Londres – Ao longo de todo o período em que sediou e presidiu a COP26 na busca de soluções para a emergência climática, o Reino Unido pagou para enviar diariamente a outros países, como vem fazendo há tempos, uma montanha de lixo plástico.
São nada menos do que 1,8 mil toneladas despachadas todos os dias – o que significa que só durante a COP26 o Reino Unido inundou os outros países com mais de 20 mil toneladas de lixo plástico, supostamente reciclados.
Indignado com a situação, o Greenpeace se perguntou: como seria se esse volume despachado apenas num só dia fosse despejado em Downing Street, onde fica a sede do governo britânico, em Westminster? O resultado foi um video lançado em maio e batizado de Wasteminster, trocadilho que remete ao lixo em questão.
Reino Unido contabiliza lixo plástico despachado como reciclado
De acordo com as regras vigentes, o Reino Unido contabiliza todo o plástico despachado para os outros países em sua conta de reciclagem de plástico, mas o Greenpeace denuncia que não é isso o que acontece.
Esta matéria faz parte do Especial COP26 – veja o relatório
Na verdade, os países que são pagos para receber o lixo não o reciclam, e jogam o plástico em aterros, na natureza ou simplesmente o queimam, aumentando as emissões de carbono.
No vídeo, a quantidade diária de lixo plástico descartado para outros países vai sendo despejada sobre a sede do governo britânico, até submergi-la.
Crise mundial do lixo plástico
Apesar de o vídeo parecer divertido, a situação é triste: segundo a ONU, das 9,2 bilhões de toneladas de plástico produzidas entre 1950 e 2017, mais da metade (57%) foi lançada em aterros sanitários ou diretamente no meio ambiente.
Como resultado, o plástico responde por 85% dos dejetos marinhos e a previsão é de que, se nada for feito, a quantidade de lixo plástico presente nos oceanos dobre até 2030.
Os números são do relatório do PNUMA publicado dez dias antes da COP26, que classificou a questão do plástico como uma crise mundial.
O documento estima que se a produção do plástico for mantida nos níveis atuais, gerará emissões de 6,5 gigatoneladas de CO2e em 2050. Esse volume é quase o quatro vezes o registrado em 2015.
O Greenpeace alerta que essa prática acaba exportando problemas de saúde para as populações locais dos países que recebem esse lixo plástico, além de danos à fauna e à flora e a poluição de rios e oceanos.
A Turquia é um dos países mais afetados, por receber a terça parte de todo o lixo plástico exportado pelo Reino Unido.
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