Londres – O Brasil tem motivos para comemorar e para lamentar na edição 2022 do ranking Global 500 das marcas mais valiosas do mundo, divulgado na manhã desta quarta-feira (26) em Londres pela consultoria britânica Brand Finance.
O Itaú fez bonito, subindo 53 posições em relação a 2021 e figurando agora em 335º lugar. Já o Banco do Brasil, que no ranking do ano passado estava em 492º, ficou de fora na edição deste ano.
O domínio mais uma vez foi do setor de tecnologia, com a Apple confirmando seu posto de mais valiosa. Ela foi avaliada em US$ 355,1 bilhões, um novo recorde na história do ranking. TikTok foi a marca que mais cresceu, e WeChat consagrou-se como a mais forte.
Brasil perde terreno entre marcas mais valiosas
O Brasil vem reduzindo sua presença na lista das marcas de maior valor no mundo listadas no Global 500 da Brand Finance.
Em 2019, eram cinco as empresas brasileiras listadas (Itaú, Bradesco, BB, Caixa Econômica e Petrobras). Em 2020 ficaram apenas os quatro bancos. Em 2021 a Caixa e o Bradesco saíram, e agora o BB.
No ranking deste ano, o Itaú superou instituições como Lloyd’s, NatWest e Societé Generale.
A Brand Finance atribui a força do banco brasileiro a um posicionamento focado em pessoas e em transformações sociais, com engajamento em causas como cultura, esportes e educação.
“A marca mantém uma presença positiva na mente dos consumidores, que aliada à alta geração de receita em suas operações nacionais e internacionais, fazem dela a mais valiosa do Brasil”, diz Eduardo Chaves, diretor da Brand Finance no país.
O relatório completo pode ser visto aqui.
Tecnologia dominga o ranking
Depois de ultrapassar em dezembro o gigante Google como domínio mais acessado da internet, o TikTok dá mais uma demonstração de poder. Foi a marca que mais cresceu no ranking das mais valiosas em relação a 2021. A pontuação do aplicativo chinês chegou a 93.3 em 100 possíveis, com a classificação AAA+ rating
Confirmando tendências de estudos anteriores, a Apple manteve o título de marca mais valiosa do mundo na lista produzida pela consultoria Brand Finance. O WeChat também manteve sua posição de marca mais forte.
Marcas mais valiosas são da China e dos EUA
Para chegar às marcas mais valiosas, o estudo faz uma combinação dos resultados financeiros com outras métricas como liderança, presença no mercado e admiração dos consumidores.
Já a força da marca é a eficácia de seu desempenho em medidas intangíveis em relação a seus concorrentes, capturada em pesquisas.
Mais de dois terços do valor somado das marcas listadas no ranking Global 500 são originários de dois países. Os Estados Unidos EUA respondem por 49% (US$ 3,9 trilhões) e a China por 19% (US$ 1,6 trilhão).
Entre as dez marcas mais valiosas estão duas empresas de mídia digital: Google (3º) e Facebook (7º).
O Google também aparece entre as mais fortes, em 3º lugar, atrás do líder WeChat e logo à frente do YouTube (4º).
Para os amantes da Ferrari, uma má notícia: depois de ceder a dianteira no ranking das mais fortes para o WeChat no ano passado, ela perdeu ainda mais tração e cruzou a linha de chegada este ano em sétimo, perdendo cinco posições.
As empresas de mídias sociais também aparecem com destaque entre as que mais cresceram. Logo após a líder TikTok, o Snapchat foi a segunda que mais cresceu. E o Twitter aparece em sétimo.
Tecnologia é a indústria mais valiosa
O valor de mercado da Apple, que subiu 35% e alcançou US$ 355,1 bilhões é o mais alto já registrado no ranking.
Embora o TikTok tenha crescido mais, ele ainda está na 18ª posição entre as mais valiosas, tendo passado de US$ 18,7 bilhões em 2021 para US$ 59,0 bilhões este ano.
O setor de tecnologia é novamente o mais valioso no ranking da Brand Finance, com suas marcas acumulando um valor conjunto de cerca de US$ 1,3 trilhão, beneficiadas pelas transformações provocadas pela Covid.
No total, 50 marcas de tecnologia aparecem no ranking das 500 mais valiosas.
Mas apenas três dessas marcas respondem por metade do valor total do setor tecnológico: Apple, Microsoft (US$ 184,2 bilhões) e Samsung (US$ 107,3 bilhões).
