Especial
PARCEIRO DE CONTDO
FOTO: GERD ALTMAN / PIXABAY
urnout, ansiedade, depreso, suicídio, distúrbios
alimentares e de sono, ndrome do nico, transtorno
do ficit de atenção com hiperatividade (TDAH),
consumo de subsncias, autismo e mal de Alzheimer
m sido discutidos mais abertamente na imprensa,
nas redes sociais, nas corporações, nas falias e entre
amigos, sobretudo depois da crise do coronavírus.
Mas a representão de pessoas afetadas, os canais de
ajuda ou a forma de dialogar e escrever sobre queses
emocionais nem sempre são as mais adequadas.
Campanhas como o Janeiro Branco e o Setembro
Amarelo o instrumentos poderosos para a
conscientização sobre um desafio que faz parte das
metas do Pacto Global da ONU para o alcance dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustenvel, e está cada
vez mais associado à agenda ESG.
A Lei 14.831/2024, que criou no Brasil o Certificado
Empresa Promotora da Saúde Mental, incentivando
empresas a assumirem parte da responsabilidade pelo
bem-estar emocional de seus blicos, é um reflexo da
ateão a essa questão historicamente cercada de
medo, preconceito e desconhecimento.
Saúde mental: como tornar realidade o
sloganSe precisar, peça ajuda
“Adia ainda
o encontrou um lugar
de total conhecimento
sobre saúde mental”
nesta edão
LUCIANA GURGEL
EDUARDO RIBEIRO
Editora-chefe
MediaTalks, Londres
Publisher
Jornalistas&Cia, São Paulo
Jornalistas
americanos
‘breaking up with
the news’
lio Bilate | Consultor
REDÕES
ENTREVISTA
Reynolds
Journalism
Institute examina
burnout e sugere
caminhos
Pesquisa britânica
constata benefícios
do trabalho remoto
10
9
EUA | El Orazem
O tema da campanha de prevenção do suicídio Setembro
Amarelo este ano é justamente “Se precisar, peça ajuda”.
Para isso, é vital quebrar o medo, o tabu e o estigma que
funcionam como barreiras para a busca de suporte,
afetando relacionamentos, carreiras e desestruturando
equipes.
Nesta edição, trazemos um olhar internacional sobre como a
dia evoluiu no reconhecimento do problema nas
redações, no apoio aos seus profissionais e na abordagem
da questão na cobertura
Mostramos também como a síndrome do burnout está
afetando profissionais do setor, tanto os que estão nas
redações quanto os que atuam em comunicação corporativa
- e ideias para mudar essa realidade.
Abordamos ainda visões sobre a influência das redes sociais
na saúde mental, incluindo a dos profissionais de imprensa
e de comunicação, alvos de assédio e sobrecarga.
E compartilhamos ideias e guias de linguagem para tratar as
condições emocionais de forma sensível, respeitosa e
eficiente. Esperamos que sejam inspiradoras e úteis no
trabalho e na vida.
Boa leitura!
2
5
RELÕES
PÚBLICAS
8
COMUNICAÇÃO
INTERNA
Como ela pode
ajudar?
Pesquisadores
investigaram
14
Scia |Claudia Wallin
Escalada de violência
urbana afeta
equilíbrio emocional
de jornalistas e do
blico
12
Ilia |Fernanda Massarotto
O impacto das
condições de trabalho
na saúde mental de
empregados e
freelancers
15
20
Quem decide a
hora certa de
recarregar as
baterias ?
TRAUMA
EXEMPLOS
Campanhas
contra vergonha
e felicidade
obrigatória
27
PALAVRAS
IMPORTAM
Um guia para
evitar linguagem
estigmatizante
24
REDES SOCIAIS
É preciso tirar o so da
sala para proteger a saúde
mental dos jovens ?
22
23
OPINIÃO
Agatha Lulkowska |
Staffordshire University
O esgotamento na
indústria criativa pode
ser evitado?
19
ASSÉDIO DIGITAL
PEN America recomenda
apoio de pares para lidar
com carga emocional sobre
profissionais de mídia
11
CULTURA DO
ATESTADO’
Saúde mental vira
guerra cultural no
Reino Unido
B
3
Sde Mental,
‘pedra angular
nos relatórios
corporativos
ESG
Embora a descrição clássica dos pilares ESG o inclua o
cuidado com a saúde emocional de funciorios, clientes e
consumidores como uma obrigação, iniciativas para promover o
bem-estar mental entraram na agenda das corporações como
parte dos pilares ESG.
Um paper da Deloitte de autoria da consultora canadense Lisa
MacVicar aponta o desafio de recolher dados sobre bem-estar
para os relarios corporativos, mais concentrados em métricas
como lesões e doenças gerais.
Os pilares ambientais, sociais e de governaa de uma
organização impactam diretamente o bem-estar
mental dos funciorios”, afirmou MacVicar.
Entre os exemplos citados estão a discriminão racial, que pode
causar ansiedade e depressão, com efeitos sobre produtividade,
confiaa, satisfação, absentsmo e rotatividade, e as alterações
climáticas, que afetam o bem-estar humano, seja de funcionários
ou da sociedade. A consultora sugere uma mudaa nos
pametros atuais:
“As expectativas de bem-estar no local de trabalho e o papel do
empregador aumentaram. É hora de desenvolver uma linguagem
comum e um conjunto comparável de métricas que possam ser
usadas para relatar a gestão e os impactos ESG”, defende.
Sde Mental nos relarios ESG
ESG
3
O paper completo pode ser visto aqui.
Foto: Tung Nguyen / Pixabay
terceira edição da Pesquisa de Bem-Estar no Trabalho, elaborada
pela consultoria Deloitte, traz a receita para desafios que m crescido
nos últimos anos, como o esgotamento desenfreado dos trabalhadores,
o declínio de sua saúde mental, as ansiedades geradas no local do
trabalho e os eventos climáticos extremos: o investimento na
sustentabilidade humana.
O conceito baseia-se no grau em que uma organizão cria valor para
as pessoas como seres humanos, deixando-as com maior saúde e
bem-estar, compencias mais fortes e maior empregabilidade,
oportunidades de carreira e progresso em direção à equidade, maior
pertencimento e maior coneo com o prosito.
O estudo foi realizado em colaborão com a empresa de pesquisa
Workplace Intelligence e ouviu 3.150 executivos, gerentes e
trabalhadores em quatro países, demonstrando que abraçar a
sustentabilidade humana pode criar um ciclo benéfico no qual a
melhoria dos resultados humanos melhora os resultados
organizacionais e vice-versa.
A principal concluo é que a mudança de uma mentalidade centrada na
extrão de valor das pessoas para uma abordagem centrada na
sustentabilidade humana, que se concentra em ajudar os seres humanos a
prosperar, sejam os funcionários ou os demais públicos de interesse, traz
os seguintes benefícios a longo prazo para pessoas e organizões:
Aumenta a capacidade de atrair e reter uma força de
trabalho diversificada;
Ajuda a desenvolver e envolver os trabalhadores;
Torna os locais de trabalho mais gratificantes e produtivos;
Protege empresas e trabalhadores contra uma variedade de
riscos;
Aumenta o apelo da organização para consumidores e
investidores.
o à toa, a maioria dos executivos (93%) e trabalhadores (88%) concorda
que o objetivo de uma empresa deve ser criar valor o apenas para os
acionistas, mas também para os seres humanos e a sociedade.
A
Leia mais sobre a pesquisa aqui.
No Brasil, pesquisa usou relarios
integrados para eleger as melhores em
práticas de bem-estar emocional
Enquanto parâmetros espeficos não são definidos, informões
contidas nos relatórios integrados podem funcionar como indicadores.
O Anrio da Sde Mental nas Empresas, desenvolvido pelo Instituto
Philos Org e pelo Portal Integridade ESG, classificou a performance de
empresas brasileiras com base em iniciativas declaradas sobre seis
vetores: Programas de Promão da Saúde Integral; Desenvolvimento
de Lideranças e Psicoeducação; Psicologia, Psicoterapia e Psiquiatria;
Meditação, Yoga e Práticas Integrativas; Grupos de Afinidade e Ações
em Comunidade, dias, Canais e Plataformas e Psicometria e Data
Analytics.
Veja as melhores em cada setor
Alain Rosolino
Pessoas em 1º. lugar. Com esse foco, a Enel Brasil
avança no movimento de valorização do indivíduo,
para apoiar seus cerca de 8 mil colaboradores
próprios na busca por equilíbrio entre a vida pessoal
e a profissional.
O Programa Global de Bem-estar da companhia,
hub de iniciativas em prol da saúde sica, mental e
emocional dos profissionais que atuam em seus
negócios no país, tem registrado engajamento
crescente.
A adoção de uma rotina mais saudável, por
exemplo, é estimulada por meio de iniciativas que,
além de cuidar do corpo, contribuem para a
integração de colaboradores e parceiros.
Como Empresa Cidadã”, a Enel também ampliou as licenças
maternidade e paternidade, garantindo 120 dias de licença às
es e 20 dias aos pais. Mais de 150 colaboradores e
colaboradoras se beneficiaram da medida.
Esses profissionais também contam com programas como auxílio
creche, aulio a pais de filhos com deficiência, acompanhamento
da saúde de gestantes, sala de aleitamento e espaço kids.
E para facilitar o relacionamento empresa-colaborador, a
companhia criou o Canal Você, onde é possível obter suporte
psicológico, jurídico, social, financeiro, funerário e previdenciário.
Funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
Em 2023, o canal atendeu mais de 16 mil colaboradores e
familiares. Neste ano, o mero de atendimentos já supera os
10,5 mil.
“Queremos fortalecer os caminhos de empoderamento do
colaborador, com escuta ativa e a cultura do acolhimento,
rompendo a fronteira organizacional e apoiando nossas pessoas
nos mais diversos desafios”, diz Rosolino.
Plataforma de Bem-Estar da Enel engaja colaboradores
com ações para equilibrar vida pessoal e profissional
4
O programa de corrida MovEnel é um destaque. Em 2023, foram
13 provas de rua, com 3.371 participantes. Este ano, foram 9
corridas e mais de 2,4 mil inscritos.
A companhia ainda oferece gistica laboral três vezes por
semana, Shiatsu e assinatura da Wellhub (Gympass), que, este
ano, teve a adesão de quase 40% dos colaboradores elegíveis,
11% a mais que em 2023.
“Nossas iniciativas visam o
equilíbrio entre vida pessoal e
profissional, oferecendo um
ambiente de trabalho mais
flexível”, comenta Alain
Rosolino, diretor de Pessoas e
Organizações da Enel.
Neste sentido, a empresa implementou modelo brido de
trabalho, que prevê jornada remota em 40% dos dias da semana
e 60% presencial, para colaboradores elegíveis.
Programa MovEnel: 9 corridas em 2024, com mais de 2,4 mil inscritos
Conteúdo de marca
Os que informam sobre burnout estão entre
os mais esgotados, mostra estudo do Reynolds
Journalism Institute
Pesquisa
ornalistas têm a miso de mobilizar a sociedade em prol de medidas de combate a
fatores que prejudicam a saúde mental e de conscientizar o público, ajudando a reduzir
o estigma e encorajando a busca de ajuda. Mas e se eles próprios estão precisando de
ajuda?
Um estudo em larga escala sobre burnout nas redões foi publicado em fevereiro de
2024 pelo Reynolds Journalism Institute (RJI), da Universidade de Missouri (EUA).
Foram ouvidos 1 mil futuros, atuais e ex-profissionais de imprensa de 50 estados
americanos.
"The Burnout Crisis in Journalism" examina as razões que levaram ao esgotamento
generalizado na instria de nocias e aponta medidas - algumas simples e sem
envolver investimentos - para reverter a situão, sob a perspectiva dos mais afetados.
