As expressões faciais de atletas durante competições em que limites físicos são desafiados ao extremo nem sempre são agradáveis. Mas para o governo chinês, a imagem de uma halterofilista nas Olimpíadas de Tóquio feita pela agência Reuters virou questão diplomática.

A embaixada chinesa no Sri Lanka usou o Twitter para reclamar da “foto feia”, acusando a agência de preconceito. 

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A foto mostrava a halterofilista chinesa Hou Zhihui se esforçando para levantar uma barra, na competição em que ganhou a medalha de ouro. 

Alfinetada com direito a montagem fotográfica

O primeiro tuíte da embaixada dizia: “Não coloque a política e as ideologias acima dos esportes e se apresente como organização de mídia imparcial. Vergonhoso. Respeite o espírito das Olimpíadas”.

Em outro, a embaixada comparou a expressão da chinesa com a de outros atletas retratados pela Reuters, e criticou o que considerou fruto de discriminação. 

“Talvez seja porque tudo de bom na vida vem mais fácil para os ocidentais brancos?” Hou aparece com uniforme da China na montagem.

Efeito rebote
China Daily usa imagem de atleta chinesa nos mesmo moldes da foto criticada por embaixada. (Reprodução/Twitter)

A ação da embaixada acabou virando motivo de chacota, pois as agências de notícias estatais Xinhua, Sina e o jornal China Daily também publicaram imagens semelhantes, embora a última tenha sido substituída.  

Reproduzindo a página do Daily, o internauta Matt Knight ironizou: “Vocês vão se desculpar primeiro com Hou Zhihui e depois com a Reuters?”

Há quem concorde com a reclamação. Usuários da rede social chinesa Weibo apoiaram, criticando o tratamento da mídia ocidental ao país.

Nas redes ocidentais, livres da intervenção estatal chinesa, as opiniões não foram tão favoráveis. 

Curiosamente, a própria embaixada do Sri Lanka tuitou ontem uma foto de outro halterofilista, o medalhista de ouro Li Fabin, com expressão de esforço, assim como a imagem que gerou a reclamação original. Porém, aparentemente o corpo diplomático chinês desta vez não viu problema.

CNN também foi alvo da embaixada “indignada”

Para rebater as previsíveis críticas de que estaria de “mimimi” nas redes, a embaixada buscou no dia 24/7 imagens de outro veículo da imprensa ocidental, desta vez a CNN, para reforçar a sua tese de perseguição e preconceito.

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Reproduzindo uma manchete do grupo americano de mídia, o perfil no Twitter da representação diplomática comentou: “Qualquer um que ainda considera que a embaixada está reagindo exageradamente a reportagens ocidentais contra a China, e acredita que elas são imparciais, não políticas e independentes, por favor veja a melhor manchete anti-China/humanidade de hoje, apresentada pela CNN”.

A manchete em questão foi: “Ouro par a China… E mais Covid-19”.

Críticas em defesa da China fazem parte da política internacional

Pequim pediu que suas embaixadas e diplomatas se manifestassem no cenário global e as embaixadas, consulados e diplomatas chineses criaram contas no Twitter nos últimos dois anos, embora, como o Facebook e o Google, ele seja inacessível na internet restrita do país.

Zhao Lijian, que já foi diplomata no Paquistão, foi aplaudido internamente em 2019 após chamar Susan Rice, ex-assessora de segurança nacional dos Estados Unidos, de “uma desgraça” no Twitter, depois que ela o criticou por fazer comentários racistas.

Após a troca de farpas online, Zhao foi promovido a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China. Ele agora é amplamente celebrado na China como um exemplo da diplomacia abrasiva do país.

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