Logo atrás delas, a Huawei conseguiu recuperar seu lugar entre as 10 marcas mais valiosas do mundo. Depois de crescer 29% ao longo do último ano, seu valor chegou a US$ 71,2 bilhões.
Marcas de streaming beneficiadas pela Covid
Com o ano ainda dominado pelas restrições da Covid-19 em muitos países, os serviços de entretenimento digital, mídia social e streaming apresentaram um crescimento contínuo.
Segundo a Brand Finance, a ascensão do TikTok é uma prova de como o consumo de mídia está mudando.
“Com sua oferta de conteúdo de fácil consumo e entretenimento, a popularidade do aplicativo se espalhou pelo mundo, posicionando-se como alternativa criativa de as pessoas se conectarem durante o bloqueio.”
O estudo também destacou parcerias estratégicas realizadas pela marca, como o patrocínio do torneio UEFA Euro 2020, que expuseram o TikTok a públicos fora de sua base original da Geração Z.
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O TikTok ultrapassou a marca de um bilhão de usuários em 2021 e se tornou o aplicativo mais baixado na Google Play Store do Android e na App Store da Apple.
David Haigh, presidente e CEO da Brand Finance, acha que não se trata de uma nuvem passageira:
“Além de o consumo de mídia ter aumentado durante a pandemia, a forma de consumir mudou radicalmente.
Para competir nesse mercado em evolução, organizações de mídia investiram pesadamente em suas marcas – do conteúdo à experiência do usuário.
O crescimento meteórico do TikTok é a prova disso. A marca passou de uma relativa obscuridade a destaque internacional em apenas alguns anos e não mostra sinais de desaceleração.”
Outros competidores do setor de mídia que sobressaíram no último ano foram os fornecedores de serviços de streaming. Puxaram a fila a Disney (valor de US$ 57,0 bilhões, com crescimento de 11%), Netflix (US$29,4 bilhões e alta de 18%), YouTube (US$ 23,9 bilhões, crescendo 38%) e Spotify (US$ 6,3 bilhões, subindo 13%).
Marcas de mídia tradicional menos valiosas
Por outro lado, as marcas de mídia tradicional continuaram a cair, refletindo a opção por plataformas de mídia social e streaming sob demanda.
A Warner Bros está entre as marcas com queda mais acentuada no ranking deste ano (valor da marca caiu 33%, para US$ 6,8 bilhões), e essa tendência é ainda mais aparente quando comparada com as avaliações pré-pandemia.
Observando a mudança no valor da marca nos últimos dois anos da Covid-19, três marcas de mídia estão entre as cinco marcas que mais caíram. Das três, a Warner Bros foi a que mais perdeu, com perda do valor de marca de 40%.
A NBC (valor de marca de US$ 9,4 bilhões) e a CBS (US$ 7,4 bilhões) também vivenciaram perdas parecidas, de 38% e 36%, respectivamente.
Apple, desempenho ‘estelar’
A performance da Apple em 2021 foi classificada pela Brand Finance como “estelar”.
O relatório destaca o feito de ter se tornado em 2022 a primeira empresa a superar a marca de US$ 3 trilhões em avaliação de mercado.
A consultoria classifica o sucesso da empresa dirigida por Tim Cook como histórico. E atribuiu o seu crescimento recente à percepção de que sua marca pode ser aplicada em uma variedade de serviços.
O iPhone ainda responde por cerca de metade das vendas, segundo a Brand Finance.
No entanto, este ano a Apple deu mais atenção ao seu outro conjunto de produtos, com uma nova geração de iPads, a nova versão do iMac e a introdução de AirTags.
O estudo observa ainda que os serviços como Apple Pay e Apple TV também se fortaleceram e se tornaram importantes para o sucesso da marca.
Outro aspecto salientado pela consultoria é a sintonia da Apple com seus clientes em duas questões cada vez mais importantes no mundo atual: privacidade e sustentabilidade.
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A consultoria também destaca que a transparência da política de privacidade da Apple Store reforçou a confiança que os clientes têm na marca. Além disso, contribuiu para o excelente resultado o anúncio de que mais parceiros da linha de produção migrarão para o uso de energia 100% renovável, ajudando a empresa a alcançar a neutralidade de carbono até 2030.
David Haigh, presidente e CEO da Brand Finance, comentou:
“A Apple possui um nível incrível de fidelidade à marca, em grande parte graças à sua reputação de qualidade e inovação.
