Londres – Uma nova pesquisa realizada pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas Afegãos (ANJU) revelou uma queda dramática no número de mulheres jornalistas trabalhando e um grande aumento no número de vítimas de discriminação no Afeganistão liderado pelo grupo extremista islâmico Talibã.
O levantamento “Condições de trabalho das mulheres jornalistas sob o regime Talibã no Afeganistão”, divulgada pela Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) por ocasião do Dia Internacional da Mulher, aborda a situação de segurança psicológica, física e digital das jornalistas e a crescente crise de liberdade de expressão no país.
Desde que o Talibã assumiu o comando do Afeganistão, em agosto de 2021, a liberdade de imprensa veio sendo gradativamente suprimida apesar de promessas iniciais de que o jornalismo seria respeitado. As mulheres foram as mais atingidas.
Jornalistas afastadas da profissão no Afeganistão
A nova pesquisa apontou que 87% das mulheres jornalistas sofreram discriminação de gênero durante o regime Talibã, e 60% delas perderam seus empregos e carreiras.
Também constatou que 79% das profissionais de imprensa mulheres sofream insultos e ameaças. Os relatos incluem ameaças físicas, abuso por parte de funcionários talibãs, ameaças escritas e verbais.
Algumas jornalistas fugiram do país e conseguiram continuar trabalhando no exílio. Uma delas acaba de ser escolhida pela revista americana Time como uma das 13 Mulheres do Ano em 2022.
Zahra Joya, de 29 anos, é fundadora do site Rukhshana Media, especializado em notícias sobre a situação das mulheres no Afeganistão. Quando era pequena, teve que se vestir de homem para ir à escola.
Ela deixou o país logo após a ascensão do grupo extremista. Agora vive em Londres, de onde continua liderando o site e relatando como o regime fundamentalista islâmico afeta as mulheres afegãs.
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Outras colegas de Joya não tiveram a mesma sorte, com impacto severo para as carreiras e famílias. A pesquisa da Federação e do Sindicato local revelou que 91% das mulheres jornalistas no Afeganistão eram o único sustento econômico de suas famílias.
Medo impede volta de mulheres ao jornalismo
Mesmo no caso de não enfrentarem restrições formais, 87% delas não têm coragem de trabalhar em jornalismo na situação atual devido ao medo.
Em janeiro, um dos poucos veículos independentes que continua funcionando no Afeganistão, o ToloNews, veiculou uma reportagem sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres jornalistas.
Repórteres disseram que, mesmo em algumas entrevistas coletivas realizadas por funcionários do Emirado Islâmico, eles não foram autorizados a participar.
“Fomos cobrir dois eventos; um evento foi organizado pelo governador de Cabul e o outro pelo Ministério de Minas e Petróleo. Não fomos autorizados a participar”, disse Amina Hakimi, repórter da ToloNews.
“A liberdade de imprensa no Afeganistão está enfrentando sérias restrições e a continuação dessa situação criará grandes obstáculos no caminho dos repórteres, especialmente das mulheres”, disse a jornalista Suhaila Yousufi.
As repórteres pediram ao Emirado Islâmico para deixá-las fazer seu trabalho e cobrir os eventos. Várias organizações que apoiam a mídia no Afeganistão disseram que as restrições contra repórteres do sexo feminino são preocupantes.
“Desde que o novo governo assumiu o poder, o número de trabalhadoras da mídia diminuiu”, disse Jamil Waqar, funcionário do Comitê de Segurança dos Jornalistas Afegãos.
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“Pedimos aos tomadores de decisão deste governo que não tenham dois pesos e duas medidas contra os jornalistas. As repórteres do sexo feminino têm os mesmos direitos que os repórteres do sexo masculino de participar de conferências de imprensa”, disse Masroor Lutfi, oficial de mídia do Sindicato Nacional de Jornalistas do Afeganistão.
As autoridades do Emirado Islâmico, no entanto, disseram que não estão impondo restrições aos repórteres e à mídia.
“Até agora, não recebemos nenhuma reclamação específica de que repórteres do sexo feminino estejam enfrentando um problema”, disse Inamullah Samangani, vice-porta-voz do Emirado Islâmico ao ToloNews.
Em dezembro de 2021, uma pesquisa realizada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação Afegã de Jornalistas Independentes (AIJA) mostrou que 40% dos meios de comunicação foram fechados desde a queda do antigo governo, em 15 de agosto de 2021 e que as mulheres deixaram a profissão em massa.
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Federação de Jornalistas também examinou financiamento da mídia
Mais de 500 entrevistados de 34 províncias participaram da pesquisa realizada pela ANJU e divulgada pela Federação Internacional de Jornalistas na semana do Dia Internacional da Mulher.
Os entrevistados também compartilharam profundas preocupações com as políticas do Talibã que afetam a segurança, a restrição do financiamento da mídia e a falta de uma lei de mídia.
O secretário-geral da IFJ, Anthony Bellanger, disse:
” A situação atual do jornalismo afegão é crítica e não melhorará até que as mulheres jornalistas possam retornar aos seus empregos e possam reportar com segurança e sem ameaças de oficiais do Talibã.
Diante da situação abusiva enfrentada pelas profissionais de imprensa afegãs, instamos as autoridades talibãs a interromperem sua repressão à mídia”.