Londres – Em seu aniversário de 96 anos nesta quinta-feira (21), a Rainha Elizabeth II dividiu os holofotes com o neto rebelde Harry.
Uma entrevista do príncipe à jornalista Hoda Kotb, veiculada pela emissora americana NBC na véspera do aniversário da avó (20), irritou os britânicos e virou destaque na imprensa e nas redes sociais.
As declarações de Harry atrapalharam os planos da eficiente máquina de relações públicas do Palácio de Buckingham, que havia escolhido uma cena bucólica de Elizabeth II ao lado de pôneis brancos para celebrar a data. Mas acabou tendo que lidar com um noticiário negativo sobre as confusões familiares do clã.
A ‘surpresa’ de Harry no aniversário da rainha Elizabeth
A imagem oficial do aniversário foi feita há um mês pelo fotógrafo Henry Dallal no Castelo de Windsor. A Rainha Elizabeth II aparece ao lado dos pôneis Bybeck Nightingale e Bybeck Katie.
Mas a entrevista de Harry, desta vez sem a mulher Meghan para levar a culpa, ocupou a primeira página da maioria dos jornais do país – não apenas os tabloides sensacionalistas – e os comentários na TV, turvando o que deveria ser um dia de notícias positivas e amenas.
O jornal Daily Mail dividiu sua capa, dizendo: “olha quem estragou a alegria dela de novo…”. O The Times destaca a “esnobada” de Harry na família. O Daily Star fala de “guerra na realeza”, e critica o príncipe com a manchete “O ego pousou”.
Aniversário da rainha Elizabeth II em dose dupla
Proposital ou não, a data da entrevista não poderia ser mais inconveniente.
O aniversário da rainha Elizabeth é comemorado duas vezes por ano. Na data oficial do nascimento que é hoje, acontecem algumas celebrações menores.
Além da foto com os pôneis, o Palácio divulgou também uma imagem da rainha aos dois anos de idade, lembrando que naquele momento, em 1928, ela não fazia parte da rota direta de sucessão.
Elizabeth é filha do rei George VI, que ascendeu depois que seu irmão, Edward VIII, abdicou para se casar com a americana Wallis Simpson. Como filha mais velha, recebeu a coroa aos 25 anos quando o pai morreu, em 1952.
Happy Birthday Your Majesty!
Today as The Queen turns 96, we’re sharing this photograph of the young Princess Elizabeth aged 2.
Then, in 1928, it was never expected she would be Queen, and this year Her Majesty is celebrating her #PlatinumJubilee – a first in British history. pic.twitter.com/DnwsMU81I3
— The Royal Family (@RoyalFamily) April 21, 2022
A rainha está passou o dia em Sandringham, uma residência que tem significado emocional por ser onde o príncipe Philip passou a maior parte do tempo no fim da vida.
Mas o ponto alto da festa todos os anos ocorre em junho, quando o clima é mais quente. Em um sábado há paradas militares, vários eventos e um show aéreo chamado Trooping the Colors, em Londres, este ano marcado para o dia 2.
A família real aparece unida na varanda do Palácio de Buckingham, uma imagem clássica que ajuda a alimentar a mística da monarquia britânica, com súditos reverenciando a realeza e ajudando a fortalecer sua imagem.
Este ano a comemoração promete ser ainda maior, pois a rainha está completando 70 anos no trono. O Jubileu de Platina está motivando uma série de ações de comunicação programadas pela equipe do Palácio de Buckingham.
Embora a rainha venha apresentado sinais de saúde fragilizada e tenha cancelado compromissos oficiais, a expectativa é de que ela participe ao máximo das comemorações.
Há rumores de que depois do encerramento dos eventos do aniversário de 70 anos no trono, Elizabeth II se recolha e restrinja ainda mais suas aparições públicas.
E muita especulação sobre o papel de membros problemáticos da família real, o príncipe Andrew e o príncipe Harry e sua mulher Meghan Markle, nas festas.
Andrew, que muitos afirmam ser o filho preferido da rainha, virou um pesadelo para a imagem da monarquia pelo envolvimento em um escândalo de abuso sexual de uma jovem americana.
Ele encerrou o processo pagando uma polpuda indenização, mas perdeu títulos e honrarias militares.
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Harry e Meghan romperam há pouco mais de um ano o tradicional silêncio em torno de assuntos internos, com uma explosiva entrevista à apresentadora americana Oprah Winfrey, em março de 2021.
Entre outros petardos, revelaram comentários racistas sobre o filho feitos por algum integrante da família, cujo nome jamais foi confirmado.
A imprensa entrou na linha de tiro do casal, acusada de perseguição e racismo.
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Eles agora vivem nos EUA, em uma mansão na Califórnia, onde nasceu a segunda filha do casal, cujo nome Lilibet, homenageia a avó. Lilibeth é seu apelido familiar.
Os dois nunca mais haviam pisado em solo britânico, nem para a cerimônia de um ano da morte do príncipe Philip, até uma inesperada visita na semana passada.
Antes do aniversário, chá com a rainha Elizabeth
A caminho da Holanda para a abertura dos jogos Invictus, disputados por veteranos feridos em guerras, Harry e Meghan surpreenderam a mídia com uma escala em Londres, na qual visitaram a rainha no palácio de Windsor para tomar chá.
A comunicação oficial do Palácio de Buckingham não divulgou oficialmente a visita, nem antes nem depois.
Mas a mídia noticiou amplamente o encontro no dia. Depois, Harry comentou a conversa amável com a avó durante a entrevista para a rede americana veiculada nesta quarta-feira, que está causando mais barulho do que as balas de canhão disparadas no Hyde Park nesta quinta-feira para homenagear a aniversariante do dia.