Décadas de trabalho duro para se aprimorar fizeram com que se tornasse um fenômeno cultural, que permite não apenas competir, mas prosperar em um grande número de mercados.
Com muitos rumores de sua incursão nos mercados de veículos elétricos e de realidade virtual, parece que a marca está pronta para um novo salto.”
WeChat, a marca para tudo na China
Repetindo o resultado de marca mais forte em 2021 no Global 500, o WeChat é muito mais do que uma rede social como as gigantes americanas.
Ele tem uma vasta gama de serviços e se tornou parte da vida cotidiana dos chineses.
O aplicativo permite enviar mensagens, fazer chamadas de vídeo, pedir comida, fazer compras, reservar viagens, estudar, acessar serviços essenciais e até enviar Hongbaos, envelopes vermelhos contendo dinheiro que são trocados pelos chineses em ocasiões especiais.
O relatório salienta que o WeChat também desempenhou um papel fundamental na luta do país contra a Covid-19, com mais de 700 milhões de pessoas usando seus serviços para agendar vacinas e testes.
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Varejo segue em alta
Depois da tecnologia, o setor de varejo se consolidou como o segundo mais valioso do Global 500, superando a marca de US$ 1 trilhão pela primeira vez.
O avanço do comércio eletrônico fez com que ele desbancasse o setor bancário, que segundo a Brand Finance permaneceu estagnado.
O varejo foi a indústria que mais cresceu no ranking Global 500, com um aumento conjunto de valor de marca de 46% – à frente dos setores de tecnologia e de mídia, que cresceram 42% e 33%, respectivamente.
Um dos melhores desempenhos entre os varejistas foi o da americana Walmart, que recuperou seu lugar entre as cinco marcas mais valiosas, subindo do 6º para o 5º posto no ranking após ver o valor de sua marca crescer 20% e chegar a US$ 111,9 bilhões.
A Brand Finance atribuiu esse resultado a investimentos na área do comércio eletrônico.
O varejo também registrou o maior número de novos participantes no ranking deste ano. Contribuiu com nove marcas, o que significa que quase um em cada quatro nomes novos na lista vieram do setor.
A maioria das novas marcas de varejo são supermercados, que se adaptaram ao “novo normal”, tornando-se mais acessíveis por meio de compras online e “clique e retire”.
“A impressão inicial do lockdown pode ter sido a de que o varejo sofreria, mas aqueles que demonstraram agilidade para se adaptar e utilizar a tecnologia obtiveram ganhos sólidos”, disse David Haigh, presidente e CEO da Brand Finance.
Marcas farmacêuticas mais valiosas na pandemia
As marcas farmacêuticas estão no centro das atenções desde o início da pandemia, quando o mundo se voltou para o setor, ansioso pelos kits de testes e pelas vacinas contra a Covid-19.
Como resultado, o setor foi o que cresceu mais na nova edição do Global 500.
O número de marcas farmacêuticas no ranking dobrou de quatro para oito, com o valor de marca conjunto aumentando 94%, para US$ 54,0 bilhões.
A Johnson & Johnson continua sendo a mais valiosa, com um aumento de 24% no valor da marca, para US$ 13,4 bilhões.
A nova participante do ranking, a AstraZeneca, garantiu o título de empresa que mais cresceu no setor, com aumento de 77% no valor da marca, para US$ 5,6 bilhões.
A segunda que mais cresceu foi a Pfizer, com o valor de sua marca crescendo 58% e chegando a US$ 6,3 bilhões.
Para o CEO da Brand Finance David Haigh, o resultado deve-se ao aumento de receita atrelado a uma maior reputação global das marcas da indústria farmacêutica.
Marcas de turismo mostram sinais de recuperação
O valor conjunto das marcas da indústria do turismo ainda é baixo quando comparado às avaliações pré-pandemia. No período, o número de marcas do setor presente no Global 500 caiu de 15 para 9.
No entanto, em um sinal promissor de recuperação, todas as marcas da indústria que aparecem no ranking deste ano apresentaram um crescimento de seu valor.
O setor hoteleiro registrou o nível de crescimento mais significativo, com as marcas Hilton (US$ 12,0 bilhões e crescimento de 58%) e Hyatt (US$ 5,9 bilhões, subindo 26%), agora valendo mais do que antes da pandemia.
Companhias aéreas e plataformas de reservas online viram um aumento no valor de suas marcas à medida que as viagens internacionais e domésticas aumentaram, embora nenhuma tenha voltado ao nível pré-pandemia ainda.