Preocupado com o futuro sustentável do jornalismo, o Fórum de Informação e Democracia, que reúne acadêmicos e profissionais de imprensa de organizações civis mundiais, propõe uma redefinição da maneira como a atividade é regulada e financiada.

O relatório “A New Deal for Journalism” (Um Novo Acordo para o Jornalismo), publicado neste mês de junho, vê a situação da mídia quase como o New Deal original, acordo político que redefiniu as relações comerciais globais, via a Europa pós-Segunda Guerra: uma terra arrasada.

Para o grupo de trabalho que preparou este relatório, o jornalismo independente vive a possibilidade de um “evento de extinção em massa”. O principal contra ataque para reverter esta situação seria uma atuação governamental em escala mundial, destinando 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) das nações para assegurar a sobrevivência do ofício, crucial à democracia.

A ascensão de uma classe política avessa à mídia, e a mudança radical nas formas de obtenção de receita, põem o negócio a perigo, alerta o relatório. Para garantir a continuidade de publicações jornalísticas, com trabalho relevante e imparcial, a tese defendida pelo fórum é a de que governos devem agir além de falar, financiando globalmente a atividade.

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O modelo principal de financiamento proposto se inspira na discussão do G7 sobre um imposto global. “Se esta seria parte do que a democracia custa, é um preço pequeno a pagar”, argumenta o presidente do fórum, Christophe Deloire.

Governo precisam agir, afirma Nielsen

Outras iniciativas sugeridas pelo relatório seriam o financiamento direto, fundos de investimento e a isenção de impostos para empresas de jornalismo, o que “em alguns países significariam centenas de milhões de dólares” em investimentos.

Rasmus NIelsen / Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo

“O relatório identifica uma gama entre os passos mais importantes que governos poderiam dar, desde já, para ajudar a garantir a liberdade, financiamento e o futuro que os jornalistas precisam para fazerem seus trabalhos”, afirma Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo, na Universidade de Oxford (Inglaterra), e chefe do grupo de trabalho responsável pelo texto.

Para Nielsen, os governos têm de fazer algo mais do que apenas falar sobre a questão. “Eles precisam agir, e a realidade até aqui é que, no melhor cenário, eles até este ponto não fizeram nada.”

“Ação histórica para um momento histórico”

A salvaguarda para passar o pires seria a de que este dinheiro fosse endereçado prioritariamente a publicações menos favorecidas, de alcance local e dedicadas a minorias. A distribuição dos fundos deve ficar a cargo de órgãos dedicados à administração desta ajuda à imprensa, a serem definidos.

Em termos de regulação, entre as propostas levantadas pelo fórum estão o enquadramento de entidades de jornalismo sem fins lucrativos como caridade, para facilitar doações. Outra questão abordada é como as plataformas — redes como Facebook e Twitter–, podem contribuir financeiramente para com o jornalismo, além das iniciativas existentes. 

O objetivo é ambicioso e o fórum admite, colocando o seu new deal como uma “ação histórica para um momento histórico”. Porém o relatório não deixa de ser realista, afirmando, em certo ponto, que taxar plataformas de redes sociais, por exemplo, envolve “questões extremamente fluidas, e as respostas estão em seus momentos iniciais”.

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