Londres – O jornal britânico The Guardian anunciou que não renovará o contato com o cartunista Steve Bell e deixará de publicar seus trabalhos, depois que uma charge retratando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, provocou críticas por uma suposta abordagem antissemita. 

O trabalho mostra o político usando luvas de boxe e cortando seu próprio abdômen com o contorno da Faixa de Gaza, onde violentos combates acontecem desde a semana passada. A legenda diz “Residentes de Gaza, saiam agora”.

As críticas foram pela associação com Shylock, o personagem agiota judeu de O Mercador de Veneza, de Shakespeare, que no clássico do dramaturgo inglês insiste no “quilo de carne” que lhe é devido. 

Mensagem sugerindo que cartoon seria antissemita

Pelo Twitter, Bell contou ter enviado o desenho do dia ao jornal e em seguida recebido uma mensagem “enigmática” do Guardian:

“Jewish bloke; pound of flesh; antisemitic trope” (ou “cara judeu, quilo de carne, metáfora antissemita”, em tradução livre).

Cartoon de Steve Bell do The Guardian foi criticado por suposta abordagem antissemita

Ele afirmou que a inspiração foi um cartoon dos anos 60 do retratando o então presidente dos EUA, Lyndon B. Johnson, com uma cicatriz no torso em forma de mapa do Vietnã.

O desenho não foi publicado pelo jornal, mas Bell postou em sua conta no Twitter. No fim de semana, o jornal confirmou a dispensa. 

Não é a primeira polêmica envolvendo o cartunista, que há 40 anos trabalha para o Guardian, um jornal alinhado à esquerda. 

Em 2020, ele desenhou a então Secretária de Estado Priti Patel como um touro obeso e deformado, ao lado do primeiro-ministro Boris Johnson, provocando reação por sugerir uma referência à origem indiana de Patel.

Outro cartoon recente retratando as duas principais figuras do partido Trabalhista, Keir Starmer e Jeremy Corbin, também gerou percepção de antissemitismo. 

Guardian não mencionou o desenho polêmico

A nota do Guardian anunciando o desligamento do desenhista não se refere ao cartoon retratando Netanyahu: 

“Foi tomada a decisão de não renovar o contrato de Steve Bell.

Os desenhos de Steve Bell têm sido uma parte importante do Guardian nos últimos 40 anos – agradecemos-lhe e desejamos-lhe tudo de bom.”

Ele tem contrato com o jornal até abril de 2024, mas os trabalhos não serão mais publicados, para revolta do cartunista. 

Pelo Twitter, Bell disse que ficou cada vez mais difícil ter “liberdade” criativa no Guardian devido aos processos implementados com o objetivo de impedir a criação de imagens ofensivas.

Muitos usuários da plataforma criticaram a abordagem do cartunista, enquanto outros aproveitaram para defender os ataques do Hamas a Israel no espaço de comentários.