Londres –  A Iran International TV retomou nesta segunda-feira (26) suas transmissões a partir de Londres depois de ter sido obrigada a transferir as operações para os EUA diante de ameaças contra a sua equipe atribuídas pelas autoridades da Grã-Bretanha ao governo do Irã, na sequência dos protestos contra a morte da jovem curda Mahsa Amini

Com sede em Londres, a rede é o principal canal independente de notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana, assistida por um público de mais de 30 milhões de pessoas, entre a população iraniana e a diáspora global.

O antigo estúdio no Chiswick Park não será mais usado. A rede funcionará em novas instalações mais protegidas na região norte da capital britânica, sob orientação de segurança por parte Scotland Yard (a polícia metropolitana de Londres). 

Ameaças do Irã informadas pela Scotland Yard

As transmissões do canal ganharam um significado especial desde que os os protestos anti-regime eclodiram no Irã em setembro. Autoridades iranianas elevaram o tom das ameaças à Iran International e a outras emissoras persas sediadas no exterior, já que o governo bloqueou a Internet para limitar o acesso do público a informações.

Segundo a Iran International, o regime iraniano culpou as emissoras persas estrangeiras, como ela própria e a BBC Persian, por “fomentar a agitação”, enquanto toda a mídia do país segue sob rigoroso controle do governo e apresenta os manifestantes como “motimistas” e “terroristas”.

Em novembro, dois profissionais da equipe da TV em Londres foram notificados pelas autoridades que suas vidas e as de suas famílias estavam sob risco, segundo comunicado distribuído pela rede Volant Media, que controla o canal. A polícia passou a vigiar a sede. 

No dia 13 de fevereiro de 2023, um homem foi preso nos arredores do escritório da rede e acusado de crimes de terrorismo em conexão com o caso. Ele está sob custódia, aguardando julgamento no Tribunal Penal de Londres.

Cinco dias depois, a Iran International TV suspendeu temporariamente as transmissões a partir de Londres, transferindo suas operações para Washington, nos EUA. 

Mahmood Enayat, gerente geral, agradeceu à polícia e ao governo britânicos pelo apoio na proteção da equipe, “proporcionando um regresso seguro a Londres e contribuindo para a causa mais ampla da liberdade de imprensa global.”

Governo do Irã continua ameaçando a mídia no exílio

Mas as ameaças não cessaram. Segundo a direção da Iran International, autoridades do regime, incluindo vários comandantes da Guarda Revolucionária, continuam atacando a rede e outros meios de comunicação estrangeiros.

No início deste mês, o ministro da Inteligência do Irã, Esmail Khatib, reiterou ameaças contra a Iran International em todo o mundo “onde e quando for considerado necessário”, disse a emissora.

“Ele enfatizou que a República Islâmica não se absteria de medidas invasivas contra os profissionais do canal”.

De acordo com a Iran International, o ministro disse acreditar que a Iran International é uma rede terrorista, e por isso considera dever e missão agir contra ela “onde e quando apropriado”, alertando que “nenhuma mídia terrorista estará segura”.

O estado da liberdade de imprensa do Irã 

O Irã ocupa o 178º lugar entre 180 países no ranking de liberdade de imprensa da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Em sua análise anual publicada em abril deste ano, a RSF explica que como mídia do país é amplamente controlada pelo regime islâmico, as principais fontes de notícias são os meios de comunicação baseados no exterior, como a Iran International.

A ONG destacou que jornalistas e meios de comunicação independentes no Irã são constantemente perseguidos por meio de prisões arbitrárias e sentenças muito pesadas “proferidas após julgamentos grosseiramente injustos perante tribunais revolucionários”.

E salientou o papel do governo:

“O líder supremo Ali Khamenei frequentemente acusa a mídia independente de ser manipulada por forças estrangeiras.

Como chefe das principais instituições políticas, militares e judiciais do país, ele pode ordenar a prisão de jornalistas e sentenciá-los a longas penas de prisão e até mesmo à pena de morte.”

Segundo a RSF, o artigo 24º da Constituição garante a liberdade de imprensa, mas a lei de imprensa de 1986 (alterada em 2000 e 2009 para abranger publicações online) permite que as autoridades assegurem que os jornalistas não “ponham em perigo a República Islâmica”, “não ofendam o clero e o Líder Supremo” e não “divulguem informações falsas”.