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Transmissão de colapso do jogador Eriksen pela TV gera protestos contra BBC e onda de fake news

Christian Eriksen - Foto: perfil Instagram

Londres -O colapso em campo do jogador de futebol Christian Eriksen, da seleção dinamarquesa e da Inter de Milão, no último sábado (12/6) deixou pelo menos duas sequelas. E não foram para o atleta.

O caso desencadeou uma onda de fake news sobre a vacina contra a Covid-19 nas redes sociais. E valeu à rede britânica BBC uma enxurrada de críticas por não ter interrompido a transmissão assim que ele desmaiou, expondo aos espectadores o drama de Eriksen enquanto outras emissoras suspenderam as imagens imediatamente. 

Fake news dispararam 

A extensão da boataria que se seguiu ao episódio do jogador foi tamanha que a organização First Draft, que combate a desinformação nas redes sociais, divulgou na segunda-feira um comunicado sobre os informações que passaram a circular desde domingo, esclarecendo vários mitos e  mapeando sua origem. 

Segundo a First Draft, as fakes news que passaram a inundar as redes insinuavam que o incidente seria fruto de uma miocardite provocada pela administração da vacina. Os boatos levavam em conta a investigação que a Agência Europeia de Medicamentos faz de uma possível ligação entre miocardite e vacinas baseadas em RNA – não importando o fato de que o jogador de 29 anos nem fora vacinado.

A organização afirmou que o boato de que Eriksen havia recebido a vacina da Pfizer parece ter sido fortemente promovido pelo físico e blogueiro Luboš Motl, que compartilhou afirmações falsas e enganosas sobre a Covid-19 e as vacinas. E que a postagem de Motl no Twitter foi, por sua vez, ampliada por figuras como Alex Berenson, um ex-jornalista do New York Times criticado por fazer afirmações falsas e enganosas sobre as vacinas Covid-19. O blogueiro brasileiro Allan dos Santos também foi citado pela First Draft.

O atual time de Eriksen, o Internazionale de Milão, teve de esclarecer que o jogador não havia sido vacinado e nem havia contraído a doença anteriormente.  

Motl acabou apagando a postagem, mas Berenson manteve sua posição, argumentando que o esclarecimento fora feito pelo time pelo qual o jogador não estava atuando e chamando a atenção para o fato de que nem Eriksen ou sua equipe médica falaram o status de sua vacinação apesar de terem se passado dois dias do incidente: 

Imagens chocantes

Independentemente da razão para o ocorrido com Eriksen, as emissoras que não cortaram a transmissão assim que perceberam a gravidade do fato – que teve direito ao uso de fortes choques do desfibrilador que faziam o corpo do jogador estremecer no gramado – entraram na linha de tiro. Principalmente a BBC. 

Assim que o atleta caiu em campo, as redes sociais britânicas foram tomadas por espectadores protestando. Muitos diziam estar vendo o jogo com os filhos, que ficaram chocados e assustados. E pediam para que a imagem fosse cortada. 

O próprio comentarista da emissora, Ian Wright, ex-jogador de futebol, alertou:

“Cortem para o estúdio!!!!”

As críticas logo se tornaram generalizadas nas redes. Vários outros nomes importantes do esporte criticaram a forma como a empresa lidou com a situação. Jermaine Beckford, também ex-jogador da Premier League, ecoou seu colega atacante Wright ao postar nas redes sociais: “Isso precisa ir para o estúdio agora!”

Frank Bruno, ex-boxeador, disse:

“Isso não é bom para o público. Basta voltar ao estúdio e pensar em quem está assistindo”. 

BBC tentou culpar a UEFA

Para se defender das críticas recebidas dos telespectadores pelas cenas fortes que manteve no ar, a BBC emitiu um comunicado de desculpas, mas dando a entender que a culpa seria da UEFA, entidade que comanda o futebol europeu e organizara da competição:

“Pedimos desculpas a todos que ficaram chateados com as imagens transmitidas. A cobertura no estádio é controlada pela UEFA e assim que a partida foi suspensa, retiramos nossa cobertura do ar o mais rápido possível.”

A UEFA rebateu dizendo que cabe às emissoras transmitir ou não as imagens geradas:

“Todas as emissoras tinham a possibilidade de interromper a transmissão ao vivo e voltar ao seu estúdio, e tanto é assim que muitas delas o fizeram. Foi, portanto, uma escolha editorial da BBC ficar com as imagens ao vivo ou não.”

Depois da troca de comunicados, o jornal The Times informou que uma revisão interna está sendo realizada pela BBC sobre o caso. Executivos disseram ao jornal que foi uma “decisão surpreendente” continuar transmitindo e que “perguntas estavam sendo feitas”.

O ex-craque da seleção inglesa Gary Lineker, que estava à frente da equipe no estúdio, também pediu desculpas pelo Twitter:

“Todos na BBC esperam que Eriksen se recupere totalmente, e pedimos desculpas aos que ficaram chateados com as imagens transmitidas.”

Em uma entrevista ao jornal The Times publicada nesta terça-feira (15/6), Linkeker voltou ao assunto. Ele é uma das pessoas mais seguidas nas redes sociais em todo o país, e recebe o salário mais alto da BBC, com sua imagem fortemente associada à da rede pública. 

Lineker disse que sua reação foi “de choque”.  Ele revelou que a equipe estava preparando comentários para o intervalo destacando Eriksen como o melhor em campo no momento em que o jogador desabou. 

“Nossa reação foi a de qualquer um que estivesse em casa”, disse. E contou que sinceramente acreditou que o atleta não tivesse resistido, remetendo à história do jogador Fabrice Muamba, que também teve um mal súbito diante das câmeras em campo em 2012.

Lineker comentou sobre a dificuldade de uma transmissão ao vivo, marcada pelo inesperado, exigindo da equipe se adaptar às circunstâncias. O astro confirmou ter sido o momento mais difícil de sua carreira em 25 anos, como havia postado no Twitter no dia do incidente. 

O episódio vem em má hora para a BBC, somando-se a outras críticas recebidas recentemente pela emissora depois da publicação de um relatório confirmando a fraude na entrevista com a princesa Diana há 26 anos. E no momento em que a rede virou alvo de uma nova emissora, a GB News, criada por setores do partido Conservador para se contrapor ao que consideram uma cobertura inadequada sobre os fatos do país. 

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