Atentado a bomba mata jornalista grávida no Iêmen, um dos países mais perigosos para a imprensa

País ocupa o 169º lugar no ranking de liberdade de imprensa da RSF

Rasha Abdullah al-Haraz e Mahoud al-Atmi com o filho de dois anos. A jornalista perdeu a vida em um ataque ao carro em que viajava com o marido, também jornalista, em novembro de 2021 (foto: Twitter)

Londres – Entidades de defesa da liberdade de imprensa condenaram o assassinato de uma jornalista grávida no Iêmen. Rasha Abdullah al-Harazi, de 27 anos, e o bebê que esperava foram vítimas de uma bomba colocada no carro de seu marido, o também jornalista Mahoud al-Atmi.

O crime aconteceu na cidade de Aden na quarta-feira (10/11). Atmi, que ficou gravemente ferido, expressou suspeita de que o ataque tenha partido de rebeldes Houthi apoiados pelo Irã, mas nenhum grupo reivindicou autoria, segundo a Associated Press.

O caso é mais um exemplo da deterioração da liberdade de imprensa na Ásia, com perseguições, crimes e o avanço de leis restritivas ao jornalismo e a liberdade de expressão em paises como China, Paquistão, Mianmar Singapura.

Quem era a jornalista assassinada 

Cenas de uma câmera de segurança mostraram o ataque que vitimou a jornalista, que tinha também um filho de dois anos. 

Al-Harazi trabalhava para os canais de notícias dos Emirados Al-Ain e Al-Sharq, conforme reportagens da AP e do canal de notícias saudita Al-Arabiya mencionadas pelo Centro de Proteção a Jornalistas (CPJ). 

Ela trabalhou também para a Bloomberg Asharq, dos Emirados Árabes Unidos, uma colaboração entre a agência de notícias de negócios dos EUA e o Saudi Research and Media Group vinculado ao governo saudita, de acordo com uma pessoa que a conhecia e falou ao CPJ sob a condição de anonimato, alegando razões de segurança.

O marido da jornalista, Al-Atmi contribui para a Al-Arabiya e para o canal de notícias saudita Al-Hadath, de acordo com a reportagem da Al-Arabiya reproduzida pelo CPJ. Segundo a entidade, ele já havia recebido ameaças do grupo Ansar Allah, conhecido como Houthis . 

Após o atentado, o jornalista iemenita Bassem al-Janani postou capturas de tela no Twitter com relato de al-Atmi sobre membros dos Houthis pedindo informações sobre seu endereço em Aden e uma descrição de seu carro, que foi inteiramente destruído pela explosão. 

Al-Janani disse no twitter que pediu ao colega para sair da cidade, mas ele respondeu que não poderia porque sua esposa estava prestes a dar à luz seu segundo filho.

País é o 169º em liberdade de imprensa 

O Iêmen está guerra desde 2014, e o jornalismo livre vem sendo cada vez mais reprimido. No ranking anual de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o país caiu duas posições em relação a 2020 e ocupa o 169º lugar em uma lista de 180 nações. 

Segundo a organização, a divisão do país em áreas controladas pelos rebeldes Houthi, o chamado governo legítimo, e os separatistas do sul exacerbou a polarização da mídia. 

Pelo menos 19 jornalistas foram mortos no Iêmen desde o início do conflito em 2014, e pelo menos dois foram mortos em Aden no ano passado, de acordo o CPJ .

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Em outubro, um carro-bomba tendo como alvo o comboio do governador de Aden matou pelo menos seis pessoas. Um mês antes disso, 12 civis foram mortos em uma explosão perto do aeroporto da cidade.

Jornalistas têm sido ameaçados, agredidos, detidos e mortos por grupos rebeldes desde a escalada do conflito. 

Cobertura da imprensa sobre a guerra é controlada 

Em abril, quando o ranking anual de liberdade de imprensa da RSF foi publicado, a organização contbilizou cerca de 20 profissionais de imprensa detidos pelos Houthis ou pela Al-Qaeda, a maioria desde 2015. E relatou que um dos reféns Houthi, Anwar al Rakan, morreu logo após sua libertação em 2018.

 O relatório afirma que reportagens neutras sobre a guerra são raras, já que as várias partes no conflito controlam a mídia. E que existe poucos repórteres estrangeiros no país. 

A RSF afirma que na parte do país controlada pelo chamado governo legítimo, os jornalistas também são presos arbitrariamente e submetidos a tratamento abusivo por parte das milícias. 

Imagem: Pixabay

O acesso online aos meios de comunicação está bloqueado desde que os Houthis assumiram o controle do ministério das telecomunicações. E em todo o país, jornalistas-cidadãos são monitorados e podem ser presos por uma única postagem nas redes sociais, constatou a RSF.

Deixar a profissão não tem sido suficiente para evitar perseguições. O relatório da entidade registrou casos de profissionais que desistiram do jornalismo para evitar represálias, mas isso não os impediu de serem perseguidos pelo que escreveram no passado.

Organizações não-governamentais cobram ação

O atentado contra Rasha Abdullah al-Harazi provocou reação de várias organizações que defendem a liberdade de imprensa e de expressão.

O Centro para Proteção dos Jornalistas emitiu um comunicado pedindo que todas as partes no conflito parem de atacar membros da imprensa e garantam que as mortes de jornalistas sejam investigadas minuciosamente e os responsáveis ​​sejam responsabilizados.

“O assassinato horrível de Rasha Abdullah al-Harazi e os graves ferimentos de Mahmoud al-Atmi ilustram como jornalistas iemenitas enfrentam a morte diariamente por simplesmente viverem em seu país de origem e cobrirem as notícias”, disse Justin Shilad, pesquisador sênior do CPJ para o Oriente Médio e Norte da África. 

“Todas as partes envolvidas no conflito do Iêmen devem parar de matar jornalistas, e as instituições internacionais e seus Estados membros devem parar de enterrar a cabeça na areia e trabalhar imediatamente para a responsabilização por esses crimes.”

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No dia 11 de novembro endereçou cartas ao primeiro-ministro do país, Maeen Abdulmalik Saeed, e ao líder da  Ansar Allah, Abdul-Malik al-Houthi pedindo medidas contra o estado de deterioração da liberdade de imprensa e proteção aos jornalistas que trabalham no país.

Redação MediaTalks
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