Mais tarde ele se desculpou, dizendo que “naquele momento, o único interesse era ajudar Greta”. E que queria tentar evitar “que algo pior acontecesse com ela”.
A jornalista procurou amenizar as críticas ao colega, que tem 65 anos e 45 de profissão:
” O Giorgio se enganou, não compreendeu imediatamente a gravidade do gesto. Não o crucifiquem, ele é como um pai para mim “, afirmou.
Mas não convenceu. A Federação de Jornalistas da Itália (FNSI) condenou o ataque e a falta de apoio de Giorgio Michelletti.
“ Ninguém tem o direito de tocar em uma mulher sem o seu consentimento, em qualquer contexto, e ninguém deve se sentir no direito de buscar fatores atenuantes, alimentando estereótipos […] “, disse a Comissão de Igualdade de Oportunidades da FNSI.
Ricardo Gutiérrez, Secretário Geral da Federação Europeia de Jornalismo, disse:
“Infelizmente, mais uma vez, este incidente mostra que precisamos aumentar a conscientização sobre a violência de gênero em todas as esferas da vida. Somos solidários com as jornalistas que sofrem assédio todos os dias. Também pedimos aos profissionais da mídia para denunciar veementemente tais ataques a suas colegas .
Jornalista suspenso
A reação levou a emissora a assumir posição. Na segunda-feira (29), a Toscana TV afirmou em um comunicado:
“Compartilhamos com o jornalista Giorgio Micheletti a oportunidade de um momento de reflexão e de interrupção profissional na condução do programa ‘A Tutto Gol’, de forma a esclarecer os desdobramentos do fatos, reservando-nos o direito de avaliar as medidas disciplinares “.
A emissora confirmou seu apoio e solidariedade a Beccaglia, explicando que “o que aconteceu foi um assédio “:
“Se Greta desejar, estaremos ao seu lado na reclamação apresentada e esperamos que o ocorrido nos ajude, o mundo da informação e neste caso o mundo do futebol, a construir um ‘discurso’ público mais respeitoso.”
Mobilização contra o assédio nas redes sociais
Gretta Beccaglia postou posteriormente em sua história no Instagram :
“O que aconteceu comigo não é aceitável e não deve ser repetido.
Meu assédio foi gravado ao vivo na TV porque eu estava no trabalho, mas infelizmente, como sabemos, essas coisas acontecem com outras mulheres com o câmeras desligadas, sem ninguém saber sobre isso.”
Na França, mulheres se uniram contra assédio a jornalistas
No caso da França, muita gente ficou sabendo por iniciativa da jornalista esportiva Marie Portolano. Ela produziu um documentário intitulado “Não sou uma vadia, sou uma jornalista!”, veiculado há duas semanas pela TV francesa em maio.
Portolano se disse motivada pelo assédio que ela própria sofreu, perpetrado por um dos mais renomados comentaristas esportivos do país, Pierre Ménès.
Mas o próprio documentário sofreu censura. O Canal +, de TV paga, onde trabalhavam tanto Marie quanto Menés, fez cortes que protegeram Ménès. Portolano aceitou para ter o vídeo exibido, mas depois mudou-se para outra emissora, a M6.
Em 2020, seis profissionais de imprensa francesas fundaram o Femmes Journalistes de Sport. No dia seguinte à exibição do documentário, o grupo publicou uma carta aberta no Le Monde, assinada por mais de 150 jornalistas, clamando pela união de todas para que as mulheres não sejam mais discriminadas, molestadas e tornadas invisíveis, conforme exposto no documentário de Marie Portolano.
No manifesto, intitulado Mulheres jornalistas do esporte, vamos invadir o campo!, elas dizem que, como qualquer outro setor da sociedade, o esporte não pertence aos homens. E que o jornalismo esportivo não pode continuar como “um setor de homens que contratam homens para falar de homens”.
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