Londres – A jornalista e ativista chinesa Sophia Huang Xueqin, principal nome do movimento #MeToo da China, é considerada desaparecida e teria sido detida na China após ser vista pela última vez no domingo (19/9).
Huang não tem sido contatada por amigos desde então. Ela tinha viagem marcada na segunda-feira (20/9) da cidade chinesa de Guangzhou para Londres, via Hong Kong. A jornalista ganhou uma bolsa de estudos britânica.
Há preocupações de que ela e o ativista sindical Wang Jianbing, que estava com Huang, tenham sido detidos pelas autoridades.
Jornalista recebeu bolsa de estudos e iria para a Inglaterra
Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), fontes familiarizadas com o assunto disseram que Wang pode ter sido apreendido por “incitação para subverter o poder do Estado” por causa das reuniões que ele e amigos realizaram em sua residência.
O uso de acusações similares foi usado pelo governo da China para prender profissionais da imprensa no país. Foi o caso de Chang Lei, que era apresentadora da TV estatal e está há mais de um ano detida sem ter sido julgada.
As razões para a suspeita de detenção de Huang permanecem indeterminadas. “A bolsa Chevening exige que ela retorne à China após concluir o programa, e Huang nunca quis deixar ao país ou emigrar”, disse Robert Cheng, identificado pela imprensa como amigo da jornalista. “Ela sempre quis viver e trabalhar na China.”
A jornalista de 33 anos planejou originalmente viajar para ao Reino Unido para iniciar os estudos de pós-graduação na Universidade de Sussex, após receber a bolsa Chevening, do governo britânico.
“Estamos preocupados com a segurança e o paradeiro de nossa aluna”, disse um porta-voz da universidade. “Nossa equipe está em contato com a organização da Chevening para obter mais detalhes.”
“Ela se manteve discreta por meses, esperando que pudesse fazer a viagem”, disse Cheng. Posturas críticas ao governo da China frequentemente são usadas como motivo para detenções de jornalistas.
Em greve de fome, jornalista presa por denunciar surto da Covid em Wuhan corre risco de morte
Pesquisa da jornalista mostrou assédio sexual na imprensa da China
Huang é conhecida por seu papel em dar voz à versão chinesa do movimento #MeToo em 2018, quando ela escreveu um relatório de pesquisa sobre assédio sexual e casos de agressão enfrentados por mulheres chinesas que trabalham no jornalismo.
Em seu trabalho como ativista, ela ajudou mulheres que acusaram de assédio sexual um professor da Universidade Beihang, em Pequim.
Em junho de 2019, participou de protestos em Hong Kong contra o projeto de extradição apresentado pelo governo, que acabou sendo retirado, e atualizava seguidores usando um blog.
Em outubro de 2019, a jornalista foi detida por “criar brigas e provocar problemas” e foi libertada três meses depois.
“O desaparecimento de Huang é preocupante, visto que a detenção tem sido cada vez mais usada pelo governo chinês para reprimir a dissidência política”, afirmou a federação.
Três meses atrás, ela ganhou um prêmio da Society of Publishers in Asia por sua reportagem sobre Li Qiaochu, mulher detida após falar em nome de seu parceiro e advogado dissidente, Xu Zhiyong.
Leia também
China não quer celebridades “afeminadas” na TV e recomenda que emissoras evitem artistas “imorais”
“Operação fan quan”: China proíbe rankings de celebridades, em guerra contra culto a famosos