As entrevistas foram feitas em outubro e novembro de 2023, com uma amostra
concentrada em profissionais ativos em redações (60%) e entre 18 e 44 anos (56%).
Mas a pesquisa incluiu também gente que já deixou a atividade, um grupo que o
pode ser desprezado na busca de solões, já que muitos desistiram devido ao
burnout.
O RJI salienta que o esgotamento o é apenas um problema pessoal, mas tamm
profissional e social, com potencial de prejudicar a qualidade e a credibilidade do
jornalismo e seu papel na democracia.
O trabalho do instituto reconhece que o burnout sempre existiu na atividade, mas
salienta que ele se tornou mais agudo e complexo nos últimos anos, destacando três
fatores:
Prodão de mais conteúdo em mais plataformas, com menos recursos e
menos seguraa no emprego
Preses e ameas crescentes por parte do blico
Dilemas éticos e morais na cobertura de questões sensíveis e traumáticas
O relatório afirma que o esgotamento atingiu "um
esgio crítico e urgente".
E traduz a crise em números:
J
Como as escolas de comunicação estão
abordando a saúde mental, que embora
o seja uma questão nova na profissão,
ganhou mais relevância e visibilidade
desde a pandemia?
A pesquisa do Reynolds Journalism
Institute descobriu que apenas 6% dos
profissionais em atividade e 3% dos ex-
jornalistas entrevistados foram expostos a
esse tópico em sua formação.
É um reflexo do tempo em que estresse
entre profissionais de imprensa era tratado
como normal.
Sde mental
nas escolas de
comunicação
80 %
84 %
64 %
2 em cada 3
dos entrevistados acham o burnout um
problema sério
dos jornalistas em atividade e 88% dos que
deixaram a profiso admitiram terem sido
atingidos pessoalmente, enquanto mais de
9 em cada 10 relataram ter visto um colega
com esgotamento
dos ex-jornalistas e 43% dos atuais
consideram que a crise de saúde mental
afeta significativamente o jornalismo de
forma generalizada, devido a problemas
como afastamento de profissionais
qualificados e denimo com o trabalho
que deixaram a profissão afirmam
que o esgotamento contribuiu para a
decio
Pelo menos nos EUA a situação está melhorando:
37% dos alunos disseram ter tido aulas
abordando o burnout na profissão.
No entanto, talvez eles ainda não tenham a noção
exata do desafio que os aguarda após receber o
diploma: apenas 53% acham que aprender sobre
o esgotamento mental é extremamente
importante.
entre os professores a consciência é maior: dois
em cada três consideram os ensinamentos sobre o
burnout um benefício para os seus alunos. E 56%
concordam que tal conhecimento teria sido
benéfico para si próprios.
5
Como os bancos estão agindo para
impulsionar boas práticas ambientais de
seus clientes
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Estressado
Mentalmente exausto
Cansado
Exaurido
Sobrecarregado
Pouco reconhecido
Fisicamente exausto
Pressionado
Intelectualmente exausto
Insegurança sobre a capacidade
0 20 40 60 80 100
Fazer mais com menos
Corte de verba
Desconfiança do público
Saída de colegas veteranos
Redes sociais
Saída de colegas jovens
Riscos
Responsabilidades gerenciais
Partidarismo
Tecnologias de distribuição
Tecnologias de apuração
0% 20% 40% 60% 80%
Apaixonado
Realizado
Feliz
Conectado
Esperançoso
Confiante
Motivado
Satisfeito
Valorizado
Enquanto paixão (76%) e realização (72%)
apareceram no topo da lista de sentimentos
positivos, refletindo o senso de missão dos
profissionais de imprensa, "valorizado" e
“satisfeitofiguram empatados em último
lugar (56%) quando a pergunta refere-se a
todo o tempo de carreira.
Quando a pergunta mudou para os últimos
90 dias, o sentimento menos experimentado
é "satisfação".
Os jornalistas americanos revelaram a extensão do esgotamento quando apontaram quantas vezes experimentaram sensões
geralmente associadas a problemas de saúde mental, em qualquer momento da carreira. Os dados o semelhantes a pesquisas com
outras atividades, como carreira executiva e até esportiva.
Sentimentos negativos e positivos
O estudo do Reynolds Journalism Institute detalha as percepções dos
profissionais sobre a atividade e como elas estão relacionadas à crise
de burnout. O enxugamento das equipes emerge como o maior vilão, e
o acontece apenas no jornalismo, mas em todo o mundo
corporativo, devido a demises em massa em vários setores.
Ao serem perguntados sobre o que mais contribui para a erosão do
sentimento de confiança no trabalho, para a dificuldade de produzir
bom jornalismo e para o risco de burnout, a obrigão de "fazer mais
com menos" foi a causa principal, com 87%, seguida de perto por
"corte de budget", com 85%.
Mais da metade dos entrevistados (53%) se disse pessimista com o
jornalismo. Os bem jovens (incluindo os estudantes) eso mais
positivos. Na faixa entre 18 e 24 anos, apenas 36% expressaram
pessimismo.
Erra quem pensa que os mais desanimados com a profiso o os
veteranos. Excetuando-se os que deixaram a atividade, os mais
pessimistas (63%) são os jornalistas em meio de carreira, de 25 a 34
anos. Entre os que m 35 a 54 anos, a taxa é de 55%.
Velhos e novos motivos para o burnout
Estressado, mentalmente exausto,
cansado, exaurido e sobrecarregado
aparecem no topo da lista de sentimentos
negativos, com taxas acima de 80%.
Um percentual significativo disse duvidar
de sua própria capacidade de fazer bom
jornalismo, o que pode explicar por que
dois em cada três ex-profissionais
afirmaram que o esgotamento contribuiu
para o abandono da profissão.
% % % % %
6
Fonte: RJI
Fonte: RJI
Fonte: RJI
Pesquisa
As cinco áreas mais votadas eso relacionadas à flexibilidade na escala
de trabalho, mudaas na cultura da redão, pticas de gestão -
incluindo responsabilidades e tempo dedicado a coberturas -, tempo
livre, férias e benefícios.
O Instituto observa que o existe solução única para todas as redações
ou jornalistas, mas salienta que o estudo serve como ponto de partida
baseado em vincias reais para ser considerado pelos tomadores de
decio nas empresas ou em suas equipes.
Camisa distribuída em
Dubai pela delegação de
Belém
O burnout dos jornalistas é diferente?
Ao contrário de outras profissões, o que torna o jornalismo
diferente é que é muito público. Todos os triunfos, mas
também todos os erros,o bem visíveis. Isso contribui
para o aumento da intensidade das emoções positivas e
negativas.
Um jornalista pode ficar entusiasmado em cobrir uma
pauta porque acha que poderá obter reconhecimento por
isso. Mas também fica mais preocupado com os
desdobramentos de uma matéria.”
Ela acrescenta ainda o peso de ter que lidar com o público pelas redes
sociais e a conexão permanente com notícias.
Tudo isso provoca ansiedade, frustração e estresse, que não são ainda
plenamente compreendidos.
Parece que não permitimos que os jornalistas sejam humanos.
Achamos que eles deveriam pairar sobre tudo, que deveriam
apenas encolher os ombros, seguir em frente e desenvolver
uma casca mais grossa.
Maja Šimunjak,
jornalista e professora
dicos, policiais, pilotos de avião e executivos estão entre os
profissionais submetidos a altos níveis de estresse, assim como
profissionais de imprensa e de comunicação.
Mas os fatores que levam ao burnout não são os mesmos, segundo a
jornalista croata Maja Šimunjak, que hoje leciona na Middlesex University
(Reino Unido).
Autora de Managing emotions in journalism: a guide to enhancing
resilience (Administrando emoções no Jornalismo: um guia para aumentar
a resiliência), ela apontou diferenças em uma entrevista sobre a obra para
o Instituto Reuters.
As ideias apontadas pelo Reynolds Journalism
Institute para mover a engrenagem
O
Reynolds Journalism Institute aponta um conjunto de soluções para o
burnout na imprensa, com base na opino dos jornalistas entrevistados, e
que podem ser extrapoladas para qualquer organizão.
"Falar sobre o problema de burnout nas redações ajuda, mas tentamos
encontrar solões viáveis que possam comar a mover a engrenagem e
mitigar o problema", disse Randy Picht, diretor do Reynolds Journalism
Institute.
Os pesquisadores analisaram ões para administrar o esgotamento de
jornalistas em curso em diversas redações e também práticas adotadas
em outros setores que enfrentam desafios semelhantes, como socorro a
emerncias e medicina intensiva.
Eles fecharam então uma lista com dez solões, e cada respondente da
pesquisa pôde escolher duas delas para discorrer de forma mais
aprofundada.
O estudo destaca que a intenção não foi "repetir o óbvio" que muitas
respostas abertas apontavam (contratar mais funciorios, pagar melhor),
mas sim identificar medidas que os deres podem implementar nas
redações de forma mais imediata, sem necessariamente envolver
investimentos.
Soluções
O relatório completo pode ser visto aqui.
Randy Picht, diretor do
Reynolds Journalism Institute
7
A mídia ainda
não encontrou
um lugar de total
conhecimento
sobre saúde mental”
O consultor lio Bilate, que deixou a carreira
corporativa para apoiar empresas e executivos em
cultura organizacional, convive de perto com causas e
efeitos do burnout no universo empresarial há vários
anos.
Ele com preocupação o impacto da pandemia sobre o
mundo corporativo, que em sua opinião provocou uma
enorme perda de todos os tipos de equilíbrio: físico,
mental, espiritual e emocional.
Entrevista
NÉLIO BILATE| Consultor
Legado da pandemia
A pandemia fez aflorar a depressão e a ansiedade, situação
agravada pelo Teams. As pessoas perderam a noção de
tempo e as referências sobre como dividir o dia entre trabalho
e vida pessoal. Ela abriu um lugar de raiva, desespero, revolta
e frustração.
E deixou como um dos legados a descoberta de que se pode
trabalhar de casa, ou mais ainda, de qualquer lugar para
qualquer lugar. Isso mudou o conceito de trabalho e de
permanência.”
O fim da pandemia gerou muita insegurança, com pessoas
o querendo mais trabalhar com determinados colegas,
porque tomaram consciência de que faziam mal a elas.
Então muita gente saiu, viajou, foi para o interior, encontrou
outro caminho de trabalho, mudou de país ou desistiu do
que estava fazendo em busca de um modelo mais flexível.
Para muitos, o objetivo deixou de ser a empresa, e sim juntar
recursos para realizar sonhos, como viajar de veleiro
durante um ano. Os objetivos mudaram.
Mudando de vida por mais saúde mental
O esgotamento que leva muitos executivos a deixarem o cargo é
do sistema em si. O mundo corporativo ainda é muito
hierárquico, compartimentado em feudos. As conversas não
existem mais no nível que a gente gostaria.
Tem companhias que não falam mais sobre os clientes, nem
sobre o consumidor, diante de tantos problemas internos para
resolver.
Esse esgotamento mental está ligado também ao excesso de
reuniões, comitês, viagens, um workload desumano.”
Workload ‘desumano’
Geração Z e trabalho remoto
Muitas pessoas, sobretudo jovens da Geração Z, não querem
mais se relacionar, não querem estar num local de trabalho.
Eles escolhem empresas com regimebrido mais forte ou
100% virtual. Por isso, as empresas estão tendo dificuldade
para contratá-las.”
A mídia aindao encontrou um lugar de total conhecimento
sobre o tema saúde mental. Minha impressão é de que vai
sempre para dois lados extremos: ou muito espiritualizado, ou
muito sobre a patologia, uma abordagem pelos aspectos
psiquiátricos.
E está se falando pouco sobre o fundamento disso, que es
no autoconhecimento, em como as pessoas enxergam a vida.
Acredito ser uma abordagem rasa, e a linguagem tambémo
é acessível, com muitos termoscnicos. Outro aspecto que
vejo é a tendência de apontar as empresas como únicas
responsáveis. A questão é muito mais ampla.
