Londres – No ano em que COP26 provocou uma “superexposição” sobre a necessidade de preservar a natureza, imagens sobre os efeitos da mudança climática valeram prêmios de fotografia a vários brasileiros em concursos internacionais.
Lalo de Almeida foi vencedor do World Press Photo na categoria Meio Ambiente, com uma série sobre incêndios no Pantanal. Daniel De Granville ficou em primeiro na categoria “Paisagens” do prêmio da The Nature Conservancy, com a imagem da carcaça de um jacaré.
Rodrigo Thomé foi finalista do Ocean Photography Awards, com uma imagem mostrando a importância da preservação dos oceanos e de seus habitantes.
Fotografias premiadas retratam mudanças climáticas e diversidade da natureza
Mas nem só imagens chocantes foram reconhecidas. A beleza da diversidade do país também teve vez.
O biólogo, professor e fotógrafo amador Raul Costa-Pereira venceu o British Ecologic Society retratando o grafismo de fungos em uma folha de palmeira na floresta amazônica.
E Denis Ferreira Netto ficou em segundo lugar no concurso da The Nature Conservancy com uma foto aérea da Serra do Mar no Paraná.
Conheça o trabalho de cada um deles, e o que pensam sobre as mudanças climáticas.
Esta matéria faz parte do Especial COP26 – veja o relatório
Lalo de Almeida: Pantanal em Chamas
A série retrata uma triste realidade que vem castigando a imagem do Brasil no exterior.
Os incêndios no Pantanal e as queimadas na Amazônia têm sido extensivamente cobertos pelos mais importantes veículos de imprensa globais.
Nessa imagem, um voluntário busca focos de fogos sob uma ponte de madeira
Animais carbonizados e grandes áreas devastadas foram o resultado de um dos piores incêndios em décadas na região
Estima-se que entre 140 e 160 mil quilômetros quadrados foram destruídos pelo fogo
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Daniel De Granville: ” É possível aliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental”
A imagem da carcaça de um jacaré pantaneiro em meio ao solo seco às margens da rodovia Transpantaneira em Poconé (MT), de autoria do fotógrafo Daniel De Granville, foi a vencedora da categoria “Paisagens” do concurso internacional de fotos da organização The Nature Conservancy, com atuação em 72 países.
Daniel entende de natureza. Ele é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, com especialização em Turismo Científico pela Unicamp.
Trabalha com fotografia e ecoturismo, atuando como guia naturalista para públicos de interesses especiais, como fotógrafos profissionais, pesquisadores e estudantes. Mas não abandonou a ciência: continua fazendo pesquisas sobre temas como os morcegos na Mata Atlântica.
Granville contou que são evidentes as alterações ambientais nas regiões que costuma visitar com mais frequência para fotografar. Segundo ele, não existe mais previsibilidade ou padrão climático.
“No Centro-Oeste, o regime de chuvas e as temperaturas ao longo do ano têm oscilado de forma inédita.
Isso é consequência não apenas das alterações ambientais em escala regional, como também resultado do que vem acontecendo na Amazônia, já que esta região acaba influenciando o regime hídrico em boa parte do Brasil.”
Tem solução?
“Não é novidade que estamos vivendo um enorme retrocesso ambiental no Brasil nos últimos dois ou três anos. Nossas políticas públicas nesta área estão indo na contramão do restante do mundo, a mentalidade desenvolvimentista dominante remete a práticas da década de 1970”, critica o fotógrafo e biólogo.
Ele acredita que já está mais do que provado que é possível aliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
“Esta prática de pintar o meio ambiente e as organizações do terceiro setor como inimigas do desenvolvimento não encontra mais respaldo na sociedade moderna.
Talvez falte uma abordagem séria, profissional e moderna nos diversos setores da economia que dependem dos ambientes naturais para sua existência.”
Daniel acha que Bonito (MS) é um exemplo bem-sucedido de exploração sustentável dos recursos naturais por meio do turismo de natureza. “Ganha-se dinheiro e gera-se empregos sem precisar derrubar uma árvore sequer”, destaca.
