Marcando um ano da detenção na China da jornalista australiana Cheng Lei, presa na China por supostamente divulgar informações de Estado para países estrangeiros, amigos, colegas e organizações de imprensa se manifestaram pedindo a sua soltura.
Cheng, que trabalhou durante oito anos para o canal chinês Global Television Network (CGTN), é mantida sob custódia desde 13 de agosto do ano passado, mas sua situação só veio a público em fevereiro deste ano, quando a prisão foi oficializada. Ela aguarda julgamento e, se condenada, pode receber pena de cinco a dez anos de prisão.
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O governo australiano revelou informações de que o jornalista foi inicialmente mantida sob prisão domiciliar. Um acordo bilateral permite que representantes do governo australiano vejam a jornalista uma vez ao mês. Nesses encontros, a jornalista permaneceria vendada e algemada.
Porém, apuração da emissora australiana ABC em fevereiro afirmou que Cheng foi trancada em uma cela sem ar fresco ou luz natural, teria enfrentado vários interrogatórios e perdido o direito a escrever cartas e a fazer exercícios.
Após apelos internacionais ao governo com preocupações por sua segurança e bem-estar, um porta-voz do governo chinês anunciou em setembro de 2021 que Cheng estava sendo detida em um local não revelado por motivos de segurança nacional.
Caso da apresentadora estaria associado a tensão Austrália-China
Por ser incomum a prisão de um jornalista de órgão estatal, o caso de Cheng Lei foi associado à crise diplomática entre a China e a Austrália provocada por pressões para abertura de inquérito sobre a origem da pandemia da Covid-19, que acabaram resultando em sanções a produtos australianos.
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Marise Payne, afirmou que o governo continua “seriamente preocupado com a detenção e o bem-estar da sra. Cheng e tem regularmente levantado essas questões em altos escalões”.
Além de jornalista, Lei tinha atuação destacada em eventos promovidos pela embaixada australiana – mais um fator a associá-la à tensão entre os dois países.
Em outro caso similar, o escritor australiano Yang Hengjun está detido na China desde o início de 2019, também sob a acusação de espionagem, e aguarda um veredicto.
Acusações contra Cheng permanecem sem maior detalhamento
Mais de 50 jornalistas assinaram uma carta aberta de apoio de Cheng, que tem dois filhos pequenos que vivem sob os cuidados de sua mãe idosa em Melbourne, Austrália. Jornalistas, correspondentes estrangeiros, representantes sindicais e líderes da mídia adotaram a hashtag #FreeChengLei.
As acusações contra a apresentadora permanecem obscuras, e uma representante da família já afirmou que não sabe de nenhuma atividade ilegal de Cheng, “ao menos intencional”.
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Há um ano, Cheng desapareceu da cobertura da CGTN e todos os contatos entre ela e seus familiares e amigos cessaram. A emissora também removeu todo o trabalho da apresentadora e seu perfil no site da empresa.
A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) pediu a libertação de Cheng:
“As acusações contra ela devem ser claramente explicadas e ela deve ter o direito ao devido processo. Todos os jornalistas que trabalham na China devem ter um ambiente seguro, onde possam fornecer ao público informações importantes sem medo de serem perseguidos. Cheng Lei deve ser libertada e reunida com sua família o mais rápido possível.”
Colegas relatam que tiveram que assinar papéis após prisão da jornalista
Na imprensa australiana, amigos e colegas relataram a consternação com a prisão da apresentadora, que teria manifestado o desejo de ir a Wuhan, cidade considerada epicentro da pandemia.
Jornalistas da CGTN confirmaram que na época da prisão de Cheng, a maioria recebeu um “compromisso de não divulgação” para assinar, que considerava “todos e quaisquer dados ou informações não públicos da CGTN” como “confidenciais”.
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A relação com os filhos, de 10 e 12 anos, também é citada. A jornalista não fala diretamente com a família desde que foi detida.
As crianças foram para a Austrália no início da pandemia, e permanecem com a mãe de Cheng. O último post da apresentadora no aplicativo WeChat mencionava as crianças.
Cheng se especializou no noticiário econômico
Nascida na China, Cheng mudou-se ainda criança com a família para Brisbane, onde seu pai foi fazer um doutorado, e retornou ao país de origem para tornar-se uma destacada jornalista especializada em economia.
A jornalista tem formação na área e trabalhou em corporações como Cadbury-Schweppes e ExxonMobil. Mudou-se para a China em 2000 e iniciou uma carreira de jornalista no canal em inglês da emissora estatal CCTV em 2003.
Foi correspondente da CNBC na China por nove anos e em 2013 voltou ao canal estatal, que mudou o nome para CGTN.
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