Saúde mental na mídia
8
Adotar práticas que promovam aspectos ambientais, sociais e de
governança deixou de figurar apenas nos discursos e nas intenções do
mundo corporativo. Criado em 2004 em relatório divulgado pelo Pacto
Global da ONU (Organização das Nações Unidas), o termo ESG figura cada
vez mais na agenda de empresas dos mais diversos segmentos, instadas
por consumidores, colaboradores e opinião blica a avançar na
construção de corporões mais inclusivas e responsáveis.
Embora o "H" de "health" não faça parte da sigla ESG, considero cada vez
mais urgente incluir a saúde como pauta fundamental nessa agenda. Em
especial, a saúde mental - cuja importância cresceu significativamente
desde a pandemia. Dados do Ministério da Previdência Social revelam uma
realidade preocupante: na comparação com 2022, em 2023 aumentou
38% a concessão de benefícios por incapacidade devido a transtornos
mentais e comportamentais no Brasil.
Em abril de 2021, quando ainda vivíamos cercados por incertezas e
temores relacionados à Covid-19, a InPress Porter Novelli idealizou o
Movimento Mente em Foco, junto ao Pacto Global da ONU -- Rede Brasil --
com endosso da Sociedade Brasileira de Psicologia. A iniciativa convida
organizações empresariais a agir de maneira efetiva em favor da saúde
mental de seus colaboradores e por um ambiente de trabalho sem
estigmas, posicionando o tema como prioridade para as empresas
signatárias do movimento.
A pesquisa completa pode ser vista aqui.
Comunicação interna
por ROBERTA MACHADO
CEO da InPress Porter Novelli
o cerca de 90 companhias participando do Movimento, que
oferece conhecimento gratuitamente para os signatários. Workshops
temáticos, mentoria coletiva e encontros para intercâmbio entre as
empresas são as principais ações. Os signatários contam ainda com
um guia prático, com recomendações para a construção de um
ambiente de trabalho psicologicamente seguro, além da Comunidade
Mente em Foco, um canal de dlogo e troca de informações entre as
lideranças comprometidas com a iniciativa.
Capacitar pessoas de diferentes veis hierárquicos e áreas a
promover coletivamente o bem-estar mental nas empresas é um dos
grandes desafios atuais, e políticas blicas já começam a surgir
neste sentido.
Recentemente, foi sancionada a Lei 14.831, que oferece um
certificado do Governo Federal a empresas que adotem critérios de
promoção da saúde mental e do bem-estar aos seus colaboradores.
O Movimento Mente em Foco está de portas abertas para novas
companhias signatárias. A meta é chegar a 2030 com mil empresas
participantes, a fim de impactar positivamente 10 milhões de
trabalhadores.
Saúde mental em foco
um pilar essencial na agenda ESG
*Roberta Machado é CEO da InPress Porter
Novelli, maior agência de comunicação
corporativa do Brasil voltada para o mercado
privado
efeito da comunicação interna sobre a melhoria da saúde mental de
funcionários foi o tema de um estudo feito por pesquisadores da
Universidade da Flórida.
Publicado no periódico International Journal of Business Communication
em 2022, o trabalho avaliou a eficácia da comunicação vertical formal
empresa-funcionário e de programas destinados a facilitar as trocas
horizontais entre pares no período da pandemia.
Ambos desempenham um papel vital no cultivo da confiança dos
funcionários na organização, o que se reflete no bem-estar geral e no
engajamento, de acordo com a pesquisa.
“Abertura, compreensão, capacidade de resposta e comunicação
bidirecional contribuem para uma relação de confiança”, concluíram os
pesquisadores.
No entanto, eles não encontraram uma relação estatisticamente
significativa do efeito da comunicação vertical sobre a saúde mental.
os mecanismos que proporcionam comunicação horizontal entre
colegas de trabalho demonstraram-se efetivos na melhoria do bem-
estar psicológico, disseram os pesquisadores.
Uma das explicações é a de que os funcionários sentem mais conforto
ao revelar seus sentimentos e procurar apoio entre colegas, pois
compartilham um vínculo comum em uma conexão mais próxima.
Os autores apontam que esse tipo de comunicão é percebido como
mais autêntico e se tornou ainda mais importante em tempos de
trabalho remoto ou híbrido.
Eles recomendam que os gestores de comunicação atuem na criação
de meios que permitam a construção de relacionamentos entre pares
como ferramenta para a melhoria da saúde mental nas empresas.
“A importância da comunicação entre pares não pode ser
negligenciada, uma vez que as organizações prosperarão quando os
funcionários construírem uma ligação forte entre si”, diz o estudo.
Confiança na organização e apoio entre pares: as
contribuões da comunicação interna
9
O
Conteúdo de marca
A pesquisa completa pode ser vista aqui.
Assim como nos anos anteriores, a carga de
trabalho continua a ser a principal causa de
estresse entre os RPs britânicos, bem como uma
das principais raes apontadas pelos
profissionais como barreira para tirar licença para
tratar da saúde mental.
A novidade é que pela primeira vez o estresse
provocado pelas mensagens figura na pesquisa
como um fator relevante para o esgotamento.
Mensagens 24x7, peso para os RPs
Segundo o estudo, a razão provável é o efeito combinado do
aumento da carga de trabalho e do trabalho híbrido,
normalizando o acesso a mensagens profissionais pelos
dispositivos pessoais.
Embora isso incremente a produtividade, também pode
limitar a capacidade de manter um equilíbrio sauvel entre
vida pessoal e profissional e deve ser sempre considerado
uma opção e não um requisito, recomenda a pesquisa.
A mudança para o trabalho
flexível tem sido um passo na
direção certa. Mas devemos
continuar a explorar formas de
otimizar os ambientes
dosticos e de escritório para
promover o bem-estar mental.”
Q
Camisa distribuída em
Dubai pela delegação de
Belém
Relações Públicas
uem deixou o ambiente muitas vezes caótico das redações
para trabalhar em empresas ou optou diretamente pela carreira
em comunicação organizacional para fugir do estresse do
jornalismo pode ter trocado seis por meia dúzia.
É o que sugere uma pesquisa feita pelo Chartered Institute of
Public Relations (CIPR) e pela Public Relations and
Communications Association (PRCA) do Reino Unido.
A Auditoria de Bem-Estar Mental no Local de Trabalho
2023/2024, divulgada em maio, revelou que um terço dos
profissionais de relações blicas entrevistados são atualmente
diagnosticados com um problema de sde mental.
A auditoria tamm constatou que 91% dos profissionais de RP
tiveram problemas emocionais em algum momento do ano
passado, com 58% citando a carga de trabalho como um fator
significativo.
A taxa foi superior à da média dos trabalhadores brinicos, dos
quais 63% disseram ter tido problemas emocionais em 2023.
O trabalho remoto despontou como elemento positivo: 60% dos
entrevistados disseram que ele proporcionou melhoria em seu
estado emocional, e 81% relataram equilíbrio maior entre vida
pessoal e profissional.
Além do equilíbrio, no Reino Unido um benefício ecomico,
que contribui para o bem-estar.
Muitos executivos deixaram a vida cara de Londres para morar
em cidades menores, porém facilmente acesveis por
transporteblico. Nesses locais o custo de vida é menor e
falias conseguem morar em casas amplas, contando com
escolas de qualidade para os filhos e sem precisar passar horas
em tnsito para chegar ao escritório nos dias de trabalho
presencial, como nas grandes cidades do Brasil.
Pesquisa sobre saúde mental dos RPs britânicos
constata benefícios do trabalho remoto
29%
58%
tiraram folga quando apresentaram
problemas de saúde mental, em
comparação à média de 41% dos
trabalhadores do país que o fizeram
não falaram a ninguém sobre o problema
não tiraram folga por não achar o problema
severo o suficiente para justificar
afastamento
citaram a carga de trabalho como
“esmagadora” e principal fonte de estresse
avaliam seus níveis de estresse na faixa de 8
a 10 (sendo 10 extremamente estressante)
ALASTAIR McCAPRA | CEO CPRI
o devemos aceitar
que o estresse tenha o
direito de ser parte
integrante da cultura de
relações públicas.”
JAMES HEWES | CEO PRCA
10
O estresse dos RPs em números
51%
50%
22%
ma entrevista do eno Secrerio Nacional de Trabalho
britânico Mel Stride ao jornal conservador Daily Telegraph, em
mao, antecipou o que semanas depois viraria proposta oficial
do governo: combater a chamada "sick note culture" (cultura
do atestado) a fim de reduzir afastamentos do trabalho por
saúde mental.
Segundo o Secrerio, a ptica teria ido "longe demais", com
ansiedades normais da vida tratadas como doença.
Na época, a Mind UK, principal ONG no campo da saúde
mental do país, divulgou um posicionamento criticando a fala
pelo risco de aumentar o estigma.
o surtiu efeito. Semanas depois, para justificar a proposta de
corte de benecios, o primeiro-ministro Rishi Sunak formalizou
a posição em um programa de governo, dizendo que
“dificuldades normais da vida" não devem ser objeto de
medicação excessiva, e que trabalhar pode ajudar em vez de
atrapalhar a recuperação dos quem problemas emocionais.
Ele pode ter rao em alguns casos, em outros o. Com o
novo governo Trabalhista, a ideia já morreu.
Mas a posição de Sunak repercutiu na dia e nas redes
sociais, dando argumentos a quemo acredita no poder
devastador da doea mental, que leva pessoas ao suidio em
escala cada vez maior.
Reino Unido, por LUCIANA GURGEL
O risco de aprofundar preconceitos deveria ser pesado por
autoridades em seu discurso blico - e contido por seus
assessores de comunicação.
A dia reproduz as falas. Vculos de imprensa e vozes
conservadoras tiram partido delas para defender a tese de
que doença mental é frescura da turma "woke"
(politicamente correta no mau sentido) que não quer
trabalhar.
Palavras importam em um país que viu crescer em 6% a taxa
de suidios desde 2022. Onde a adolescente Molly Russel, de
14 anos, virou mbolo da luta contra o suicídio infantil depois
de tirar a vida em 2018, sem sinais de estar sofrendo da
doença silenciosa que afeta milhões de pessoas.
Em casos assim, o "bothsidesism" da imprensa - a ptica de
ouvir os dois lados -o é suficiente para neutralizar o efeito
da fala de um governante.
É um exemplo a o ser seguido por deres - empresariais,
poticos, esportivos ou de qualquer outro ramo que influencie
a opino de pessoas, inclusive dentro de suas organizões.
Nesse tema, goste-se ou o de Harry e Meghan, eles fizeram
bem à causa da aceitação da saúde mental no Reino Unido ao
verbalizaram o sofrimento. Há quem diga que foi exagero ou
jogada de marketing na guerra de relações públicas com a
realeza.
Mesmo que tenha sido, prestou um servo maior para ajudar
a quem tem problemas emocionais do que a fala oposta, do
der do governo, minimizando doenças como “dificuldades
normais da vida”.
Isso pode explicar por que o casal é o popular entre a
população brinica mais jovem, justamente a mais afetada -
ou a que mais admite ser - por doenças mentais.
O perigo de minimizar problemas de
saúde mental por convenncia política
'Cultura do atestado'
Políticos e comentaristas devem
escolher suas palavras com cuidado,
para que possamos abordar a crise
de saúde mental e melhorar as coisas
sem dar o enorme passo ats que
corremos o risco de dar.
SARAH HUGHES | MIND UK
U
11
Na Suécia, escalada da violência
urbana afeta bem-estar emocional
de jornalistas e doblico
“A partir de estudos e da nossa própria experiência,
sabemos que a cobertura de eventos e picos difíceis
podem ocasionar trauma nos jornalistas. É
extremamente importante que os empregadores sejam
responveis em relão a isso, e que estabeleçam
procedimentos adequados para lidar com essas
situões”, diz Ulrika Hyllert, presidente da Federação
Nacional dos Jornalistas da Suécia
(Journalistförbundet).
