A Reuters encerrou a parceria com a agĂȘncia de notĂ­cias russa Tass durante a “guerra de versĂ”es” promovida pelo Kremlin sobre a invasĂŁo Ă  UcrĂąnia.

A agĂȘncia britĂąnica anunciou em comunicado enviado Ă  imprensa na quarta-feira (23) que removeu a Tass de seu marketplace de conteĂșdo voltado a clientes institucionais, o Reuters Connect.

A empresa seguiu o movimento de outros meios de comunicação que tambĂ©m romperam com a agĂȘncia russa, acusada pelo Ocidente de espalhar falsas alegaçÔes e propaganda prĂł-Putin sobre a invasĂŁo ao territĂłrio vizinho. 

Reuters encerra parceria com Tass, maior agĂȘncia de notĂ­cias da RĂșssia

Fundada em 1904, a agĂȘncia de notĂ­cias russa Tass Ă© a maior do gĂȘnero do paĂ­s. 

Por meio do Reuters Connect, usuĂĄrios assinantes, principalmente organizaçÔes de notĂ­cias, tinham acesso e podiam compartilhar o conteĂșdo da Tass. A parceria da agĂȘncia russa com a plataforma foi firmada em 2020.

De acordo com o comunicado de imprensa divulgado na ocasiĂŁo, a parceria da Tass com a Reuters Connect oferecia aos clientes “acesso a notĂ­cias de Ășltima hora e vĂ­deos exclusivos; vĂ­deos sobre o Kremlin e o presidente russo, Vladimir Putin, bem como vĂ­deos de destaque e notĂ­cias gerais”.

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Dois anos depois desse anĂșncio e um mĂȘs apĂłs a invasĂŁo russa a UcrĂąnia, a Reuters decide romper com a Tass citando falta de alinhamento com os valores jornalĂ­sticos da empresa.

“Acreditamos que disponibilizar o conteĂșdo da Tass no Reuters Connect nĂŁo estĂĄ alinhado com os PrincĂ­pios de Confiança da Thomson Reuters”, escreveu Matthew Keen, presidente-executivo interino da Reuters, em um documento interno.

Os PrincĂ­pios de Confiança da Reuters, criados em 1941 em meio Ă  Segunda Guerra Mundial, guiam a agĂȘncia britĂąnica a agir jornalisticamente com integridade, independĂȘncia e isenção de vieses.

A Tass nĂŁo comentou o fim da parceria.

Reuters rompeu com Tass após acusação de propaganda pró-Kremlin

A agĂȘncia de notĂ­cias russa foi acusada por alguns meios de comunicação ocidentais e grupos de liberdade de imprensa de espalhar falsas alegaçÔes e propaganda do Kremlin sobre a guerra na UcrĂąnia.

No inĂ­cio de março, a agĂȘncia de fotos Getty Images rompeu com a Tass, de acordo com uma reportagem da Forbes.

A matĂ©ria cita a declaração de um porta-voz da Getty dizendo que “para garantir a integridade do conteĂșdo que distribuĂ­mos, exigimos que parceiros e colaboradores cumpram”. A Tass nĂŁo respondeu imediatamente a um pedido de comentĂĄrio, segundo o veĂ­culo.

Desde a invasĂŁo da UcrĂąnia, a parceria da Tass com a Reuters, uma das maiores agĂȘncias de notĂ­cias do mundo, gerou fortes crĂ­ticas nas redes sociais.

Uma reportagem do Politico, publicada em 20 de março, citou jornalistas não identificados da Reuters dizendo que estavam envergonhados com a associação da empresa com a Tass.

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TV estatal russa também teve relaçÔes cortadas no Reino Unido

A emissora de TV estatal RT (Russia Today), braço de propaganda do governo da RĂșssia com operaçÔes em vĂĄrios idiomas e naçÔes, teve sua licença para transmitir no Reino Unido revogada na semana passada.

 A decisĂŁo foi tomada pelo Ofcom, ĂłrgĂŁo regulador de telecomunicaçÔes do paĂ­s, sob o argumento de que o canal nĂŁo Ă© “adequado” nem “responsĂĄvel” e que nĂŁo opera com imparcialidade.

Além de suspensa na União Europeia, a emissora de TV russa RT também tinha sido bloqueada no YouTube, junto com outros canais estatais russos, e em outras redes sociais.

Ao explicar o banimento da emissora russa, o Ofcom disse que levou em conta “uma sĂ©rie de fatores”, incluindo o fato de que o canal de notĂ­cias foi financiado pelo estado russo “que recentemente invadiu um paĂ­s soberano”.

O regulador tambĂ©m citou novas leis na RĂșssia “que efetivamente criminalizam qualquer jornalismo independente que se afaste da prĂłpria narrativa de notĂ­cias do estado russo, em particular em relação Ă  invasĂŁo da UcrĂąnia”.

HĂĄ duas semanas o parlamento russo aprovou uma draconiana lei para punir quem disseminar “fake news” a respeito da guerra ou dos atos do exĂ©rcito com atĂ© 15 anos de cadeia.

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