Londres – Na semana em que o mundo ocidental se alarmava com a possibilidade de as mulheres afegãs perderem sua liberdade e voltarem a ser obrigadas a usar a burca, vestimenta que cobre o rosto e o corpo, a ideia da supermodelo e atriz inglesa Lily Cole para promover seu novo livro sobre impacto ambiental não poderia ter sido mais infeliz.  

Uma das maiores celebridades britânicas, ela postou no Instagram há cinco dias uma foto vestindo uma burca azul cobrindo o rosto e o corpo. E outra em que a vestimenta foi puxada para revelar seu rosto.

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A legenda dizia:

“Vamos abraçar a diversidade em todos os níveis — biodiversidade; diversidade cultural; diversidade de pensamento; diversidade de vozes; diversidade de ideias.”

Mas a compreensão foi diferente, sugerindo um endosso ao uso da burca e provocando uma onda de protestos nas redes. 

Reação da modelo foi lenta, o que vai contra mandamento da gestão de crises

Cole não agiu rápido, deixando de cumprir um mandamento básico da gestão de crises de comunicação. Só retirou a postagem quatro dias depois, com um post intitulado “My mistake” (meu erro).  

“Esta semana, postei uma foto minha velha usando uma burca emprestada por uma amiga, quando ela disse que eu estava deturpando seu propósito original ao usá-la com o rosto exposto, mas entendo porque a imagem incomodou as pessoas e gostaria de pedir desculpas sinceras por qualquer ofensa causada.”

“Eu não tinha lido a notícia no momento em que postei, então foi incrivelmente inoportuno (obrigado por apontar isso para mim).”

Cole acrescentou que seu “coração se partiu ao ler sobre o que está acontecendo no Afeganistão no momento” e disse que estava “procurando organizações que ajudem as mulheres” para que ela possa apoiar.

As palavras foram as esperadas, mas é difícil crer que ela não tenha lido sobre o que está acontecendo no Afeganistão, já que a imprensa global e as redes sociais têm coberto extensivamente a situação desde o início do avanço das tropas do Taleban sobre as principais cidades do país. 

Campanhas humanitárias não amenizam impacto na imagem da atriz

Para tentar remediar o estrago, Lily Cole anunciou que está fazendo campanha e arrecadando fundos no GoFundMe, plataforma de doações, para proteger as mulheres afegãs.

Seu feed está cheio de notícias sobre o Afeganistão, destacando esforços para proteger mulheres. 

Mas isso não foi suficiente para reverter a má impressão causada. A colunista do jornal britânico The Times, Janice Turner, acusou Cole de “colocar a postura do Instagram antes dos direitos humanos universais”.

Anjum Peerbacos, cofundadora do podcast Hijabi Half-Hour, disse que as fotos eram “desrespeitosas”.

“Não é um acessório de moda que pode ser usado como um golpe publicitário”, disse ela à BBC News.

Supermodelo adolescente que se tornou atriz e ativista

Cole tornou-se modelo na adolescência e foi nomeada Modelo Britânica do Ano em 2004.

Foi capa da Vogue aos 16 anos e desfilou para grifes como Alexander McQueen, Louis Vuitton e Chanel. Aos 26 anos, sua fortuna era avaliada em  £ 4 milhões (cerca de R$ 28 milhões).

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Ela se formou na Universidade de Cambridge. Nos últimos anos, tornou-se conhecida por seu trabalho de caridade e campanhas ambientais, aparecendo regularmente em capas de revistas e em campanhas publicitárias.

Este mês, Cole foi destaque da revista Style, que a apresenta como “a nova rainha verde da moda”. 

A fama a levou para o cinema e para a TV. Estrelou filme da saga Star Wars e produções como St Trinian’s e O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, além de programas de TV como Elizabeth I e Doctor Who.

Cole e o marido são “máquina de fazer dinheiro”

A modelo é casada com o empresário Kwame Ferreira, que nasceu em Angola mas viveu uma parte da vida no Brasil. O casal virou uma máquina de fazer dinheiro. Eles fundaram juntos o site Impossible.com e têm fortuna é estimada em £ 12 milhões (cerca de R$ 84 milhões). 

No último fim de semana, em uma entrevista ao jornal The Sunday Times sobre seu novo livro, assumiu ser bissexual e disse estar “embarcando em uma fase menos séria de sua vida”. 

A foto com a burca em plena crise do Afeganistão, no entanto, não foi um bom começo dessa nova fase. 

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