O desejo de ver um país diferente, mais inclusivo, é o que move um grupo de mulheres americanas reunidas no coletivo We, Women. Criado logo após a ascenção de Donald Trump ao poder, o coletivo usa imagens para tratar de questões que afetam as mulheres na América. 

Os projetos nasceram de uma frustração mútua com as profundas divisões políticas que ocorreram nos Estados Unidos nos últimos anos. E retratam questões cruciais como imigração, educação, mudança climática, raça, maternidade e família, controle de armas, saúde, religião, reforma da justiça criminal, gentrificação e agressão sexual.

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Uma seleção de trabalhos do coletivo está em exposição em Nova York até o dia 12 de setembro. A mostra”The Power of We” (O poder do “nós”, em tradução livre) segue depois para outras cidades americanas.

Conheça alguns dos trabalhos:  


Tolerância religiosa, sexualidade e gênero – por Ericka Jones-Craven – Geórgia

O projeto “Up for Air” convida pessoas religiosas e não religiosas a refletir  sobre como corpos negros de pessoas com diferentes identidades sexuais transitam nos espaços religiosos. Nas igrejas negras, a ‘queerness’ está presente, mas raramente é abordada ou mencionada, pois é considerada uma ameaça tanto à masculinidade quanto à feminilidade.

(Ericka Jones-Craven/Divulgação/We, Women)
Saúde Materna – por Bethany Mollenkof – Alabama

.“Descobri que estava grávida, pela primeira vez, de uma menina, três meses antes da pandemia da Covid-19 começar nos Estados Unidos, o que me obrigou a ficar em Los Angeles.” A própria gravidez motivou Bethant Mollenkof a documentar em imagens a experiência de mulher negra grávida em “circunstâncias extraordinárias”. 

(Bethany Mollenkof/Divulgação/We, Women)
Direitos Indígenas – por Tailyr Irvine – Montana

Uma aprovada em 1934 determina que os indivíduos devem ter uma determinada fração de sangue indígena, ou quantum de sangue, para se inscreverem como membros de uma tribo nos Estados Unidos. 

No projeto Reservation Mathematics: Navigating Love in Native America, a  fotojornalista Tailyr Irvine entrevistou indígenas em Missoula e e na Reserva Indígena Flathead, no oeste do estado de  Montana. Por meio de sete histórias, Irvine mostra como os requisitos quânticos de sangue estão cada vez mais pressionando a vida dessas comunidades. 

Eles compartilharam suas preocupações pessoais, sociais e políticas sobre o sistema, que impacta decisões pessoais dos nativos americanos, incluindo a escolha do parceiro para terem filhos de forma a garantir que herdem os mesmos direitos. 

Na foto, uma imagem da carteira de identidade tribal de Prairie Cocowee Antoine, que é 145/256 Salish e Kootenai. Prairie tem sangue Salish e Kootenai suficiente para que seus futuros filhos atendam ao requisito quântico mínimo de 1/4 de sangue, independentemente de seu futuro parceiro.

(Tailyr Irvine/Divulgação/We, Women) 
Representação nos Esportes – por Annie Flanagan e Ashley Teamer – Lousiana

Em 1973, após a aprovação do Title IX (lei federal de direitos civis que proíbe a discriminação com base no sexo nas escolas) , Mary Dixon Teamer fundou na Dillard University, em Nova Orleans,o time Lady Bleu Devils. Quase 50 anos depois, a neta de Mary, Ashley Teamer, junto com Annie Flanagan, passaram a documentar a equipe atual. 

Por meio de uma série de outdoors em Nova Orleans exibidos este ano, o projeto inseriu as mulheres negras na paisagem da cidade, destacando a importância do trabalho em equipe e as complexidades de cada jogador em sua busca da excelência atlética e acadêmica em uma universidade historicamente negra.

(Annie Flanagan e Ashley Teamer/Divulgação/We, Women)

Mudanças climáticas – por Katie Basile – Alasca

“Dear Newtok” é um projeto de aconselhamento audiovisual produzido por residentes do Delta de Yukon-Kuskokwim, no sudoeste do Alasca, uma das primeiras regiões dos Estados Unidos a experimentar relocação forçada devido à crise climática.

Uma das etapas do projeto retrata aldeia Yup’ik de Newtok, onde a linha costeira está se desgastando rapidamente devido ao aquecimento global. A comunidade está se mudando para o vilarejo recém-construído de Mertarvik, a 14,5 km de distância.

Usando palavras e imagens, o Dear Newtok oferece conselhos e idéias sobre como se adaptar a um mundo em mudança.

Na foto, Drake Charles e Jeffrey Charles Jr. pescam ao longo das margens do Baird Inlet em Mertarvik, Alasca, em 15 de julho de 2020.

(Katie Basile/Divulgação/We, Women)
Imigração – por Sol Aramendi – Nova York

Em “The Workers Studio”, a fotógrafa Sol Aramendi documentou o cotidiano de membros da comunidade imigrante em Nova York. 

Embora os imigrantes desempenhem funções essenciais para o crescimento da economia, eles foram afetados de forma desproporcional pela pandemia da Covid-19. Para lidar com o impacto, as mulheres criaram  sistemas alternativos de ajuda mútua nas comunidades.

