A situação dramática das mulheres jornalistas do Afeganistão, muitas obrigadas a fugir ou a se esconder depois da tomada do poder pelo Talibã, motivou uma organização de jornalismo feminino da Índia a lançar um projeto global de apoio às que estão ameaçadas ou impedidas de trabalhar.
A Asssociated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, cedeu um acervo de fotos de sua cobertura no país agora tomado pelo grupo extremista, que estão sendo vendidas online. Os recursos serão direcionados a jornalistas que ainda estão no país ou que tiveram que se exilar.
O projeto “Jornalistas pelo Afeganistão” foi criado pela NWMI (Rede de Mulheres na Mídia da Índia).
A NWMI é uma entidade dedicada a compartilhar recursos e promover igualdade de gênero no jornalismo. A ação está sendo feita em conjunto com o Media Safety & Solidarity Fundi (MSSF), que auxilia jornalistas em dificuldades na Ásia.
A coleção reúne imagens produzidas por alguns dos fotojornalistas mais talentosos da Associated Press. Elas mostram a vida diária no Afeganistão ao longo de mais de duas décadas, e também registram a fase mais dura de turbulência social e política que o país agora enfrenta.
O valor arrecadado vai ser utilizado para ajudar as jornalistas a encontrarem casas seguras, deixarem locais onde estão em risco, reconstruirem pequenas empresas de mídia, estabelecerem-se em outros países e descobrirem novas formas de continuar contando histórias com suas próprias vozes.
Conheça algumas das fotos selecionadas pela Associated Press para participar da campanha e o relato dos fotógrafos que capturaram as imagens.
Emilio Morenatti – outubro de 2004
Jovens afegãs observam funcionários da ONU descarregando kits eleitorais de um helicóptero no vilarejo de Ghumaipayan Mahnow, a cerca de 410 quilômetros a nordeste de Cabul, Afeganistão.
“A via aérea única forma de entregar o material eleitoral nas áreas inacessíveis da província de Badakhshan. Um helicóptero distribuiu 84 urnas e kits eleitorais em 24 aldeias remotas perto da fronteira com o Tajiquistão para realizar sua primeira votação presidencial direta em 9 de outubro daquele ano”.
Manish Swarup – julho de 2004
Uma menina olha pela janela de sua sala de aula em uma escola especial para ‘Meninas Fora da Escola’ em Cabul, Afeganistão.
“Nessas escolas especiais, meninas com idades entre 9 e 16 anos, que receberam pouco ou nenhuma educação formal durante os cinco anos de governo do Talibã, passaram a ter reforço para voltar às aulas regulares. Devido às restrições, uma estimativa de 4,5 milhões de crianças no Afeganistão, dois terços delas meninas, foram privadas de sua educação”.
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David Guttenfeld – fevereiro de 2005
Garotos afegãos jogam futebol em uma piscina vazia e destruída pela guerra da era da ocupação soviética em Cabul.
“Nos primeiros anos após a invasão liderada pelos EUA para derrubar o Talibã, eu estava fotografando as maneiras como a guerra pós-11 de setembro estava transformando a vida dos afegãos após gerações de conflito. Achei que a guerra no Afeganistão tivesse acabado”.
Rafiq Maqbool – dezembro de 2008
Um afegão anda com balões à venda na cidade velha de Cabul, Afeganistão.
“Existem dois lugares, Caxemira e Afeganistão, que estão perto do meu coração porque eles parecem habitar aquele espaço intermediário – presos entre ciclos de conflito e breves períodos de “normalidade”. Vou a Cabul desde 2003. Amo as pessoas, a comida e principalmente as casas. Se você visitar a cidade velha, as casas feitas de barro estão por toda parte.
Isso me lembra da vida de uma época passada. Foi durante uma dessas caminhadas pelas ruas da cidade velha que vi um menino vendendo seus balões. Você encontrava meninos e meninas tentando vender qualquer coisa que pudiam para ajudar suas famílias a sobreviver por causa de tudo o que perderam na guerra. ”
Suzanne Plunkett – fevereiro de 2003
Passando o feriado de Eid relaxando, Bibi Haji, 9 anos e sua amiga Sabna, 10 anos, brincam em um balanço caseiro. Cabul, Afeganistão.
“Há temores justificados de que a liberdade das mulheres afegãs possa ser corroída com o Talibã no poder. Parte meu coração pensar em 2002, quando fotografei o primeiro dia de escola para meninas afegãs na Escola Primária Mir Ahmad Shahid em Cabul. Eu me pergunto onde essas mulheres estão hoje e se elas estão seguras.
O Afeganistão é um país tão bonito, e na época em que o visitei estava cheio de esperança. Tentei mostrar isso nas pessoas que fotografei, ao invés das fotos de guerra que eram tão abundantes anteriormente”.
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Richard Vogel – outubro de 2003
Garotos afegãos caminham enquanto a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) em seu veículo blindado guarda o perímetro de uma escola durante uma cerimônia de abertura na aldeia Karez-e-Mirin no distrito de Shakadara, cerca de 25 quilômetros ao norte de Cabul, Afeganistão.
“A foto das crianças andando de braços dados atrás de um tanque foi tirada logo após a inauguração de uma escola rural no Afeganistão. Foi um momento muito otimista e um privilégio poder documentar a vida no Afeganistão. Naquela época, em 2003, as pessoas estavam incrivelmente otimistas. Você encontraria gente dançando nas ruas. Mas agora estou preocupado com o povo afegão, cuja hospitalidade jamais esquecerei”.
Anja Niedringhaus- abril de 2014
Uma mulher afegã espera em um vestiário para experimentar uma nova burca, em uma loja na cidade velha de Cabul, Afeganistão.
Farzana Wahidy – outubro de 2009
Mulheres afegãs caminham em um beco carregando roupas usadas para lavar antes de tentar vendê-las em Cabul, Afeganistão.
Imagens publicadas mediante autorização do Journalists for Afghanistan. Não podem ser reproduzidas.
As fotos custam US$ 100, mais custos de remessa, e podem ser adquiridas no site do projeto
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