Fotos de macarrão em formato de pênis ou de um “abridor de garrafa sexy” comprados na loja do Museu do Sexo em Amsterdã podem levar uma pessoa à prisão? Na Turquia sob o regime de Recep Erdogan podem, se as autoridades considerarem o conteúdo obsceno.

Esse é o caso da influenciadora de mídia social Merve Tasskin, de 23 anos, que tem 600 mil seguidores no Instagram e cujo caso chegou às páginas dos principais jornais da Europa depois que ela tuitou na semana passada que está sendo processada e terá que se apresentar ao tribunal em outubro.  

Normal na Holanda, obsceno na Turquia

Merve passou ao viver um pesadelo depois de uma viagem dos sonhos a Amsterdã em janeiro do ano passado para comemorar seu aniversário em companhia de dois amigos.

Como sempre faz, ela publicou vários posts dos locais visitados, inclusive do Museu do Sexo, uma parada obrigatória para os turistas que visitam a capital holandesa. Ela tirou selfies, fotografou itens em exposição e os que estavam à venda na loja do museu, e postou tudo com muitas piadas. Os seguidores se divertiram.

Só que as autoridades turcas não acharam graça e consideraram os posts da jovem obscenos.

Pena pode chegar a três anos de prisão

Na Turquia, compartilhar conteúdo obsceno é considerado crime – e os infratores podem ser punidos com multas ou penas de prisão por até três anos.

Ao voltar para Istambul, Merve foi presa duas vezes no ano passado, a primeira alguns meses depois do retorno, durante as férias de verão. Na segunda, teve que prestar declarações a um promotor.

O caso parecia encerrado, mas no início deste ano ela soube que estava sendo processada. Agora ela foi convocada a se apresentar em 26 de outubro perante um juiz, por violar o artigo 226 do código penal, que pune material obsceno considerado ofensivo.

Desde que recebeu a intimação, Merve diz que excluiu muitos tweets para que as autoridades não reclamassem novamente. Apesar do medo, ela diz que irá à audiência no tribunal.

Depois de compartilhar a notícia da intimação em sua conta no Twitter na semana passada, o caso chegou às manchetes na Holanda e daí aos demais jornais europeus.

“Absolutamente ridículo”, diz diretora do Museu do Sexo

Ao saber da notícia, a diretora do Museu do Sexo, Monique van Marle, considerou o caso como “absolutamente ridículo” em entrevista para a jornalista Sophia Galer, da BBC.

A diretora do museu escreveu para Merve classificando-a como “um grande modelo para outras mulheres” e externou sua admiração:

“Nosso museu tem como objetivo educar as pessoas em todo o mundo sobre a história do sexo. Nós a admiramos por se expressar e postar tais fotos.”

Caso reacende críticas à nova lei turca de controle das mídias sociais

O episódio reacendeu as críticas ao regime de Recep Tayyip Erdogan, que no ano passado conseguiu que o parlamento turco aprovasse uma nova lei, mais rígida, para aumentar a censura e o controle do uso dasplataformas de mídia social.

Grupos de direitos humanos atacaram o governo, alegando que o caso da influenciadora não é único, e que sites, editores e críticos dos duros valores conservadores e islâmicos do presidente foram censurados e processados por obscenidade sob a lei turca.

Ativistas da Freedom House, sediada em Washington, disseram que a Turquia “continua sendo um dos lugares mais desafiadores da região europeia para exercer o direito à liberdade de expressão” e que “jornalistas, ativistas e figuras de oposição enfrentam perseguição generalizada por criticar o governo”.

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