Medidas simples, como apoio e acompanhamento dos
jornalistas nas coberturas de maior complexidade que
podem provocar trauma, representam muito, defende.
“Esta é uma questão que, no passado, tinha pouco
espaço nas redações suecas. Hoje, cada vez mais vemos
que o tema da sde mental deixa de ser um tabu,
embora ainda haja muito a ser feito”, afirma Hyllert.
“A vioncia que vemos hoje na Suécia afeta a sociedade como um todo. Aqueles que
vivem nas áreas mais conturbadas por tiroteios e exploeso impactados pela
ansiedade e pelo medo, e muitos se mudam para outras reges. A vioncia influencia
a saúde mental e também os resultados escolares de crianças que crescem sob estas
circunstâncias”, disse Manne Gerell, professor de Criminologia da Universidade de
Malmö, em entrevista à TV blica SVT.
O governo de coalizão de centro-direita, eleito em 2022, acredita que o aumento da
violência praticada por gangues criminosas está diretamente relacionado às políticas
de imigrão de governos anteriores. A 2016 a Scia tinha uma das mais generosas
leis de imigrão da Europa.
CLAUDIA WALLIN
Scia, por
ara estupefação de todos, a antes segura e pafica Scia se transformou em uma
escie de capital europeia do crime organizado: tiroteios e explosões mergulham
boa parte da população em um transe coletivo de medo, ansiedade e inseguraa. A
violência passou a ocupar um espaço nunca visto na mídia.
Gangues de tráfico de drogas se reproduzem como lulas, e o índice de mortes por
armas de fogo na Suécia é hoje o segundo maior da Europa - ats apenas da
Alnia.
Na última década, a ocorncia de tiroteios com timas fatais mais do que triplicou
nesta nação de dez milhões de habitantes. Em 2022, foram registrados 391, com 62
timas fatais. Em 2023, a Scia teve nove vezes mais casos de tiroteios fatais do
que as vizinhas Noruega, Dinamarca e Finlândia juntas.
A violência, concentrada antes em áreas mais vulneveis, atinge hoje surbios
antes tranquilos das cidades grandes e também cidades menores.
Gangues atacam resincias de rivais com dinamite e granadas de mão: no ano
passado, foram registradas 139 explosões no país.
“Estamos lidando com organizões criminosas altamente violentas que desafiam a
sociedade e que silenciam timas, ameaçam cidadãos, fraudam idosos e o Estado
de Bem-Estar social, e que já se infiltram no Poder blico e nos partidos políticos”,
definiu o ministro da Justa sueco, Gunnar Stmmer.
Criaas de bairros menos favorecidos são recrutadas como ‘soldadosde
criminosos, que empurram cada vez mais jovens para o crime.
Em abril, equipes de TV transmitiram ao vivo seus telejornais da cena de mais um
crime que chocou o país: um pai que levava o filho de 12 anos para uma piscina
blica em um subúrbio de Estocolmo foi baleado no rosto, ao ser abordado por um
grupo de adolescentes. O homem morreu diante do filho.
A dia sueca nunca especifica a etnia ou a
nacionalidade do autor de um crime: um criminoso é um
criminoso, independentemente de sua origem, religião
ou grupo étnico. A polícia é orientada a o informar a
nacionalidade de um criminoso, a fim de não estabelecer
nculo entre um crime e um grupo étnico e evitar o
racismo na sociedade.
Especialistas apontam, no entanto, para um quadro
muito mais complexo, em que as áreas mais afetadas
pela criminalidade têm um pado de vida inferior ao do
restante do ps.
Um país sob tensão
Ulrika Hyllert
Foto: Tor Johnsson/Journalistförbundet
P
12
Tem sido
deprimente
escrever
sobre garotos
arrastados
para o crime
O
jornalista e autor Lasse Weirup, um dos nomes mais conhecidos da cobertura
criminal na Scia, conta que tem sido deprimente acompanhar a espiral de violência.
Rerter especial do jornal Dagens Industri, ele tamm escreveu seis livros sobre o
crime organizado no país.
A violência tem afetado a sociedade, que se sente cada vez mais insegura. O crime
organizado continua a se expandir, e a incapacidade do governo de combater o
problema tem sido a queso principal do debate potico na Scia faz anos.
Dentro das principais redações, na avaliação de Weirup, o apoio a jornalistas no tema
da sde mental vem sendo satisfatório:
Todas as empresas jornasticas para as quais trabalhei desde a década de 90,
assim como a atual, têm uma boa compreensão sobre a necessidade de apoiar seus
jornalistas em termos da preservação de uma boa saúde mental, e sempre atuaram
de maneira responvel em relação ao bem-estar de sua equipe.
Nunca soube de nenhum caso de neglincia em situações nas quais rerteres e
fografos necessitaram de apoio.“
É dicil dizer, segundo ele, em que vel os jornalistas em geral m sofrido o impacto
da cobertura da vioncia, mas ele acredita que isso depende em grande parte de
como os jornalistas estão envolvidos na cobertura, e a que ponto mergulham a fundo
nas investigações.
Pessoalmente, para ele tem sido um desafio:
É deprimente escrever sobre como garotos, cada vez mais novos, têm sido
arrastados para o mundo doentio do tráfico de drogas, dos tiroteios e dos ataques a
bomba.
Como todos os suecos, sinto-me fortemente afetado pelo fato de que tantas pessoas
inocentes têm sido mortas, tantas outras m tido suas casas destruídas. E,
principalmente, pela sensação crescente de insegurança.“
Na redação da rádio pública sueca Sveriges
Radio, ao ser contactado pelo MediaTalks
por telefone, um repórter policial pede para
falar sob a condição de anonimato.
Sua fala reflete opinião semelhante à de
Lasse Weirup.
A criminalidade é um fenômeno
relativamente recente em nossa
sociedade, e todos experimentamos
ansiedade e desconforto com essa
situação.
Não cheguei ao ponto de me sentir
especialmente impactado devido ao meu
trabalho.
Mas sei de colegas que também fazem a
cobertura das notícias de crime, e que, ao
presenciaram cenas chocantes de morte e
cadáveres, foram contactados pela
chefia, que ofereceu pronto apoio àqueles
que necessitassem.”
A mídia sueca tem noticiado
exaustivamente os efeitos da onda de
violência na sociedade, diz ele. “Mas não
especialmente sobre o que este fenômeno
representa em termos da saúde mental da
população”, acentua.
Entrevista |
LASSE WEIRUP,
Jornalista, Dagens Industri / Scia
O apoio das
chefias
por , Scia
CLAUDIA WALLIN
Lasse Weirup
Foto: Bonnierförlagen
13
jornalismoo acaba no ponto final,
mas muitos jornalistas nos Estados Unidos
andam pensando em colocar um ponto
final no jornalismo como profissão.
Em um levantamento feito pela Hussman
School of Journalism and Media, 72%
dos respondentes afirmaram terem
cogitado abandonar a carreira por terem
sofrido algum tipo de burnout, seja ele
pessoal ou profissional – uma linha sempre
borrada nessa carreira.
O descontentamento generalizado é
justificado pela precarização do ofício, que
está, na maioria dos casos, mal
remunerado e cada vez mais exigente.
Para entender melhor o abismo da
precarização do jornalismo nos Estados
Unidos, basta olhar para o aumento da
distância que separa um repórter de um
relaçõesblicas no país.
Em 2001, para cada dólar pago a um RP,
pagava-se 71 centavos de dólar a um
repórter.
Agora, para umlar pago a um
especialista de relações públicas, paga-se
apenas 61 centavos de dólar a um
repórter.
Ainda nesta questão da precarização, vale
lembrar que a ascensão do jornalismo
digital e a consequente queda nas receitas
de publicidadem levado muitos veículos
de comunicação a adotar práticas de
trabalho cada vez mais desgastantes.
Breaking up with the news:
maioria dos jornalistas americanos
já pensou em largar a profissão
Outro fator crucial que contribui para o
aumento do burnout entre jornalistas é a
polarização política e ideológica que permeia o
cenário midiático contemporâneo.
Em um mundo onde os limites entre fatos e
opiniões muitas vezes se confundem, os
jornalistas enfrentam a difícil tarefa de manter
a imparcialidade e a objetividade em meio a
pressões políticas e ideológicas.
A ascensão de figuras políticas polarizadoras,
como o ex-presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, desencadeou um ambiente de
hostilidade e desconfiança em relação à
imprensa.
Sim, mas é preciso que
alguém pague a conta da
energia.
O burnout entre jornalistas é
um problema multifacetado
que requer uma abordagem
holística e colaborativa.
Para combater esse mal, é
essencial que as empresas
dedia adotem políticas
que promovam o bem-estar
e a saúde mental de seus
funcionários, como a
implementação de
programas de apoio
psicológico e a redução da
carga de trabalho.
Polarizão e guerras culturais: o efeito Trump
Há luz no fim do túnel?
O
Jornalistaso frequentemente alvos de
ataques verbais e até mesmo físicos por parte
de grupos políticos e movimentos
extremistas no país, o que gera um clima de
insegurança e ansiedade.
Além disso, a constante exposição a
conteúdos violentos, perturbadores e
emocionalmente desgastantes tem se
demonstrado capaz de causar impacto
significativo na saúde mental dos jornalistas.
Nessa linha, a cobertura de eventos como
desastres naturais, atentados terroristas e
conflitos armados destaca-se como motor
para o estresse pós-traumático nos EUA.
O cenário éo grave que,
em 2023, a perda de jornais
locais aumentou para uma
dia de 2,5 por semana,
contra dois por semana no
ano anterior. Houve mais de
130 fechamentos ou fusões
de jornais no ano passado.
Desde 2005, os EUA
perderam quase 2,9 mil
jornais locais.
Ignorar a relevância e o
papel do jornalzinho de
bairro sobre uma
comunidade, por exemplo, é
renegar a lição mais certeira
ensinada pelo escritor russo
Leon Tolstoi:
“Se queres ser universal,
começa por pintar a tua
aldeia.”
Além disso, é fundamental
que a sociedade reconheça o
valor do jornalismo
independente e apoie os
profissionais da mídia em sua
busca pela verdade e pela
transparência.
Quem mais sofre com
orçamentos enxutos são
empresas locais de
jornalismo, que quase não
atraem grandes anunciantes
e contratos.
EUA, por ELOÁ ORAZEM
14
Alessandra Costante, Federação
Nacional da Imprensa Italiana
onia, 32 anos, sempre sonhou com
uma carreira no jornalismo.
Mas hoje ela tem de se desdobrar para
realizar o que chama de "trabalhos extras"
como freelancer para pagar as contas.
Este é um dos percalços enfrentados por
quase 40% dos colegas de Sonia.
As preocupações da categoria na Itália são
variadas: pressão por parte dos chefes
para reportar rapidamente as "breaking
news", horas intermiveis dentro da
redação, uma ínfima remuneração e o
consequente esgotamento físico e mental.
O problema virou outro grande vilão, ao
lado de baixa remuneração e instabilidade
no emprego.
Ilia, por
FERNANDA MASSAROTTO
O impacto das condições de
trabalho na sde mental
"As empresas deveriam oferecer mais autonomia,
respeito e flexibilidade aos seus empregados, além
de permitir que passem mais tempo com a falia,
com amigos ou simplesmente praticando um
esporte", diz a jornalista científica e escritora Eliana
Liotta.
Colunista do jornal Corriere della Sera e autora de
rios best-sellers sobre saúde e bem-estar
voltados para o público, ela acaba de lançar "La vita
non è una corsa: Le quattro pause che fanno
guadagnare salute e giovinezza" (A vida não é uma
corrida: As quatro pausas que fazem ganhar sde e
juventude).
