo regime islâmico, as principais fontes de notícias são os meios de comunicação baseados no exterior, como a Iran International.

A ONG destacou que jornalistas e meios de comunicação independentes no Irã são constantemente perseguidos por meio de prisões arbitrárias e sentenças muito pesadas “proferidas após julgamentos grosseiramente injustos perante tribunais revolucionários”. 

E salientou o papel do governo: 

“O líder supremo Ali Khamenei frequentemente acusa a mídia independente de ser manipulada por forças estrangeiras.

Como chefe das principais instituições políticas, militares e judiciais do país, ele pode ordenar a prisão de jornalistas e sentenciá-los a longas penas de prisão e até mesmo à pena de morte.”

Segundo a RSF, o artigo 24º da Constituição garante a liberdade de imprensa, mas a lei de imprensa de 1986 (alterada em 2000 e 2009 para abranger  publicações online) permite que as autoridades assegurem que os jornalistas não “ponham em perigo a República Islâmica”, “não ofendam o clero e o Líder Supremo” e não “divulgue informações falsas”.

Desde o início dos protestos em reação à morte de Mahsa Amini em 16 de setembro, pelo menos 42 jornalistas foram presos em todo o Irã, informou a Repórteres Sem Fronteiras.

O acompanhamento mostra que até agora, oito deles foram libertados e 34 ainda estão detidos, entre eles 15 mulheres jornalistas.

“Há agora cinco vezes mais mulheres presas do que antes do início dos protestos”, afirma a entidade.

O número de jornalistas mulheres detidas nunca foi tão alto. Mesmo durante os protestos generalizados de 2019 no Irã, apenas quatro em cada 10 jornalistas detidos eram mulheres.