Londres – O príncipe Harry teve nesta quarta-feira uma pequena vitória em sua batalha jurídica contra os tabloides britânicos: o Daily Mail pediu desculpas por ter utilizado “recursos ilegais” ao contratar um detetive particular para seguir seus passos em uma boate, em 2004. 

O pedido foi feito na abertura do julgamento do processo movido por Harry junto com outras celebridades contra o tabloide Daily Mail. Eles acusam o jornal de práticas ilegais, principalmente o hackeamento de mensagens de voz nos telefones dos alvos. 

As desculpas foram extensivas à atriz Nikki Sanderson, também bisbilhotada por detetives. A causa envolve ainda o ator Michael Turner, da série Coronation Street, e Fiona Wightman, ex-esposa do comediante Paul Whitehouse, a cantora Cheryl, o jogador de futebol e apresentador de TV Ian Wright e o espólio do falecido cantor George Michael. 

Em documentos judiciais divulgados no início do julgamento, o grupo MGN, dono do jornal, admitiu haver “alguns indícios de instrução de terceiros para a prática de UIG (sigla para unlawful information gathering, ou coleta ilícita de informação) relativamente a cada um dos requerentes”, justificando “compensação”. 

No documento protocolado, o advogado Andrew Green confirmou um registro de pagamento de £ 75 em fevereiro de 2004, sem especificar a informação que teria sido obtida pelo detetive contratado. 

“O MGN pede desculpas sem reservas […]  e garante aos reclamantes que tal conduta nunca será repetida”.

No entanto, o pedido não deve mudar muito a situação, pois o ponto central do processo é o esquema de escuta das mensagens de voz, documentado em provas apresentadas pelos advogados dos autores nesse primeiro dia do julgamento. 

E mesmo em relação à contratação de detetives, a acusação sustenta que ela aconteceu pelo menos 114 vezes entre 1997 e 2011, e não apenas uma. 

Além de Harry, o Mirror teria também contratado detetives para seguir o então príncipe Charles seis vezes, a princesa Diana 12 vezes e uma série de outras pessoas ligadas a Harry e à família real.

O jornal teria gasto US$ 10 milhões entre 1995 e 2011 com detetives. 

Advogados de Harry acusam ex-editor do tabloide 

Neste primeiro dia, o julgamento do caso expôs o nome de um dos principais jornalistas britânicos, Piers Morgan, que na época era editor do Daily Mirror. 

Ele se tornou âncora de TV e hoje trabalha na TalkTV.

Em 2021, perdeu o emprego no programa matinal da ITV ao levantar dúvidas sobre a veracidade dos pensamentos suicidas de Meghan Markle, revelados pela duquesa de Sussex na entrevista bombástica à apresentadora Oprah Winfrey. 

Segundo a acusação do processo contra o Daily Mirror e os outros títulos do grupo MGM, Morgan tinha conhecimento do uso de escutas telefônicas e da contratação de detetives.  

Documentos protocolados pela acusação relatam um episódio em que Morgan teria pedido a um jornalista da equipe que indicasse a fonte de uma notícia. Foi então informado que a história havia sido descoberta em uma mensagem de correio de voz. 

Em outra situação, o então editor do Daily Mirror teria zombado de Paul McCartney abertamente dentro da redação, comentando de forma jocosa uma mensagem de voz do cantor para a então namorada, Heather Mills. 

Outro documento apresentado pela acusação afirma que uma das namoradas do príncipe Harry, Chelsy Davy, desistiu do relacionamento depois de ver sua vida privada invadida. 

O advogado David Sherborne afirmou ao tribunal que as atividades do jornal, incluindo o suposto acesso não autorizado a suas mensagens de voz, “causaram enorme angústia e criaram um sentimento de paranóia nos relacionamentos”.

Falando em nome do príncipe Harry, Sherbone disse que o alvo das escutas passou a suspeitar de  qualquer pessoa mencionada em reportagens sobre ele, sentindo que não podia confiar em ninguém. 

“Toda vez que ele estava em um relacionamento, ou mesmo quando havia apenas rumores de um namoro, toda a família dessa pessoa, e muitas vezes seus amigos, eram ‘arrastados para o caos’, sujeitos a atividades ilegais por parte do grupo MGM”.

A previsão é de que o julgamento se estenda por sete semanas. 

Além da ação contra o Daily Mirror, o príncipe Harry tem também outro processo em curso por uso de escutas telefônicas, contra a editora que publica o tabloide Daily Mail. 

Junto com ele na causa estão Elton John, o marido do cantor, David Furnish, as atrizes Liz Hurley e Sadie Frost e Doreen Lawrence, mãe de um adolescente assassinado, Stephen Lawrence.