Denis Ferreira: cabeça de um dinossauro emerge das nuvens
O segundo lugar da categoria ‘Paisagem’ do concurso da The Nature Conservancy ficou com outro brasileiro, Denis Ferreira Netto, com uma foto aérea da Serra do Mar no Paraná:
“Num voo de helicóptero sobre as montanhas, observei a cobertura de nuvens brancas que resultou nesta imagem, lembrando a cabeça de um dinossauro“.
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Raul Costa-Pereira e a arte da ecologia
O concurso de fotografia ‘Capturing Ecology’ da British Ecological Society anunciou em novembro os vencedores da edição 2021, com o brasileiro Raul Costa-Pereira como um dos ganhadores.
Biológo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele venceu na categoria “A arte da ecologia” com a imagem “Mosaico amazônico”.
A imagem da folha de uma palmeira, feita em uma reserva ambiental ao norte de Manaus, mostra como as plantas das florestas tropicais são colonizadas por uma diversidade surpreendente de organismos como musgos epífitos, liquens e fungos.
“Tenho a sorte de trabalhar em alguns dos ecossistemas mais fascinantes do mundo, como o Pantanal e a Amazônia, e aproveito para fotografar animais e plantas que me chamam a atenção no campo”.
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Rodrigo Thomé: “mudanças climáticas demandam ação imediata”
O fotógrafo Rodrigo Thomé foi um dos finalistas do Ocean Photography Awards, concurso de fotografia promovido pela Oceanographic Magazine, com uma imagem que retrata o problema das redes de pesca abandonadas no mar.
Ao avistar a rede fantasma, Thomé e seus companheiros no barco mergulharam para cortá-la e libertar os peixes presos, mas muitos já estavam debilitados e não sobreviveram.
“Fiz essa foto para traduzir a agonia de um peixe em uma rede fantasma, que mata indiscriminadamente.”
“É importante criar janelas para o oceano, levando os mares para mais perto das pessoas, de forma a criar a conexão e empatia fundamentais para entendermos a necessidade de preservar. Afinal, a gente só preserva o que ama”.
Ano passado Rodrigo lançou o filme “A voz do oceano” que é segundo ele descreve é “uma experiência envolvente que conecta as pessoas com as maravilhas e a beleza do mundo marinho”.
O filme foi selecionado para 25 festivais no mundo e foi premiado em seis, sendo um deles o Nikon Choice.
Os efeitos da mudança climática
Rodrigo conta que que tem percebido em seu trabalho uma “bagunça” climática.
“No Rio de Janeiro onde temos um histórico de águas frias no verão, tivemos dois anos atípicos com águas quentes durante toda a estação.
Este ano, no entanto a mudança esta acontecendo ao contrário. Em outubro tivemos um mês inteiro de águas congelantes e escuras, além de um tempo frio e chuvoso completamente atípico para a época do ano.”
Ele também se diz alarmado com a poluição na Baía de Guanabara e em águas habitadas por jacarés na Zona Norte. Para ele, “chocante é a maneira como nos relacionamos com os oceanos, sem empatia, sem conexão, sem entendimento”.
Decepção com a COP26
O fotógrafo junta-se ao coro os que se decepcionaram com os resultados da COP26.
“Estamos no 30º ano de reuniões para pautar as urgentes ações para proteger o meio ambiente, e para onde andamos? O que foi feito? Reuniões para discutir caminhos e estratégias são importantes, mas não mais importantes que ações”.
E cobra ação imediata de governos e da sociedade:
“Não adianta assinar um tratado se comprometendo com o fim da utilização de combustíveis fósseis em 20 anos sem uma ação imediata.
Não adianta pensar em soluções para crises de crescimento econômico que não observem as questões climáticas e de sustentabilidade, não existe mais crescimento econômico sem a observação destes pontos.
Meu pedido é por ação, imediata! Mas não somente ações governamentais. A sociedade civil precisa também entender seu papel e repensar hábitos e atitudes”.
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