As consequências das mudanças climáticas, cada vez mais presentes em nosso dia a dia, tornam urgente que jornalistas saibam comunicar para o público o assunto como relevante e que afeta suas vidas pessoais.

No entanto, apenas uma pequena parcela dos consumidores de notícias entrevistados em um levantamento da consultoria Akas destacou a mudança climática como uma preocupação pessoal: 3% nos EUA, 8% no Canadá, 10% no Reino Unido e 12% na Austrália.

A pesquisa, realizada para a conferência online “Journalism and the Climate Crisis”, promovida pela Associação Mundial de Jornais (WAN-Ifra), também indica que a causa ambiental ainda não é prioridade para os grandes veículos de comunicação.

Jornalismo ambiental precisa se relacionar com outros temas

A baixa relevância que os leitores e telespectadores dão ao tema ambiental também pode ser atribuída a inabilidade do jornalismo abordar o assunto com ângulos mais relevantes para o público, segundo os autores.

No estudo, a análise de notícias veiculadas entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022 revelou que a cobertura sobre desemprego, empregos, covid-19 e corrupção, assuntos de alta relevância para o público, raramente mencionava o impacto das mudanças climáticas nessas questões.

Por outro lado, a cobertura de notícias sobre o clima fica mais restrita à previsão do tempo, e não aborda ângulos como pobreza, desigualdade e corrupção política ou empresarial, que o público considera relevantes.

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Meio ambiente é deixado de lado

Além de tentar engajar o público com reportagens sobre a importância das mudanças climáticas e destruição do meio ambiente, o tema ainda precisa conseguir mais espaço dentro do jornalismo.

Nos últimos cinco anos, as notícias referentes às mudanças climáticas representaram menos de 2% da cobertura geral das notícias, afirma a pesquisa da Akas.

O trabalho mostra que onde o problema é mais grave a atenção é maior: sete dos dez países com a maior cobertura de notícias sobre mudanças climáticas no ano passado são insulares – os mais atingidos pelo problema.

No ano passado, as mudanças climáticas foram mencionadas em 9% da cobertura de notícias nas Seychelles , seguido por Jersey (7%) e Ilhas Salomão (6%).

Manchetes sobre mudanças climáticas geram angústia e tristeza

Outro lado a ser trabalhado pelos jornalistas durante a produção de notícias relacionadas ao meio ambiente é pensar no sentimento que elas provocam — em maioria, negativos e que podem afugentar a audiência.

Pesquisas do Google encomendadas pela consultoria realizadas no Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália e Nigéria entre outubro de 2021 e janeiro de 2022 revelaram que a tristeza é a emoção mais sentida globalmente em relação às mudanças climáticas e à cobertura de notícias sobre o tema. É mais prevalente do que medo, raiva ou esperança.

No Reino Unido, 29% dos entrevistados mencionaram a tristeza quando questionados sobre as emoções que experimentam ao acompanhar reportagens sobre mudanças climáticas (contra 14% que se sentiu triste ao pensar nas mudanças climáticas em si).

Nos EUA, a proporção foi de 19% e 15%. Em ambos os casos, a cobertura ambiental parece ter posto mais uma camada de negatividade ao desânimo geral do público sobre o assunto.

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Abordar o tema com jovens também é outro desafio. Um quinto deles aredita que é tarde demais para corrigir as mudanças climáticas, segundo revelou uma pesquisa da Ipsos realizada em novembro de 2021 em 27 países.

Pensando nesses obstáculos, jornalistas devem evitar manchetes como “Crise climática global: inevitável, sem precedentes e irreversível”, pois elas se relacionam diretamente com os sentimentos de desânimo, impotência ou apatia, sugerem os autores.

Apontar soluções combate negatividade no jornalismo ambiental

Um dos meios apontados pelos pesquisadores para aumentar o engajamento do público com o jornalismo ambiental é oferecer soluções para a crise climática, e não apenas análises ou estatísticas frias que provocam alarmismo.

Uma análise recente das menções a “mudança climática” em notícias buscadas do Google descobriu 336 mil reportagens que continham o termo. Destas, apenas 0,2% continham a frase “soluções para mudanças climáticas”, e 0,5% continham os termos “mudanças climáticas” e “solução(ões)”.

De acordo com um relatório divulgado em novembro pelo Ipsos, a maioria dos mais de 20 mil entrevistados (62%) concordou que ouve muito mais sobre os impactos negativos das mudanças climáticas do que sobre o que é feito para combatê-las.

Além de apontar o problema, jornalistas devem aumentar a cobertura e explorar as narrativas de como as mudanças climáticas se relacionam com o que está sendo feito para evitá-las ou amenizá-las até o momento — combatendo assim o viés negativo avassalador de fatalismo.

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