(Vero Ramirez/Divulgação/We, Women)

Imigração e Detenção – por Cinthya Santos Briones – Nova Jersey

“Espaços de Detenção” é um projeto colaborativo que examina como a infraestrutura e a arquitetura em quatro centros de detenção no estado de Nova Jersey moldam as interações sociais e afetam o bem-estar e a saúde mental dos migrantes. Por meio da coleta de narrativas autobiográficas, os migrantes detidos nessas prisões relatam suas experiências na forma de desenhos, escritos e colagens de fotos.

Esta colagem foi criada usando narrativas de migrantes sobre sua jornada de migração e experiência nos centros de detenção. 

(Cinthya Briones/Divulgação/We, Women)

Área metropolitana: migração – por Koral Carballo, Anita Pouchard Serra e Jessica Ávalos – Washington, DC

“Welcome to Intipuc City” é um projeto multimídia colaborativo de autoria de Jessica Avalos, Anita Pouchard Serra e Koral Carballo,  que usa imagens e palavras para reconfigurar as imagens da migração salvadorenha para Washington D.C., Maryland e Virgínia.  

O objetivo é mudar a imagem dos migrantes centro-americanos estigmatizados pelo discurso de ódio e mostrar a complexidade das identidades transnacionais por meio de suas histórias de vida. 

O projeto inclui instalações em empresas salvadorenhas nos EUA para homenagear o orgulho das pessoas de serem migrantes. 

Na foto, mulheres lêem uma revista ‘Welcome to Intipuc City’ no salão de beleza Golden Scissors, em Washington D.C., durante uma exposição comunitária no início de 2020.

(Koral Carballo, Anita Pouchard Serra e Jessica ÁvalosDivulgação/We, Women)

Justiça Criminal e Classes no Estado de Washington – por Deborah Espinosa – Washington

“Eles também sofrem. Por tudo que fiz no passado, eles sofrem agora. Meu passado está me assombrando”, disse Keshena de Tacoma. Ela é mãe de dois adolescentes. O filho mais velho está a caminho da prisão. Seu marido também está cumprindo pena, assim como seu padrasto. Devido a várias condenações por falsificação, que lhe custraram quatro anos e meio de prisão, Keshena agora deve aproximadamente US$ 50 mil em obrigações financeiras legais.

(Deborah Espinosa/Divulgação/We, Women)

Segregação, Desigualdade e Raça – por Tonika Johnson – Illinois

O projeto “Folded Map” conecta residentes que moram em endereços correspondentes em lados opostos de Chicago, em bairros com grandes diferenças raciais e econômicas, para investigar como a segregação sistêmica afeta as pessoas.

O que começou como um estudo fotográfico evoluiu para uma projeto multimídia, convidando o público dialogar sobre como todos são impactados pelas condições sociais, raciais e institucionais causam segreação. O objetivo  é ajudar as pessoas a entenderem como os ambientes urbanos são estruturados e buscar soluções. 

Na foto, os “gêmeos do mapa” Nanette, à esquerda, residente do sul de Chicago, e Wade, à direita, que mora no norte, posam juntos na varanda de Wade.

(Tonika Johnson/Divulgação/We, Women)


Saúde Rural – por Stacy Kranitz – Tennessee

Em “There Ain’t No Grave Gonna Hold My Body Down”, Stacy Kranitz aborda  a falência da saúde rural em Appalachia. Kranitz fez parceria com organizações de saúde para abordar problemas das pessoas que vivem na área rural, no contexto da crise por que passa o  sistema público de saúde nos Estados Unidos.

(Stacy Kranitz/Divulgação/We, Women)

Imigração e liberdade religiosa – por Muna Malik – Minnesota

Imigrante negra iemenita de primeira geração, Muna Malik criou o projeto “Our Family” (Nossa Família), que examina como a cultura molda a forma como as pessoas veem a si mesmas e enxergam as outras, tendo como pano de fundo histórias de separação de famílias dos Estados Unidos. O trabalho tomou como referência a comunidade somali em Minnesota durante o período do banimento de viagens a países islâmicos decretado por Donald Trump em 2017. 

(Muna Malik/Divulgação/We, Women)


Agressão sexual – por Rosem Morton – Maryland

“Dear Survivor” (Querida sobrevivente)  é uma coleção visual que empodera sobreviventes de traumas sexuais por meio da colaboração e expressão de suas próprias narrativas. A série destaca a prevalência da violência sexual e questiona como se pode quebrar esse ciclo.

Segundo Morton, um americano é agredido sexualmente a cada 73 segundos. “Mesmo assim, os sobreviventes carregam o fardo pesado e doloroso de exigir ação e envolvimento de sua família, amigos e comunidade”, diz. 

Na foto, Kelli, uma sobrevivente do tráfico humano familiar, ajusta sua pilha de pulseiras, entre elas uma que diz: “Seja forte e corajosa”. No momento da foto, ela estava a prestes a receber alta, depois de um tratamento de reabilitação para reaprender a falar e andar após sofrer um derrame.

“Eles me chamam de durona por aqui”, ela diz, contando sosbre sua surpreendente recuperação. “Eu sou uma sobrevivente e bastante resistente. Não posso viver minha vida com medo”.

(Rosem Morton/Divulgação/We, Women)


 Imagens reproduzidas mediante autorização do projeto We,Women: The Power of we.

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