Junto com especialistas da Universidade e do
Hospital San Raffaele de Milão ( neurocientistas,
endocrinologistas, gastroenterologistas,
psicólogos,dicos do sono e fisiatras), Liotta
aponta no livro quatro pausas fundamentais:
A vida
não é
uma
corrida
Pausas da natureza, ditadas pelos
nossos biorritmos, do sono à
respiração profunda e rápida
Pausas para reduzir a velocidade do
pensamento, procurando equilíbrio
entre trabalho e vida privada,
desconectando de dispositivos
eletrônicos e atuando em causas
como o voluntariado
Pautas sentimentais, que constroem
e fortalecem nossos nculos com os
outros
Pausas inegociáveis e muito pessoais
que proporcionam sensação de bem-
estar
"A crise no setor editorial é real e profunda. E
o é mais um tabu dizer que vivemos sob
constante estresse. Culpa de uma profissão
com um ritmo frenético e extenuante", afirma
Alessandra Costante, secretária-geral da
Federação Nacional da Imprensa Italiana
(FNSI).
"Exigir melhores salários, compromisso
dos grupos editoriais e fazer com que a
informação não seja delegada a um
algoritmo faz parte de nossa luta diária
para o bem-estar físico e mental dos
colegas", diz Costante.
Eliana Liotta acredita que assistência psicológica é
fundamental e quase obrigatória.
“O estresse crônico produz um estado inflamatório
generalizado em nosso corpo que é a base de
inúmeras patologias”, observa ela, que aconselha
exposição ao sol por alguns minutos ao dia, atividade
sica, socialização com amigos e familiares e
sobretudo se desconectar dos aparelhos eletnicos.
Os primeiros passos em relação à saúde
mental dos repórteres e editores
italianos já estão sendo dados.
A Casagit, fundo de saúde da categoria,
desenvolve um estudo sobre o tema e
em breve colocará em prática um
serviço de consultoria e apoio psicológico
dentro e fora das redações.
E entrou em vigor um acordo preliminar
com o Cnop (Conselho Nacional de
Psicólogos), que oferece aos jornalistas
inscritos na Casagit um desconto de 20%
para sessões de psicoterapia e psicologia
com profissionais conveniados.
A batalha por novos contratos, garantia de
emprego e as ameaças representadas pelo uso
da IA no jornalismo estão na pauta do FNSI.
S
15
Regulamentar IA
é absolutamente
essencial
Pesquisa examina estado
emocional dos
freelancers italianos
Alice Facchini | IrpiMedi
87% dos jornalistas freelancers afirmaram estar sob estresse
73% relataram ansiedade
68% disseram sentir sensação de inadequação
62% acreditam que seria útil ter acesso a um tratamento psicológico
Mais da metade disse conviver com a insônia
50% gostariam de participar de grupos de ajuda mútua.
Um em cada dois relatou solidão e a sensação de não ser compreendido
42% afirmaram sofrer de síndrome de burnout, ter ataques de raiva e serem
viciados em internet e redes sociais
Um em cada três falaram explicitamente sobre “depressão”
28% relataram perda de apetite ou abuso alimentar
27% disseram ter ataques denico
26% relataram dificuldade em iniciar e manter relacionamentos
15% afirmaram ter experimentado transtorno de estresse pós-traumático
Apenas 2% afirmaram nunca ter vivido nenhum destes problemas
Como você se sente?
ens sana in corpore sano ("mente em corpo são"),
uma citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano
Juvenal, vem se tornando um bandeira da classe
jornalística.
A insegurança no ambiente de trabalho é um tema queo
é restrito às redações, e com certeza, acaba impactando a
saúde mental dos jornalistas.
Estresse, depressão, ataques de pânico e até insônia são
alguns dos transtornos reportados em uma pesquisa
intitulada "Como você se sente?", conduzida por Alice
Facchini, da IrpiMedia, uma revista independente de
jornalismo investigativo italiano, em dezembro passado.
Foram entrevistados 588 jornalistas freelancers e
autônomos de toda a Itália.
"Não é de estranhar que a precariedade traga como
consequência ansiedade, distúrbios mentais e baixa auto-
estima", confirma Alice Facchini, autora do pesquisa.
O ato de reportar aos superiores e colegas o próprio estado
emocional é visto como fraqueza e imaturidade. Muitos
preferem sofrer em silêncio a colocar em risco a posição,
mesmo que precária, completa ela.
Freelancers
M
por
, Ilia
FERNANDA MASSAROTTO
A associão romana Mens Sana, que reúne psicólogos,
psiquiatras e assistentes sociais, recomenda que a mídia
"escolha" melhor os termos ligados à saúde mental para reduzir
o estigma, e que o foco seja o indivíduo.
O psiquiatra Marco Paolemili explica que é mais adequado dizer
que uma pessoa sofre de esquizofrenia do que classificá-la de
esquizofnica.
16
Matto’, drogato, folle
diversos tipos de patologias, e quando possível, é melhor escrever
sobre o diagnóstico e não o distúrbio: ‘João foi diagnosticado com
transtorno bipolar’ e não ‘João tem um problema mental’", orienta.
O importante é não utilizar linguagem pejorativa como louco, doido e até
drogado (matto, folle e drogato) e evitar palavras como sofrimento etima
(sofferenza e vittima).
Salário, confiança
e acúmulo de
funções: os fatores
de estresse dos
jornalistas locais
Entrevista |
ELIZABETH THOMPSON,
Hussman School of Journalism and Media
uitos problemas que levam jornalistas ao esgotamento são
universais e afetam profissionais de redações de todos os tipos e
tamanhos, empregados ou freelancers, como falta de equilíbrio entre
vida pessoal e profissional e de apoio dos chefes.
Mas há alguns que atingem de forma mais acentuada os que
trabalham em jornalismo local, um segmento apontado como “em
vias de extinção”. E isso afeta a sociedade, privada de receber
notícias de suas localidades de forma independente e de contar com
o escrutínio da imprensa sobre os atores sociais.
A jornalista americana Elizabeth Thompson é pesquisadora do Centro
de Inovação e Sustentabilidade na Mídia Local da Hussman School
of Journalism and Media e estudiosa do tema.
Depois de uma carreira em redações, ela se dedica agora à busca de
soluções para reverter o que ficou conhecido nos EUA como
“desertos de notícias”, termo que se refere a regiões semdia local.
Thompson acredita que existem desafios espeficos nesse
segmento da indústria de mídia, que vão da cobertura de uma vasta
gama de assuntos ao acúmulo de funções.
Isso ficou demonstrado na pesquisa feita pela instituição.
Perguntamos aos entrevistados o que eles faziam em seu trabalho,
e muitos marcaramtodas acima” para atividades como edição,
produção e anúncios.
Isso significa que os jornalistas locais eso fazendo muito mais do
que seria previsto em sua função original devido à forma como a
indústria se consolidou nos últimos anos.”
Baixa remuneração é outro fator apontado pela pesquisadora como
motivo para levar jornalistas locais ao burnout, que em veículos
pequenos as dificuldades financeiras são ainda maiores do que na
dia da indústria.
A resposta mais frequente para os que foram perguntados sobre o
que os faria continuar na profissão foi remuneração melhor. Isso
o quer dizer que basta um salário mais alto.
O problema é que muitos lídereso entendem como o salário está
ligado ao burnout. Com remuneração adequada é possível pagar
por uma academia, babá, terapia e outros serviços que auxiliam na
saúde mental do trabalhador.
Sentir que você não consegue sustentar uma família ou uma vida
minimamente confortável, mesmo trabalhando em tempo integral,
é bastante preocupante.”
A crise de confiança na mídia também contribui para o esgotamento
dos jornalistas locais, segundo Elizabeth Thompson.
Quando falamos com jornalistas e ex-jornalistas sobre o que
proporciona satisfação com o trabalho, eles apontam o
reconhecimento por parte da comunidade, motor do jornalismo
local.
Assim, a sensação de que as pessoas não acham que o seu
trabalho presta um bom serviço pode ser muito difícil para alguns
jornalistas locais, especialmente se eles têm certeza de que estão
fazendo tudo o que podem dentro do contexto em que atuam para
corresponder às expectativas.”
, EUApor
ELOÁ ORAZEM
M
17
Elizabeth Thompson
cio’ em redes sociais
Sou cautelosa com a palavra vício. Acho
que existe um sistema de recompensa
que estimula a dopamina, sim.
O estímulo desses likes pode, às vezes,
criar um desequilíbrio. Mas mais do que
likes, acho que jornalistas se preocupam
com números de seguidores. Esses
detalhes viraram uma métrica de
sucesso e leva jornalistas a se
compararem com os colegas.”
18
Jornalistas à beira de um
ataque de nervos podem
não ser capazes de fazer um
bom trabalho
Todo mundo que conhece um jornalista
sabe que existe medo dos cortes nas
redações, seja por ajustes financeiros
ou porque o jornal foi vendido para uma
outra organização, por exemplo.
Esse apequenamento das redações me
preocupa porque os jovens perdem o
acesso aos mentores ou aos
profissionais mais experientes, que
poderiam ajudá-los a se desenvolver.”
Psicóloga especializada no atendimento a
jornalistas desde 2015, Emily Sachs trabalha
como consultora do Dart Center for
Journalism and Trauma, da Columbia
University.
PhD pela Fordham University, ela vive emo
Francisco, mas apoia redações de todo o país.
Sachs acha que é mais desafiador ser um
jornalista nos dias atuais, devido à
hiperconectividade e à facilidade de o público
acessá-lo por meio das redes sociais.
Entrevista |
EMILY SACHS , Dart Center for Journalism and Trauma
Instabilidade da carreira
Coragem para empreender
A interação muitas vezes resulta em
ofensas, abuso e até agressões, que não
atinge a todos igualmente.
“Jornalistas mulheres, negros eo-binários
tendem a ser mais afetados pelo ódio online,
e isso pode ser bem difícil de gerenciar
emocionalmente”, afirma a psicóloga.
Nesta entrevista ela falou sobre a era
Trump, o apego às redes sociais, o efeito do
estado emocional sobre o trabalho, o
empreendedorismo e a solidariedade.
O jornalismo americano
Durante a era Trump vimos o governo
de certa forma normalizando a
hostilidade contra a mídia, com
jornalistas tratados como inimigos da
nação.
Houve uma perda de credibilidade da
dia e isso é desmoralizante .
Tem sido bastante comum os jornalistas
contemplarem a alternativa de apostar
em negócios próprios, como um podcast,
um canal no YouTube ou uma newsletter,
sobretudo porque esta profissão pede
uma certa dose de independência e
rebeldia.
Mas requer coragem deixar uma
empresa de mídia estabelecida e
reconhecida, porque a sociedade tem a
visão de que é um "privilégio" estar ali.”
Ataque de nervos
Jornalistas à beira de um ataque de
nervos não são capazes de fazer um bom
trabalho.
O tempo de recuperação emocional é
uma parte essencial para uma boa
performance, bem como para ser um ser
humano funcional.
Competição x solidariedade
Percebo que muitos jornalistas
compartilham técnicas e ferramentas.
Vejo queo excelentes na arte de
absorver informação e compartilhá-las
e issoo se resume às reportagens.
Eles fazem isso também quando o
assunto é saúde mental.”
, EUApor
ELOÁ ORAZEM
Emily Sachs | Psicóloga
19
O esgotamento na indústria
criativa, onde muitas vezes
trabalho e diversão se
misturam, pode ser evitado?
Artigo publicado originalmente no portal acadêmico The Conversation UK e republicado aqui com autorização da autora.
urnout é um estado de exauso mental e sica, geralmente relacionado ao
trabalho.
Paradoxalmente, quanto mais apaixonado e responsável se é, maior é a probabilidade
de esgotamemto, pois pessoas assim não querem parar em momentos de sobrecarga
e fazer com que os outros assumam suas responsabilidades.
