O Facebook e a agência Australian Associated Press (AAP) firmaram uma parceria para combater a desinformação na Austrália, com uma campanha de educação midiática conjunta preparando o terreno para as eleições de maio de 2022.
A campanha será composta por vídeos divulgados durante o mês de novembro nas plataformas Facebook e Instagram, e também por materiais informativos produzidos pela AAP.
Ela usa como tema o cartão amarelo utilizados pelos juízes esportivos, sugerindo uma infração quando uma fake news é compartilhada.
A campanha dá dicas para avaliar informações e promove o site da AAP FactCheck, no qual jornalistas da agência de notícias publicam os resultados de suas apurações sobre várias alegações.
As peças pedem para que diante de uma informação duvidosa, a pessoa leve em consideração qual a fonte, quais as evidências e o que fontes confiáveis falam a respeito do assunto.
O objetivo é incentivar a audiência a examinar criticamente as informações online e melhorar sua educação geral sobre a mídia.
Peter Bodkin, editor do AAP FactCheck, disse que a a campanha não foi projetada para transformar as pessoas em verificadores de fatos profissionais, mas espera que elas tentem “verificar os fatos’ fazendo algumas perguntas simples”
“O próprio ato de fazer uma pausa e considerar essas questões pode ajudar a desenvolver as habilidades de pensamento crítico necessárias para reconhecer e evitar a desinformação”, disse Bodkin.
Os vídeos mostram situações não diretamente relacionadas a temas eleitorais. Eles usam como exemplos fake news sobre cervejas, aranhas aladas e Covid-19, em clima divertido ao estilo dos australianos.
Paz selada
A campanha é um sinal de aproximação com a imprensa depois de um período turbulento, com atritos entre gigantes da tecnologia, a mídia e o governo da Austrália em torno da lei para regular o pagamento pela veiculação de notícias por plataformas como Google e Facebook.
Em oposição à exigência de pagar pelo conteúdo jornalístico usado em produtos como Facebook News e Google Showcase, o Facebook chegou a suspender a veiculação de links de notícias da Austrália na plataforma, gerando uma grande queda de tráfego para as publicações. Posteriormente a empresa acabou cedendo e fazendo acordos.
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O Google chegou a ameaçar sair da Austrália antes de finalmente fechar contratos para remunerar as publicações por usar conteúdo produzido pela imprensa, assim como o Facebook.
Iniciativa semelhante ocorreu na última semana, na França, quando o Facebook aceitou pagar pelo conteúdo jornalístico que utiliza da mídia francesa. O Google já foi multado em € 500 milhões (R$ 3,2 bilhões) por conduzir com má fé as negociações em processo semelhante.
A nova campanha contra a desinformação não faz parte do acordo recentemente assinado pelo Facebook com a AAP sobre o pagamento de conteúdo, sob o código de negociação da mídia, mas uma extensão do serviço de checagem de fatos existente que a AAP oferece ao Facebook.
Facebook sinaliza mais medidas contra desinformação na Austrália
Numa sinalização de que o Facebook já pensa nas eleições australianas, Josh Machin, chefe de políticas públicas da empresa na Austrália, disse que a companhia planeja implantar uma “série de medidas”.
“Esta campanha foi projetada para fornecer as ferramentas e recursos que informam qualquer pessoa sobre como detectar notícias falsas online ou offline — e, finalmente, parar de divulgá-las. A educação midiática sempre foi um dos nossos compromissos em todo o mundo e na Austrália, e Check The Facts certamente não será o nosso último esforço neste espaço”, disse o diretor de políticas do Facebook para o país, Josh Machin, em comunicado.
A atitude do Facebook ocorre logo após uma série de revelações da ex-funcionária Frances Haugen, que afirmou em audiência no Congresso dos Estados Unidos que a empresa coloca o lucro antes da segurança dos usuários.
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Haugen afirmou a parlamentares australianos na semana passada que o Facebook deveria ser forçado a publicar uma lista diária de links de tendências, para permitir que as autoridades anulem rapidamente a desinformação na plataforma.
Na Austrália, empresas de mídia são responsabilizadas por comentários de usuários
O Tribunal Superior da Austrália decidiu em setembro que os veículos de imprensa são responsáveis pelos comentários postados em suas plataformas, num caso movido por um ex-detento que se disse ofendido por falas de usuários a partir da divulgação de reportagens sobre sua história de maus tratos sob custódia das autoridades australianas.
Por 5 votos a 2, a corte definiu que as empresas de mídia não são apenas responsáveis pelo conteúdo escrito por seus jornalistas. Agora, elas também são “editores” responsáveis pelos comentários feitos por seus leitores na internet. O processo foi aberto contra as empresas Nationwide News, Sky News e Fairfax Media, esta última de propriedade da Nine Entertainment.
A decisão envolve não apenas questões jurídicas e jornalísticas, e pode ter consequências de longo alcance para os usuários de internet em toda a Austrália. A emissora CNN, por exemplo, decidiu desativar sua página do Facebook no país.
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As implicações da decisão judicial podem ser aplicadas igualmente ao Twitter, Instagram ou qualquer outra rede social. E também abrangem os sites em geral que disponibilizam seções de comentários.
Dessa maneira, o professor de direito da Sidney University David Rolph explica, em artigo pulblicado no portal The Conversation, que se qualquer pessoa na Austrália postar conteúdo em uma página de rede social ou site e incentivar comentários, ela poderá ser considerada legalmente “editora” deles.
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