A agência de checagem de informações First Draft divulgou nesta segunda-feira (9/8) a existência de uma nova teoria da conspiração promovida no Facebook na Austrália, com uma campanha associando restrições impostas pela pandemia a uma estratégia de controle de natalidade conduzida por “elites globalistas”.
A autoria não é de uma pessoa desconhecida ou grupo misterioso, mas sim de um membro do Parlamento australiano, George Christensen, político de extrema direita com histórico de disseminação de notícias falsas e rejeição a medidas de combate ao coronavírus
Os anúncios identificados pela organização na biblioteca de anúncios do Facebook já haviam recebido entre 40 mil e 45 mil impressões. Christensen pagou entre R$ 384 e R$ 1.140 por cada post.
A campanha patrocinada pelo parlamentar convoca a população da Austrália a se unir contra o “controle da população” por parte de políticos e líderes da economia global.
Segundo ele, a pandemia estaria sendo explorada para decidir como “cidadãos comuns viverão, trabalharão, se comunicarão e farão negócios no futuro”.
“A Grande Reinicialização”
A ação é baseada em uma cruzada empreendida por Christensen contra a proposta do Fórum Econômico Mundial de aproveitar a pandemia para um “Grand Reset” (grande reinicialização), a fim de tornar o mundo mais saudável, justo e próspero. A ideia foi apresentada em um documento em 2020 e defendida pelo príncipe Charles e pelo chefe do Fórum, Klaus Schwab.
“Temos uma oportunidade incrível de criar indústrias sustentáveis inteiramente novas. A hora de agir é agora”, disse o príncipe.
Em um post do dia 5 de agosto, o parlamentar australiano explica porque discorda:
“As elites globalistas estão usando a pandemia como oportunidade para fundir socialismo e corporativismo e incorporá-los permanentemente em nossa economia e sociedade.”
Parlamentar tem site dedicado a teoria da conspiração
Os anúncios pela rejeição da versão de The Great Reset criada por Christensen estão vinculados a seu site, pelo qual ele convoca a população a assinar uma petição.
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O site é inteiramente dedicado a combater a proposta da “reinicialização”, com uma logomarca que utiliza a imagem da foice e do martelo, imagem ligada ao comunismo.
Em outra publicação paga no Facebook, Christensen vai além ao afirmar que médicos australianos estariam deixando bebês nascidos vivos de aborto morrerem sem auxílio.
“Na maioria dos estados australianos, os médicos não são obrigados a fornecer assistência médica a crianças nascidas vivas como resultado de um aborto. Esses bebês são deixados para respirar até morrer.”
“Eles merecem os mesmos direitos e tratamento médico que qualquer outro ser humano”, diz o político, para, em seguida, convocar a população a apoiar um projeto de lei que obriga médicos assistentes a tomar medidas para salvar a vida dessas crianças.
Christensen é conservador, contra o Islã e nega o aquecimento global
George Christensen, que se tornou membro da Câmara dos Representantes da Austrália nas eleições de 2010, é conhecido por seu conservadorismo social, por suas críticas ao Islã e pelo negacionismo em relação ao aquecimento global.
Ele já teve que se desculpar depois de ser fortemente criticado por ter participado de um podcast com um defensor do nazismo.
Recentemente, suas manifestações no Parlamento concentram-se em atacar a política de combate à pandemia, consideradas por ele ineficazes. E diz ter provas de que as máscaras são inúteis.
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