Alguns empregos fogem da rotina típica das nove às cinco, como as carreiras arsticas,
criativas ou de pesquisa, que nunca chegam ao ponto em que se pode dizer que se fez
tudo o que se precisava durante o dia.
Sempre há outro artigo para escrever, um filme para fazer, um livro para ler ou um
quadro para pintar. A pessoa simplesmente não desliga às 17h de sexta-feira.
Em vez disso, segue carregada de ideias e listas de tarefas, mesmo quando está
desempregada.
Isso pode ser estimulante e gratificante, mas ao mesmo tempo requer muita
energia e resistência. Os trabalhos criativos também provocam uma sensação de
incerteza sobre se as expectativas serão atendidas e se a entrega acontecerá no
prazo, o que muitas vezes envolve um componente de sorte.
Gerenciar isso pode consumir muita energia. Mas, de acordo com a psicóloga
Gloria Mark, autora de Attention Span, há um limite de concentração que uma
pessoa pode ter em um determinado momento. E trabalhos criativos não podem
ser realizados no piloto automático. É necessário repor as energias para poder
continuar e permanecer criativo.
Embora as razões para o esgotamento sejam bastante universais, a recuperação é
mais sutil.
O que acontece se houver uma sobreposição entre o que o levou ao esgotamento
e o que faz a pessoa relaxar? E se escrever ou produzir conteúdo de vídeo fizer
parte do trabalho, mas também for algo que a pessoa adora fazer para se divertir?
Como se pode conciliar os dois e encontrar o equilíbrio?
Não há dúvida de que a mesma atividade pode ser uma tarefa assustadora e uma
terapia eficaz. O que a torna diferente é o peso da responsabilidade do que você
“deve” versus a leveza e o prazer da possibilidade do que você “pode”.
Tem também a ver com suas expectativas pessoais versus expectativas sociais.
Sempre que possível, devemos fazer as coisas porque realmente gostamos,
movidos por motivações intrínsecas e não por expectativas sociais e promessas
externas.
Muitas vezes tudo se resume a proporcionar-se o
conforto de desacelerar, um bem raro em nossas
ocupadas vidas profissionais. Escrevendo sobre o
excesso de trabalho e a “subsistência”, a jornalista
Celeste Headlee atesta os danos que o “culto à
eficiência” causou ao nosso bem-estar, substituindo a
alegria de se divertir por uma corrida frenética de
produtividade sem fim.
No seu revelador livro Do Nothing, Headle oferece
uma alternativa inovadora à tirania dos negócios,
convidando os leitores a reavaliarem as prioridades e
lembrando que às vezes podemos realizar mais
fazendo menos.
Ao investir no lazer e ao cultivar a conexão humana
genuína, ao saborear o tempo em vez de perseguir
inconscientemente os padrões imposveis de
hiperprodutividade, reabastecemos a nossa energia e
melhoramos a capacidade de fazer as coisas de forma
mais significativa.
A psicologia do fluxo, concebida pelo psicólogo Mihaly
Csíkszentmilyi, tamm enfatiza a importância de
eventos não estruturados e muitas vezes o
planejados que inspiram a criatividade e levam a um
estado de foco e diversão ininterruptos. Mas isto não
pode ser foado e nem sempre é alcaável.
O ponto principal é: ouça seu corpo e sua mente e não
ignore os sinais de alerta. Se você se sente
constantemente estressado e exausto, é melhor parar
antes que seja tarde demais. Uma pequena pausa
pode ser tudo que você precisa para repor energia e
motivação. Seguir em frente sem pensar, apenas
porque voprecisa”, é muito míope e será um tiro
pela culatra.
Desconecte-se e fa coisas que vo gosta sem o
objetivo de perseguir nada. o espere nenhum
resultado e não se incomode com nenhuma
expectativa. Simplesmente aproveite o prazer de fazer
as coisas por si . A vida fica muito mais leve e
significativa desta forma.
Christiana Figueres
Opinião |
Agata Lulkowska
, Professora de Produção Cinematográfica, Staffordshire University
Agata Lulkowska
E quando o trabalho dá prazer?
Psicologia do fluxo
B
Jornalismo e trauma
Como o medo afeta a saúde mental dos
jornalistas - e a hora certa de 'recarregar a
bateria'
Gavin Hess | Dart Center for
Journalism and Trauma
m março, um âncora da rede independente Iran
TV, com sede em Londres, saiu de casa para
trabalhar e foi esfaqueado.
Ele sobreviveu ao ataque, atribuído pela polícia
britânica a mercerios contratados por forças de
seguraa do regime iraniano para intimidar o canal,
que vem sendo alvo de ameaças a ponto de ter
transferido suas operações para Washington durante
seis meses por recomendação da Scotland Yard.
Este é um exemplo extremo de outro fator de
burnout para profissionais de imprensa: a seguraa.
A pesquisa do Reynolds Journalism Institute
apontou que quase metade dos jornalistas acha que
o trabalho se tornou perigoso.
O RJI o identificou se o motivo principal do temor
é o risco pessoal ou se o medo deve-se aos ataques
generalizados ao jornalismo e a jornalistas que se
tornaram comuns no mundo. Ainda assim, sugeriu
que o sentimento relacionado a um deles ou a
ambos contribui para o esgotamento mental.
Um dos painéis do Festival Internacional de
Jornalismo de Perugia, realizado em abril, abordou
os efeitos da cobertura de situações trauticas
como guerras e desastres naturais sobre a saúde
emocional dos jornalistas.
A sessão foi mediada por Gavin Hess, consultor de
treinamento e inovação do Dart Center para
Jornalismo e Trauma, da Universidade Columbia, e
teve a participão de jornalistas de ts países com
perspectivas bem diferentes.
Rawan Damen dirige a Associação de Jornalistas
Investigativos Árabes, que desde outubro passado
vem apoiando profissionais de imprensa em Gaza,
submetidos a condões extremas para continuar
trabalhando e a sobrevivendo.
Trauma em debate no
Festival de Perugia
Rajneesh Bandhari, fundador e diretor da rede de jornalistas investigativos do
Nepal, vive em um ps em que as violões da liberdade de imprensa o
frequentes e teve a experiência de cobrir o terremoto que devastou o ps em
2015 para organizões de dia estrangeiras, pressionado a entregar matérias
sem energia etrica ou coneo à internet.
Em um ambiente mais tranquilo - e quase envergonhada por isso diante dos
colegas - Annie Kelly, editora de Direitos e Liberdade do The Guardian, relatou sua
vincia no trabalho com jornalistas em pses como men e Afeganiso.
Pode parecer longe da realidade brasileira, mas o abalo ao equibrio emocional
capaz de levar ao burnout o afeta apenas quem cobre guerras ou terremotos.
Jornalistas escalados para fazer reportagens sobre violência urbana no Brasil ou
para investigarem violações de direitos humanos o igualmente vulneveis a
esses efeitos.
O consenso foi que o impacto para jornalistas cobrindo pautas que envolvem
sofrimento existe tanto para quem está no front quanto para os que estão
fisicamente protegidos, dentro de redões. Mas ele acontece de forma diferente.
Rees disse que em seu trabalho no Dart Center observa vários reflexos do trauma,
alguns de gravidades diversas.Jornalistas que trabalham vendo imagens
violentas muitas vezes apresentam dificuldades de concentração, e isso é um
pequeno efeito do trauma”.
Os participantes refletiram sobre formas de mitigar esse impacto. Uma delas é o
chefe demonstrar sensibilidade e perguntar como o profissional esse sentindo,
deixando-o livre para fazer uma pausa ou até se afastar da cobertura.
Mas isso nem sempre é simples quando se trata de jornalistas, dotados de senso
de miso. O estudo do Reynolds revelou que 88% dos profissionais acham que o
trabalho que fazem é essencial para a democracia. Annie Kelly comentou que em
geral a resposta a essas perguntas é “quero seguir adiante e continuar reportando
os acontecimentos”.
Rawan Damen vê a questão sob outra perspectiva: em alguns casos, mesmo que
a resposta à pergunta “você es bem?seja “sim”, isso não é necessariamente
verdade. E momentos em que, queira ou o o jornalista, é preciso fazer com
que ele pare a fim de “recarregar a bateria”.
Com a experiência no Dart Center, Gavin Hess concordou com a necessidade da
“recarga”, e lembrou queautocuidado não é autopiedade, e sim
autopreservação”, garantindo as condições para que o bom jornalismo continue a
ser feito.
Quem decide a hora de parar?
E
Trauma
20
O que o atentado terrorista na
Suécia em 2017 ensinou sobre
trauma
m 2019, dois anos após um atentado terrorista em
Estocolmo que chocou a nação, um estudo mergulhou a
fundo no impacto produzido sobre a saúde mental dos
jornalistas que cobriram o acontecimento.
No ataque do dia 7 de abril de 2017, um terrorista islâmico
jogou o caminhão que dirigia sobre pessoas que
caminhavam na Drottninggatan, uma movimentada artéria
central da capital sueca reservada a pedestres.
Cinco pessoas foram mortas, entre elas uma menina de 11
anos. Outras 14 ficaram gravemente feridas.
Segundo um estudo realizado pela universidade Åbo
Akademi, em cooperação com a Federação Nacional dos
Jornalistas da Suécia, 13% dos profissionais que cobriram o
atentado de Estocolmo desenvolveram graves sintomas do
transtorno de estresses-traumático (TEPT).
E o resultado mostrou que apenas 35% deles receberam
algum tipo de ajuda por parte dos empregadores, como
apoio psicológico individual ou em grupos liderados por
especialistas em saúde mental.
O estudo envolveu 230 jornalistas suecos que participaram
da cobertura do atentado.
Para Ulrika Hyllert, presidente da Federação dos Jornalistas,
o estudo da Åbo Akademi foi significativo para aumentar a
compreensão das empresas jornalísticas sobre a
importância de garantir o bem-estar emocional dos
jornalistas que fazem a cobertura de eventos traumáticos - o
que se estende a qualquer atividade que coloque
profissionais diante de crimes e tragédias.
Muitos jornalistas se sentem mal após coberturas
emocionalmente complexas. Este estudo mostrou
claramente a necessidade de as redações reverem o apoio
a jornalistas que trabalham em situações de crise.”
28% 19,5%
por , Scia
CLAUDIA WALLIN
Klas Backholm, ex-jornalista, doutor em comunicação e pesquisador da
Åbo Akademi, diz que o estudo relativo ao caso da Suécia também
mostrou que jornalistas com contratos permanentes de trabalho tiveram
menos sintomas de transtorno do que os de outros grupos.
Os mais afetados foram os freelancers ou rerteres com contratos
temporários de emprego.
Estudos anteriores também haviam demonstrado que
contratos permanentes e estáveis de trabalho o um fator de
proteção contra sintomas de estresse após coberturas
jornalísticas de eventos de crise.
Contratos permanentes de trabalho representam, para
muitos, maior facilidade de acesso a tratamento médico e
maior apoio das chefias de redação.
Klas Backholm | Åbo Akademi
Trauma
21
Foto: Facebook Klas Backholm
E
presença digital de pessoas blicas como jornalistas, políticos e
celebridades tem sido apontada como fator de burnout para muitos deles,
devido ao assédio online que muitas vezes se transforma em risco físico.
Um documento publicado em abril pelo PEN America, braço da organização
global que defende a liberdade de escrever, aponta abordagens
consideradas promissoras para ajudar a lidar com o abuso online.
O trabalho foi produzido em conjunto com Susan McGregor, pesquisadora
da Universidade Columbia a partir de entrevistas com jornalistas e análises
de experiências de outras atividades estressantes.
Simplesmente desconectar não é solução. O trabalho reconhece que no
caso da atividade jornalística, ficar offline o é realista, e isso se aplica a
qualquer atividade que envolva exposição pública.
E admite que o abuso online, que pode ser “profundamente prejudicial para
o bem-estar emocional, psicológico e físico”, nunca será erradicado.
