O colunista russo do Washington Post (WP) Vladimir Kara-Murza, de 40 anos, foi preso por autoridades da Rússia na segunda-feira (11) em frente à sua casa, segundo informou o jornal norte-americano.
Kara-Murza é um opositor político e crítico conhecido do Kremlin. A prisão dele aconteceu no mesmo dia em que foi exibida uma entrevista na CNN na qual ele chamou o governo Putin de “um regime de assassinos” e previu a queda do presidente russo por causa da invasão da Ucrânia.
Colaborador do regular do WP, ele já escreveu colunas protestando contra a guerra e as violações dos direitos humanos. O crítico de Putin sobreviveu a dois envenenamentos, em 2015 e 2017, que ele atribui ao governo russo em retaliação por sua defesa de sanções ocidentais contra o país.
Colaborador do Washington Post preso na Rússia sobreviveu a envenenamentos
O programa “Big Picture with Sara Sidner”, do novo streaming de streaming CNN+, exibiu a entrevista com Vladimir Kara-Murza na segunda-feira, na qual ele condenou a invasão russa à Ucrânia e fez duas críticas ao presidente Vladimir Putin.
“Não tenho absolutamente nenhuma dúvida de que o regime de Putin vai acabar com esta guerra na Ucrânia”, disse à CNN. E acrescentou:
“As duas principais questões são tempo e preço e por preço, não quero dizer monetário – quero dizer o preço de sangue e vidas humanas que já foi horrendo, mas o regime de Putin vai acabar com isso e haverá uma Rússia democrática depois de Putin.”
Horas depois da exibição da entrevista, Kara-Murza foi preso do lado de fora de sua casa em Moscou. A esposa dele, Evgenia Kara-Murza, confirmou a prisão do colunista do Washington Post na Rússia em um tweet.
“Duas vezes as autoridades russas tentaram matar meu marido por defender sanções contra ladrões e assassinos, e agora eles querem jogá-lo na prisão por chamar sua guerra sangrenta de GUERRA”, escreveu ela. “Exijo a libertação imediata do meu marido!”
Twice have the Russian authorities tried to kill my husband for advocating for sanctions against thieves and murderers, and now they want to throw him in prison for calling their bloody war a WAR. I demand my husband’s immediate release!
— Evgenia Kara-Murza (@ekaramurza) April 12, 2022
Sobrevivente de dois envenenamentos, o político ficou em coma nas duas vezes e sempre acusou a Rússia de ter orquestrado os crimes. O Kremlin nega qualquer relação com os casos.
Porém, segundo o Washington Post, investigações de organizações independentes descobriram que Kara-Murza foi seguido por membros da mesma agência federal que supostamente envenenou o também crítico do Kremlin Alexei Navalny e pelo menos três outras figuras da oposição.
“Após envenenamentos e outras ameaças graves, esta detenção ultrajante é o último movimento no esforço contínuo de Vladimir Putin para silenciar Kara-Murza e esconder a verdade sobre as atrocidades que Putin está cometendo em nome do povo russo”, disse o editor do Washington Post, Fred Ryan.
“Ninguém deve ser enganado pelas acusações e difamações forjadas do governo russo, e Kara-Murza deve ser libertado imediatamente.”
Em 2018, outro colunista do Washington Post foi capturado por suas posições políticas e acabou morrendo.
Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico do regime do país, entrou na embaixada Arábia Saudita em Istambul para receber documentos necessários ao seu casamento com uma turca e nunca mais foi visto.
O crime ganhou atenção internacional, com a noiva do jornalista, Hatice Cengiz, empreendendo uma luta incansável para responsabilizar os autores do crime dentro da embaixada, que teria sido autorizado ou encomendado pelo príncipe Mohammed bin Salman, líder do país.
Há uma semana a justiça turca decidiu encerrar o processo, mandando o caso para ser julgado em Riad, onde dificilmente haverá punição.
Colunista do Washington Post militou a favor de sanções para Rússia
O opositor político Vladimir Kara-Murza é autor, diretor de documentários e ex-candidato ao parlamento russo, e atuou como vice-líder do uma organização política, o Partido da Liberdade do Povo, informou o Washington Post.
Segundo o jornal, ele também desempenhou um papel fundamental em conseguir que Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Reino Unido adotassem leis de sanções em 2012, conhecidas como Lei Magnitsky, que visam indivíduos na Rússia e em outros lugares que são cúmplices de violações de direitos humanos.
Kara-Murza escreveu dezenas de colunas para a seção de Opiniões Globais do WP nos últimos anos que criticaram o governo russo.
“Em uma única semana, todas – literalmente, todas – as vozes restantes da mídia independente da Rússia foram silenciadas em um esforço coordenado pelo gabinete do procurador-geral e pela principal agência de censura do governo”, escreveu ele em uma coluna em 7 de março.
“Um após o outro, os meios de comunicação que ousaram relatar honestamente sobre o ataque de Putin à Ucrânia tiveram seus sinais cortados e seus sites bloqueados.”
A prisão dele é alinhada com a forte repressão do governo Putin à mídia independente após a invasão da Ucrânia.
No mês passado, o parlamento russo promulgou uma lei tornando um crime punível com penas de prisão de até 15 anos para quem divulgar notícias “falsas” sobre as forças armadas, incluindo chamar a invasão da Ucrânia de “guerra”.
Enquanto outras figuras dissidentes fugiram do país, Kara-Murza foi um dos poucos a permanecer na Rússia.
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