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Análise | Petrolíferas afirmam nunca terem promovido desinformação sobre o clima, mas há um problema: isso é mentira

Foto: Quinten de Graaf /Unsplash

No dia 28 de outubro, representantes das quatro maiores indústrias petrolíferas atuantes nos Estados Unidos estiveram no Congresso americano para prestar esclarecimentos sobre sua conduta em relação às mudanças climáticas, incluindo suspeitas de que teriam promovido fake news sobre o clima. 

As companhias são acusadas de terem transmitido informações imprecisas sobre suas iniciativas de redução de emissões, e ainda de saber há décadas sobre os riscos da queima de combustíveis fósseis para o planeta. 

Jamie Henn, fundador e diretor da Fossil Free Media, descreve no artigo a seguir como foi a audiência. E como os principais executivos da indústria mentiram sob juramento.


Jamie Henn

Pela primeira vez, os executivos de quatro grandes empresas de petróleo e duas das associações de classe mais poderosas do setor testemunharam perante o Congresso americano no dia 28/10 sobre seu esforço de décadas para espalhar a desinformação climática e bloquear a legislação que reduziria a dependência norte-americana dos combustíveis fósseis.

Os republicanos se opuseram veementemente à audiência de supervisão da Câmara.

Ainda assim, inadvertidamente, logo na primeira rodada de questionamentos do próprio Partido Republicano, os executivos provaram pela primeira vez os efeitos de testemunhar sob juramento.

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Perguntados por um dos mais ferrenhos defensores da indústria, o membro do comitê James Comer, de Kentucky, se “alguma vez aprovaram uma campanha de desinformação”, os chefes da Exxon, Chevron, Shell e BP (British Petroleum) repetiram, um após o outro, que não, que nunca haviam aprovado tal esforço.

Mas há um problema: isso é mentira.

Combustível de alga e outras inovações de fachada

Não pode haver dúvida de que Exxon, Chevron, Shell e BP se envolveram em propaganda enganosa, também conhecida como campanha de desinformação, durante o mandato de seus CEOs atuais. 

Na verdade, pode-se argumentar que a grande maioria da publicidade do setor se encaixa nessa definição.

Veja a Exxon. Durante anos, gastou milhões de dólares para veicular anúncios sobre seus investimentos em combustível de algas, embora tenha gasto muito pouco na pesquisa real e não tenha planos de lançar o produto no mercado. 

A empresa espera criar uma impressão entre os consumidores de que está no negócio de soluções climáticas, quando na verdade ainda está no negócio de destruição do clima. 

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É propaganda falsa — um dos motivos pelos quais a Exxon está sendo levada a tribunal por desinformação.

Chevron colocou “alguns trocados” em projeto de sequestro de carbono

Ou veja a Chevron. No anúncio “Butterfly” de 2020, a Chevron destacou seu compromisso com a captura e sequestro de carbono (CCS) como uma solução climática. 

De acordo com o New York Times, no entanto, a Chevron está gastando apenas “alguns trocados” nessas tecnologias, pois “dobra para baixo” a produção de petróleo e gás. Pior ainda: a tecnologia que a Chevron está promovendo na verdade não funciona. O maior projeto CCS da Chevron na Austrália foi “um desastre desde o início” e agora está apenas liberando CO2 na atmosfera.

A Shell é outro exemplodo que faz a indústria. No ano passado, divulgou seu novo compromisso líquido zero como prova de que está comprometida com a ação climática.

Documentos da empresa, no entanto, dizem: “Os planos operacionais e orçamentos da Shell não refletem a meta de Emissões Líquidas Zero da Shell”. Tradução: nossa publicidade é falsa.

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BP foi processada por propaganda enganosa no Reino Unido

Finalmente, a British Petroleum. A empresa, que uma vez tentou se rebatizar de “Beyond Petroleum”, enfrentou queixas legais em 2019 sobre a veiculação de propaganda enganosa no Reino Unido, acusada de enganar o público sobre o compromisso da empresa com as energias renováveis.

Esses são apenas alguns dos exemplos mais recentes de décadas de desinformação que as grandes empresas de petróleo e seus grupos de fachada têm injetado em nosso ecossistema de informações.

Como as jornalistas Molly Taft e Emily Atkin escreveram recentemente, essa campanha de desinformação se manteve em torno da própria audiência no Congresso: nos dias que antecederam o evento, os principais veículos que cobrem energia e clima em Washington foram inundados com grandes anúncios das gigantes do petróleo promovendo seus supostos compromissos climáticos.

Ou por investigação, ou por vazamento, verdade virá à tona

Os americanos podem presumir que esses CEOs estão mentindo sobre as práticas de suas empresas, mas para realmente responsabilizá-los, precisamos de documentos que mostrem essa mentira com todas as letras.

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É por isso que foi tão importante  a presidente do comitê, Carolyn Maloney, ter dito ao final da audiência que emitiria intimações para obter mais documentos das empresas petrolíferas e de seus grupos apoio. 

Quer obtenhamos as evidências por meio de intimações ou vazamentos de funcionários da indústria, a verdade provavelmente virá à tona: a indústria petrolífera tem mentido para o público sobre os danos que os combustíveis fósseis estão causando ao clima, assim como a indústria tabagista mentiu sobre os danos que o cigarro estava fazendo à nossa saúde.

Na audiência no Congresso, cada executivo do petróleo disse que nunca aprovou uma campanha de desinformação, embora possamos ver essas campanhas com nossos próprios olhos. Se esse momento se tornará tão icônico quanto aquele em que os executivos do tabaco mentiram sobre os cigarros, depende do que acontecerá a seguir. Fique ligado.


Este artigo foi publicado originalmente no The Guardian, e é parte da coalizão global Covering Climate Now. 

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