Viktorya Vilk, diretora de segurança digital e liberdade de expressão do PEN
América e co-autora do relatório, salienta que embora os ataques contra
jornalistas pareçam muitas vezes orgânicos, individuais e pessoais, também
podem ser parte de campanhas coordenadas, com o objetivo de intimidar,
desacreditar e silenciar vozes na indústria do jornalismo e minar a liberdade
de imprensa.
Diante do inevitável, a organização aponta o apoio dos pares como
instrumento para mitigar os danos causados pelo abuso online.
No sentido mais geral, “apoio de pares” é simplesmente o apoio emocional
e psicológico prestado fora de um contexto clínico, como descreve o
trabalho:
PEN America ‘prescreve ajuda mútua como
remédio para o impacto emocional do assédio digital
Trust
Turbo
-charger
Ele pode assumir diversas estruturas e formatos. Em modelos
de apoio direto, um colega treinado trabalha individualmente
com alguém que procura apoio. Em modelos de pequenos
grupos, um facilitador treinado orienta os participantes do grupo
no apoio mútuo.
Embora não seja obrigatório, muitos programas e organizações
de apoio entre pares operam sob o “paradigma da experiência
compartilhada, um conceito da psicologia em que apoiadores
(no modelo direto) e participantes (no modelo de grupo) têm em
comum a profissão, a identidade, a formação ou uma
experiência vivida.”
Embora os jornalistas valorizem o apoio
profissional e a orientação das suas redes
existentes, o relatório conclui que muitos ainda
lutam para encontrar espaços onde possam
discutir abertamente o abuso online.
Por isso, recomenda às empresas jornalísticas
que experimentem modelos bem-sucedidos em
outras profissões com alto nível de estresse.
Os jornalistas disseram repetidamente que
preferem procurar o apoio de colegas quando
confrontados com estresse profissional.
Ao funcionarem como um ambiente onde se
pode compartilhar experiências e desfrutar de
assistência mútua, os grupos de apoio entre
pares representam um meio prático e acessível
de lidar com o assédio online.”
SUSAN E. MCGREGOR | UNIVERSIDADE COLUMBIA
Construir redes de apoio de pares em
pequenos grupos em toda a indústria, o
que aumentaria os benefícios a
freelancers, jornalistas de origens sub-
representadas e redações com poucos
recursos
Compensar financeiramente e/ou
fornecer reconhecimento profissional aos
facilitadores que atuem em redes de
apoio existentes
Fornecer mais estrutura, formação e
recursos às redes de apoio existentes
para que possam satisfazer melhor as
necessidades dos jornalistas que
enfrentam abusos online
As recomendações do PEN
O documento completo pode ser visto aqui.
22
A
Palavras importam
Um guia da Mind UK
para evitar linguagem
estigmatizante
NÃO SIMPLIFIQUE AS CAUSAS
CUIDADO COM HISTÓRIAS DE SUCESSO
RESILIÊNCIA NÃO É PARA TODOS
Veja as orientações da Mind
Uma combinação de fatores pode contribuir para um problema
de sde mental como perder a casa ou o emprego,
dificuldades financeiras, problemas de relacionamento ou de
discriminão, incluindo racismo.
Ao abordar saúde mental, evite colocar toda a culpa nos
indivíduos, desconsiderando o contexto que pode ter
contribdo para os problemas.
linguagem usada na vida cotidiana e peladia é uma das principais
pautas da Mind, uma poderosa organizaçãoo-governamental britânica
presente em todo o ps, fonte obrigatória da imprensa em questões
ligadas à saúde mental.
Com orçamento anual superior a 45 milhões de libras, a entidade oferece
atendimento direto ao público, realiza eventos e campanhas, faz lobby
sobre o governo e parlamentares para influenciar políticas públicas e dá
consultoria a produções artísticas e à imprensa na abordagem correta do
tema.
Em pesquisa realizada pela Mind, 66% dos entrevistados afirmaram que o
blico deveria ser mais cuidadoso na forma como fala sobre saúde
mental para evitar que as pessoas se sintam chateadas ou
envergonhadas.
No entanto, cerca de uma em cada cinco pessoas disse acreditar que
“sociopata” (22%), “totalmente TOC(22%) e “um pouco maluco(20%)
o termos aceitáveis.
“A nossa linguagem pode causar danos não intencionais e reforçar o
estigma. Mas quando acertamos, temos o poder de transformar vidas”, diz
o guia da Mind, baseado em conversas com pessoas que experimentaram
problemas.
Alguns pensam que a resiliência ou a capacidade de gerir o
estresse é algo ao alcance de todos. Mas isso o é verdade.
É importante considerar fatores que podem dificultar a
resilncia ao estresse ou à discriminação que algm es
sentindo se não obm apoio.
SUICÍDIO
Hisrias de como as pessoas lidaram ou superaram
experncias difíceis podem ser muito poderosas. Mas tamm
podem fazer com que os outros se sintam incapazes. Evite
comenrios que façam a recuperação parecer fácil ou certa.
Evite descrever todos, e a expreso “cometer suicídio’,
que sugere um crime. Não especule sobre motivos, e insira os
avisos de contdo para prevenir o blico sobre o tema da
matéria.
LIMPEZA, ARRUMAÇÃO E TOC
Ao falar sobre algm ser limpo ou gostar das coisas bem
arrumadas, evite frases comoum pouco TOC”.
O TOC é um grave problema de sde mental, com
comportamentos obsessivos e compulsivos. É mais complexo
do que ser organizado ou gostar de arrumão.
LINGUAGEM POPULAR E GÍRIAS
Evite expressões como 'maaco', 'louco', 'doido', 'lunático' ou
'psicopata' ao descrever algm que está se comportando de
maneira negativa ou diferente.
O uso de tulos de saúde mental para descrever
comportamentos banaliza o que é ter um problema mental,
aumenta o estigma e pode inibir a busca de apoio.
Guias
23
A
Estigma
No Reino Unido, campanhas contra a
vergonha de problemas emocionais e
a obrigação de ser feliz o tempo todo
ariações da frase “tudo bem não
estar bem” aparecem em filmes, livros
e campanhas de bem-estar emocional.
Mas uma campanha feita por uma
coalizão de organizações dedicadas à
saúde mental no Reino Unido, lançada
em março, foi além.
Ao acrescentar a palavra “se” à frase já
meio desgastada, a ação aborda os
medos que pessoas com diagnóstico
de doença mental sentem diante de
situações como a busca de um
emprego ou do simples ato de assumir
sua condição médica.
Se estudo bem não estar bem, por
que eu temo que a minha ansiedade
impa de conseguir o emprego que
eu amo?”
A ação das organizações deu voz aos
que temem falar sobre o que estão
passando.
Os outdoors espalhados por todo o país e
os conteúdos para redes sociais foram
criados a partir de depoimentos reais.
A preocupação com a vergonha é
justificada por uma pesquisa recente
com 2 mil britânicos feita pela Mind, uma
das organizações à frente da campanha.
51% dos entrevistados acreditam
que ainda existe vergonha
associada à saúde mental
56% dos que experimentam
problemas mentais relataram sentir
vergonha
12% ainda acham que pessoas com
doenças mentais devem ter
vergonha de sua condição
A organização chama a atenção para o
impacto da vergonha, que alimenta o
estigma e funciona como uma barreira
para procurar ajuda.
Os homens demonstram ter níveis mais baixos
de conhecimento sobre saúde mental, e são
mais propensos a sentir vergonha do que as
mulheres.
Eles têm atitudes mais negativas em relação à
procura de ajuda e, consequentemente, são os
que menos buscam apoio.
Ca o
sorriso do
McLanche
Feliz?
Em uma campanha para marcar a Semana de Conscientização sobre a
Saúde Mental, celebrada em maio no Reino Unido, o McDonald’s
removeu temporariamente o sorriso que ilustra milhões de suas caixas
do McLanche Feliz no país e produziu um vídeo dando voz às crianças.
O objetivo foi lembrar que não problema em não estar feliz o tempo
todo, ajudando a estimular conversas familiares sobre emoções e a
quebrar o tabu da felicidade obrigatória.
Uma pesquisa encomendada pela empresa revelou que quase metade
(48%) das crianças do país sentem que devem estar felizes o tempo
todo, mesmo que não estejam se sentindo assim.
Junto com as caixas de edição limitada do McLanche Feliz foram
entregues nas lojas folhas de adesivos que mostram umarie de
emoções que as crianças vivenciam, permitindo ilustrar seus
sentimentos diretamente nas próprias caixas.
V
24
Veja o filme aqui
O príncipe Harry e sua mulher, Meghan Markle, anunciaram em agosto o projeto Parents
Network, uma rede de apoio a pais de crianças que tiraram a própria vida em consequência de
conteúdo nocivo online. E falaram abertamente da experiência pessoal em uma entrevista à
rede americana CBS.
Meghan disse que resolveu falar de seus próprios problemas de saúde mental para ajudar
outras pessoas que têm pensamentos suicidas, esperando contribuir para que “ninguém mais
se sinta como ela se sentiu”.
Noticiando suicídio na
mídia: o risco de
acordar o urso
Suicídio
Dois mitos passaram então a predominar na
dia sueca, diz Westerlund:
Um deles é o de que não se deve ‘acordar o
urso’, ou seja, há os que pensam que se
escreverem sobre suidio, podem fazer com
que as pessoas comecem a pensar em cometer
suicídio.
Mas isso evita o debate e a conscientização
sobre o problema. Outro mito é o de que não se
pode evitar que uma pessoa inclinada ao
suicídio tire a própria vida.”
O pesquisador aponta que a mídia em geral
descreve um suicídio como um fato que
simplesmente ocorreu, e que não poderia ter sido
evitado - e isto é um mito:
Quase todos os estudos com pessoas que
tentaram suicídio indicam que a maioria delas
teve dúvidas aa última etapa.
É possível prevenir o suicídio. Uma pessoa pode
ser propensa e tirar a própria vida em
determinada fase da vida, e dali em diante
nunca mais manifestar tal impulso.
mbora exista uma percepção que relacione a Suécia a altas taxas de
suicídio, na verdade o país não figura nas primeiras posições de destaque
dos rankings globais dos mais afetados pela questão. O país ocupa o 28º
lugar, segundo estatísticas de 2020 da Organização Mundial de Saúde.
Desde a década de 70, quando os índices de suicídio no país atingiram seus
níveis mais altos, a taxa veio diminuindo ao longo dos anos entre a maior
parte dos grupos etários. Nos últimos 20 anos, no entanto, foi registrado um
pequeno aumento dos índices de suicídio entre os jovens.
A cada ano, segundo a Agência de Saúde Pública da Suécia
(Folkhälsomyndigheten), mais de 1.200 pessoas morrem no país em
decorrência de suicídio. Dois terços deles são homens.
“O suicídio ainda é um assunto tabu, do qual muitos têm medo de falar -
incluindo a mídia”, diz o pesquisador da Universidade de Estocolmo Michael
Westerlund, que também integra o Centro Nacional para a Pesquisa e a
Prevenção do Suicídio (NASP), em artigo publicado no site da Universidade
de Estocolmo.
Muitos consideram perigoso falar sobre suicídio, diz Westerlund - pelo
medo de que isso possa estimular outras pessoas a tirarem a própria vida.
Para ele, o papel da mídia deve ser produzir uma cobertura equilibrada e
objetiva sobre o tema.
“Se a mídia abordar de forma cada vez mais frequente a questão da saúde
mental, as razões que podem levar uma pessoa ao suicídio e como procurar
ajuda, ela pode contribuir para um trabalho de prevenção”, enfatiza o
pesquisador.
por , Scia
CLAUDIA WALLIN
E
25
Se expressar o que superei salvar alguém ou encorajar alguém a verificar
como uma pessoa em seu entorno realmente está, sem presumir que se as
aparências são positivas isso significa que está tudo bem, então valeu a pena.”
