MediaTalks em UOL

Facebook confirma classificação do Taleban como grupo terrorista e bane seu conteúdo da plataforma

Foto: Brett Jordan/Unsplash

Depois de derrubar o governo do Afeganistão, as forças Taleban enfrentam agora um novo inimigo, desta vez no campo de batalha virtual. O Facebook anunciou nesta segunda-feira (16/8) que derrubará proativamente qualquer conteúdo ligado ao grupo.

O gigante da mídia social confirmou que designa o Taleban como um grupo terrorista e por isso proíbe o conteúdo que o apoia em suas plataformas, que incluem o WhatsApp e o Instagram.

Leia também: Afeganistão: Tomada de poder pelo Taleban foi “mais pacífica” que posse presidencial nos EUA, diz mídia estatal chinesa

Um executivo da empresa, Adam Mosseri, disse em entrevista à Bloomberg Television que a decisão leva em conta os riscos que o grupo representa:

“Nós banimos o Taleban de nossos serviços de acordo com nossas políticas relacionadas a organizações perigosas. Isso significa que removemos contas mantidas pelo Taleban ou em nome dele, e proibiremos seu elogio, apoio e representação.”

Facebook mantém equipe fluente em línguas locais do Afeganistão

Mosseri acrescentou que a plataforma tem uma equipe de especialistas em assuntos do Afeganistão, que são falantes nativos de dari e pashto e que têm conhecimento do contexto local, para identificar e alertar sobre conteúdo de apoio ao Taleban:

“A situação está evoluindo rapidamente e tenho certeza que o risco também evoluirá. Teremos que modificar o que fazemos e como o fazemos para responder a esses riscos variáveis ​​à medida que acontecem.”

Também em entrevista à Bloomberg, Emerson Brooking, coautor do livro “LikeWar: The Weaponization of Social Media”, disse que o Taleban usa as redes sociais para mobilizar apoio e as medidas tomadas pelas plataformas podem impactar essa estratégia:

 “As decisões tomadas pelo Facebook e pelo Twitter terão um impacto direto na vida de muitas pessoas que se encontram sob o domínio do Taleban.”

Helicóptero Apache, das forças americanas, sobrevoa área do Afeganistão em 2020. (Andre Klimke /Unsplash)
WhatsApp supostamente segue sendo usado pelo Taleban

Membros do Taleban supostamente continuaram a usar o serviço de mensagens criptografadas de ponta a ponta do Facebook, o WhatsApp, para se comunicarem diretamente com os afegãos, apesar de a empresa proibir isso sob regras contra organizações perigosas.

Leia também: Tomada de Cabul por Taleban agrava riscos para a mídia, com assassinatos de jornalistas e veículos obrigados a fechar

Um porta-voz do Facebook disse que a empresa estava monitorando de perto a situação no país e que o WhatsApp tomaria medidas em qualquer conta que estivesse vinculada a organizações sancionadas no Afeganistão, o que poderia incluir a remoção da conta.

Twitter serviu de plataforma ao Taleban durante retomada

Segundo agências de notícias, porta-vozes do Taleban com centenas de milhares de seguidores utilizaram o Twitter para publicar atualizações durante a retomada do país.

Questionada sobre o uso da plataforma pelo Taleban, a empresa apontou suas políticas contra organizações violentas e conduta odiosa, mas não respondeu às perguntas da agência Reuters sobre como faz suas classificações.

As regras do Twitter dizem que a rede não permite grupos que promovam terrorismo ou violência contra civis.

(Alexander Shatov/Unsplash)
YouTube se recusa a comentar se vai bloquear conteúdo ligado ao Taleban

O YouTube se recusou a comentar à Reuters se tem uma proibição ou restrições ao Taleban.

A empresa se limitou a informar que o Taleban não figura na lista do Departamento de Estado dos Estados Unidos como “Organização Terrorista Estrangeira”, mas sim como “Terrorista Global Especialmente Designado”.

Leia também: NY Times, CNN e grandes da mídia dos EUA pressionam governo a dar asilo a ajudantes da imprensa no Afeganistão

Nessa classificação, as sanções são o congelamento dos ativos americanos e a proibição de que os americanos trabalhem com eles.

Plataformas têm tomado decisões políticas importantes

Ao longo deste ano, as plataformas de mídias sociais tomaram decisões políticas importantes, como os bloqueios do ex-presidente Donald Trump, por incitar à violência em torno da rebelião no Capitólio de 6 de janeiro, ou as proibições aos militares de Mianmar em meio ao golpe no país.

As empresas, que vêm sendo criticadas por legisladores e reguladores globais por sua influência política e econômica, se defendem, como no caso do YouTube em relação ao Taleban, argumentando que dependem de designações estatais ou reconhecimentos internacionais oficiais para determinar quem tem permissão para utilizar suas plataformas.

Evolução do cenário e “decisões subjetivas” podem trazer complicações para plataformas

Para complicar ainda mais as coisas, a Reuters ressalta que, embora a maioria dos países dê poucos sinais de que reconhecerá o grupo diplomaticamente, a posição do Taleban no cenário mundial ainda pode mudar à medida que o grupo cimenta seu controle sobre o país.

A evolução do cenário pode trazer complicações às plataformas pelas medidas tomadas agora contra o grupo, alerta Mohammed Sinan Siyech, pesquisador sobre segurança na Ásia meridional ouvido pela Reuters:

“O Taleban é de certa forma um participante aceito no nível das relações internacionais. Se esse reconhecimento chegar, pode causar complicações a decisões subjetivas tomadas por empresas como o Facebook ou o Twitter de que o grupo é ruim e deve ser banido de suas plataformas.”

Leia também

Malala estrela capa da Vogue britânica com fotos que destacam o simbolismo do véu das muçulmanas

 

Taleban faz novas vítimas entre jornalistas e Reino Unido resgatará colaboradores da imprensa no Afeganistão

Morte de fotógrafo premiado com Pulitzer mostra agravamento da crise no Afeganistão

 

Sair da versão mobile