Familiares
Interesse público
Veja as principais diretrizes
Especulões
Ajuda psicogica
Deve-se evitar escrever que alguém “escolheu” tirar a própria vida.
A formulação “tirou a própria vida” é mais adequada, uma vez que o
suicídio não é uma escolha racional, e sim um ato deflagrado por um
impulso em um momento de desespero.
Se é de interesseblico noticiar um suicídio, e se familiares datima
o se manifestarem de forma contrária, o caso deve ser noticiado.
Mas sempre levando-se em consideração a integridade datima e de
seus familiares.
m 2022, a direção de Jornalismo da empresa pública de
comunicação SVT decidiu dar um passo para quebrar o tabu em torno
da forma de noticiar suicídios: procurou o especialista em prevenção
Ullakarin Nyberg e o Ombudsman da Mídia sueca para iniciar uma
discussão sobre como melhor abordar a questão nadia.
O público o era claramente informado sobre a causa da morte em
muitos casos noticiados, embora fosse mais ou menos evidente que se
tratava de casos de suicídio.
É legítimo dar voz a familiares de pessoas que tiraram a própria vida.
Isto pode contribuir para a prevenção, uma vez que o sofrimento das
pessoas mais próximas é um fator que pesa na decisão de muitas
pessoas propensas ao suicídio.
Deve-se evitar especular ou citar especulações de terceiros sobre o
motivo que levou a um suicídio. Cada episódio de suicídio é um caso
complexo, e por isso é preciso evitar simplificações.
O manual de
cobertura de
suicídio da TV
pública sueca
por , Scia
CLAUDIA WALLIN
Noticiar significaria uma intrusão na vida particular de uma pessoa, e
um desrespeito ao sentimento dos familiares? Poderia estimular
outras pessoas a tirarem a própria vida?
Como resultado das consultas, foi divulgado na página oficial do
Ombudsman da Mídia um manual com diretrizes gerais, a partir de
uma premissa central: a cobertura de casos de suicídio deve ser feita
de maneira cuidadosa, o que não significa não noticiar estes episódios.
Deve-se evitar descrever de que forma o suidio ocorreu. O método
adotado pode inspirar pessoas propensas ao suicídio a adotarem a
mesma prática. No entanto, ler uma notícia sobre suicídio não torna as
pessoas mais propensas a cometer suicídio.
Descrão de todos
Escolha”
É importante, ao noticiar um suicídio, ressaltar sempre a possibilidade
de se obter ajuda psicológica em casos de instabilidade emocional.
Guia
E
26
É preciso tirar o sofá da sala para proteger a
saúde mental dos jovens ?
Unaliving’: pesquisa expõe falhas na moderão
Na semana em que Molly Russel faria 21 anos, em novembro de
2023, a Fundão criada pela falia divulgou uma pesquisa
contundente sobre a proliferação de conteúdo prejudicial
relacionado a suicídio e automutilação nas redes sociais.
O estudo foi feito em parceria com a empresa Bright Data, que
coletou os dados.
Quase metade das postagens mais engajadas pesquisadas no
Instagram (48%) e no TikTok (49%) foram consideradas prejudiciais.
Ainda assim, estavam sendo recomendadas por algoritmos e
visualizadas em grandes volumes.
Russel ficou tristemente famoso quando sua
filha Molly tirou a própria vida aos 14 anos, em
2018, após acessar conteúdo sobre suicídio.
Ele transformou a dor em ação, criando a
fundação Molly Rose, contra o suicídio infantil.
E assumiu o protagonismo do debate sobre
efeitos dasdias digitais na saúde mental de
jovens, tendo sido condecorado como MBE
(Member of The Order of the British Empire)
por seu trabalho em prol da segurança infantil.
alarme sobre os riscos das redes sociais para a sde mental de
jovens foi dado em 2021 pela ex-gerente do então Facebook,
Frances Haugen, caso conhecido como "Facebook Papers". Um ano
depois da crise de imagem, a empresa mudou o nome para Meta.
Entre os documentos vazados estavam pesquisas internas em que
meninas usuárias do Instagram admitiam desconforto com o corpo,
sensão que piorava após usar a rede social.
Desde eno as redes nunca mais saíram do alvo de ONGs de apoio a
criaas e de pais cujos filhos foram vítimas de vioncia,
automutilação ou suicídio, colocando em questão o empenho das
plataformas em proteger jovens de conteúdo nocivo para a saúde
mental e de assediadores online.
O cyberbullying é outra preocupação crescente. Uma pesquisa da
OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgada em mao revelou
que uma em cada seis crianças em idade escolar na Europa é alvo.
O problema é uma das principais causas de suicídio infantil. Em
janeiro tornou-se crime no Brasil, assim como em outros países.
Em junho, a principal autoridadedica dos EUA pediu a incluo de
um rótulo de advertência sobre os riscos das redes para os jovens.
A solução é retirar o so da sala, proibindo celulares ou redes sociais
para jovens? Muitos discordam. O britânico Ian Russel é um deles.
O documento completo pode ser visto aqui.
O
Em parte como resultado de seu empenho, o Reino Unido aprovou em 2023
a Online Harm Bill, regulamentação de redes sociais fundamentada na
proteção a crianças e vulneráveis, ainda em fase de implementação.
Mas políticos gostam de agradar as massas em ano eleitoral. Antes dos
dispositivos da lei entrarem em vigor, o governo do Partido Conservador
anunciou planos de proibir a venda de smartphones a menores de 16 anos e
aumentar a idade mínima para usar redes sociais também para 16 anos.
Essas restrições resolvem? O pai de Molly acha que não. Ele foi um dos que
reagiu negativamente às duas propostas, que entrarão em consulta pública.
"A melhor solução para proteger os jovens de danos físicos e mentais é uma
regulamentação de segurança online mais forte e mais ambiciosa", defende.
Ian Russel
As de maior engajamento no TikTok foram vistas mais de 1 milhão de
vezes.
No Pinterest, que no inquérito sobre a morte de Molly Russel admitiu que
o era uma plataforma segura na época em que ela a utilizou, os
pesquisadores encontraram algum progresso em medidas protetivas,
mas ainda assim a rede continua exibindo esses conteúdos a jovens.
O relatório critica fortemente as plataformas pelas políticas de
moderação, que não eso filtrando suficientemente o conteúdo sobre as
hashtags mais populares e aqueles disfarçados pelo “algospeak”.
Os pesquisadores apontaram o uso regular de termos criados para tentar
enganar os algoritmos, como “KYS” (Kill Yourself) e Unaivicide (uma
combinação de Unalive, ou “não-vivo”, e suicídio), sobretudo no
Pinterest.
Assim como Molly foi impactada pelo conteúdo nocivo
que a bombardeou, encontramos evidências de
algoritmos distribuindo conteúdo prejudicial para
literalmente milhões de jovens. Isso deve parar”.
IAN RUSSEL| MOLLY ROSE FOUNDATION
Redes sociais
27
Estudo na Suécia
mostrou benefícios de
reduzir uso de redes
Nos últimos dez anos, omero de crianças e
adolescentes suecos que tomam antidepressivos
aumentou 190%.
O problema do equilíbrio emocional dos jovens tomou
tal proporção que, segundo o noticiário sueco do início
deste ano, 100 mil crianças e adolescentes esperam
na fila por acesso ao serviço público de apoio
psiquiátrico.
Entre diversas medidas em prol do bem-estar
emocional, promovidas por diferentes organizações
não-governamentais, estão ciclos de palestras em
escolas suecas para debater o tema da saúde mental
entre crianças e jovens.
cobertura da dia em torno da questão da saúde mental é
extensa na Scia - e especial atenção tem sido dedicada ao problema
entre os mais jovens.
Via de regra, cada nocia relacionada ao tema da sde mental traz no
final links e contatos para entre cinco a nove diferentes entidades de
ajuda a criaas e jovens - incluindo linhas telenicas de apoio,
organizões especializadas em distúrbios alimentares e autoagreso,
e chats de apoio a criaas adotadas.
No início deste ano, um estudo da Universidade de Lund, reproduzido
por vários canais de dia na Suécia, demonstrou que reduzir o uso
das mídias sociais para apenas meia hora por dia produz um
significativo efeito befico sobre jovens.
Participaram da pesquisa 170 pessoas entre 18 e 29 anos de idade,
que mantinham o bito de usar mídias sociais por cerca de duas horas
diárias. O estudo foi conduzido por um período de ts semanas.
Redes sociais
por , Scia
CLAUDIA WALLIN
Escolas suecas debatem saúde mental
De acordo com especialistas, a instabilidade emocional entre os
estudantes aumenta a partir do ensino médio.
“Precisamos trabalhar para ampliar o conhecimento sobre o
tema e reduzir o estigma em relação à saúde mental”, diz Eva
Lövåker, da ONG Hjärnkoll.
Em janeiro, o governo anunciou um pacote de 1,5 bilhão de
coroas suecas para fortalecer a rede de atendimento a quem tem
transtornos psíquicos e ampliar medidas de prevenção do
suicídio.
Uma das ações é a criação de uma linha telefônica nacional de
apoio aos cidadãos, gerenciada por profissionais de saúde e
disponível 24 horas por dia.
Os jovens foram divididos em ts grupos: o primeiro ficou restrito a
usar as redes por apenas 30 minutos por dia, enquanto o segundo
de usá-las de forma ilimitada, pom apenas de forma passiva,
somente olhando os contdos publicados por outras pessoas.
O terceiro grupo, de controle, utilizou as plataformas sociais como
de costume, sem mudar seus hábitos.
Os participantes dos dois primeiros grupos disseram ter notado um
maior poder de foco e concentrão em suas atividades diárias.
“Uma conclusão possível é a de que, quando não publicamos
conteúdo próprio, não nos preocupamos com as reações que eles
causam em outros usuários. Mas mesmo ao usar as redes de forma
passiva, manm-se os efeitos psicogicos negativos de fazermos
comparações entre nós e os outros”, indica Martin Wolgast,
professor de Psicologia da Universidade de Lund e um dos autores
do estudo.
A
28
São Paulo
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05019-000 – Brasil
Londres
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Luciana Gurgel
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português, oferecido pelo Knight Center para o Jornalismo nas Américas,
dirigido pelo brasileiro Rosental Calmon Alves.
O programa foi desenvolvido em parceria com uma jornalista experiente e
reconhecida que deixou as redações para se dedicar a ajudar colegas a
lidarem com o burnout que ela mesma experimentou: a espanhola Mar
Cabra.
Detentora de um Pulitzer, Mar chefiou a equipe de dados que analisou um
dos maiores vazamentos da história do jornalismo, o Panama Papers. Mas a
consequência foi o esgotamento, que a levou a fundar o projeto Self-
Investigation, que oferece apoio e treinamento a profissionais e redações.
Em quatro módulos, o curso explica a imporncia do equilíbrio emocional e
como cultivá-lo no dia a dia, mostra como trabalhar e colaborar de forma
saudável no mundo digital e recomenda estratégias para aprimorar a saúde
mental para quem trabalha em comunicação.
Além de Mar Cabra, o curso tem como instrutores a jornalista, coach e
especialista em redão de estresse Aldara Martitegui e o brasileiro
Guilherme Valadares, professor de equilíbrio emocional e pesquisador em
saúde mental e jornalismo.
Curso gratuito do Knight Center
ajuda a lidar com burnout
Por muito tempo, a
instria do
jornalismo abraçou
e glorificou a
cultura ‘sempre
conectada’.
A pandemia
acelerou e
amplificou seus
efeitos sobre o
bem-estar dos
jornalistas.
Estamos vendo
agora as
consequências
negativas para os
jornalistas e para a
profissão.”
MAR CABRA | THE SELF-INVESTIGATION
Mais informações sobre o curso podem ser vistas aqui.
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