“Estar com ela foi ótimo. Foi tão bom vê-la.
Meghan e eu tomamos chá com ela. Ela estava em grande forma, ela sempre tem um grande senso de humor.”
Mas o que irritou mesmo muitos britânicos e virou objeto de críticas na mídia por parte dos comentaristas que analisam cada passo da monarquia foi a sugestão de que Harry estaria “cuidando da avó”:
“Estou apenas me certificando de que ela esteja protegida e tenha as pessoas certas ao seu redor”.
Os críticos confrontaram a declaração com o fato de ele estar morando longe e não ter viajado ao Reino Unido para a missa do avô.
Em uma entrevista ao jornal The Times, Angela Levin, que escreveu uma biografia do príncipe Harry em 2018, disse:
“Não vejo como alguém pode ficar longe de alguém por mais de um ano e não ir ao funeral do marido dela – e depois fingir que sabe melhor como cuidar dela do que qualquer outra pessoa.
Acho que é um insulto ao príncipe Charles, ao príncipe William e suas mulheres, que fizeram tanto para ajudar a rainha”.
O motivo alegado para a ausência foi segurança. Harry queria que o governo britânico fizesse a sua segurança e se ofereceu para pagar por isso, mas o pedido não foi aceito pelo Ministério do Interior, já que oficialmente ele não faz mais parte do núcleo de membros da realeza com papel oficial.
A fala do príncipe foi interpretada como uma tentativa de parecer mais íntimo do que de fato é, e uma crítica velada aos que ficaram ao lado da rainha durante todo esse tempo, como se eles precisassem de seu endosso.
Como é padrão, não houve qualquer comentário ou resposta dos príncipes Charles, William ou do Palácio. Mas a imprensa britânica, atribuindo a fontes do palácio, reportou o desconforto, com as primeiras páginas dos jornais mais monarquistas destacando a declaração.
Outro trecho da entrevista que virou assunto no país foi a resposta evasiva a perguntas sobre se ele sente falta da família.
Primeiro ele desviou para o isolamento da pandemia:
“Sim, acho que, especialmente nos últimos dois anos, todo mundo sentiu falta de sua família e dessa capacidade de chegar em casa e vê-los”.
Mas a pergunta não era esta, e Kobt insistiu, indagando Harry sobre se ele sentia falta especificamente do irmão, o príncipe William, e do pai, o príncipe Charles.
Ele rapidamente mudou de assunto e falou sobre seu foco no evento Invictus e nos filhos, que ficaram na Califórnia.
“Olha, no momento, estou aqui focado nesses caras e nessas famílias […].
“Dar a eles um evento de uma vida é o meu foco aqui e quando voltar, meu foco será minha família, de quem sinto muita falta, são duas crianças pequenas”.
Também gerou grande repercussão a resposta de Harry sobre sua relação com o país onde nasceu e tem sua avó como rainha há 70 anos.
Harry disse:
“O lar para mim agora, por enquanto, é nos Estados Unidos.
“Fomos recebidos de braços abertos e temos uma comunidade tão grande em Santa Bárbara.”
A entrevista completa pode ser vista aqui.
Os convidados para a varanda no aniversário da rainha Elizabeth
A visita da semana passada, antes da entrevista, alimentou a tese de uma reaproximação com a família e participação do casal e dos filhos em eventos do Jubileu.
Uma das especulações seria de que a rainha poderia reunir na varanda do Palácio de Buckingham todos os parentes, incluindo os complicados Harry, Meghan e Andrew.
Se o plano for este, a entrevista à TV americana pode complicar as coisas, ao menos sob a ótica de quem cuida da comunicação pública do Palácio de Buckingham e dos príncipes Charles e William.
Eles são tidos como os principais conselheiros da rainha e críticos aos caminhos trilhados por Harry.
Em uma parte da entrevista, Harry foi perguntado se ele planejava retornar ao Reino Unido com a esposa Meghan e os filhos Archie e Lilibet para o Jubileu de Platina da rainha.
Ele disse: “Ainda não sei. Há muitas coisa, questões de segurança e tudo mais “. O “tudo o mais” parece ser a dificuldade de negociar os termos com a família.
Não é possível prever o que vai acontecer, mas há alguns sinais.
De um lado, a equipe de comunicação do Palácio de Buckingham certamente prefere ver Harry e Meghan longe, pois eles são imprevisíveis e já deram mostras de saber como roubar a cena.
No mesmo lado possivelmente estão os príncipes Charles e William, sobretudo depois da esnobada de Harry sobre a saudade da família.
A voz ativa da rainha Elizabeth II
Porém, há alguém que pode ter a palavra final: a rainha Elizabeth. Ainda que a família seja longeva – a mãe, Elizabeth, morreu aos 101 anos – ela própria já indicou que não pretende continuar tão presente em atividades públicas.
Neste aniversário coincidindo com o Jubileu de Platina que pode ser uma das últimas grandes celebrações da rainha Elizabeth II, unir a família inteira, não importa o que fizeram no passado, talvez seja um desejo pessoal, de mãe e avó.
Ou uma forma de reafirmar a união da monarquia em um momento em que muitos questionam se o atual regime deve permanecer depois que ela morrer ou deixar o trono por abdicação.
Na missa de um ano de morte do príncipe Philip, ela mandou um recado, ao escolher o filho Andrew para acompanhá-la na chegada à igreja, parecendo querer reabilitá-lo pelo menos como mãe.
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O jogo de relações públicas do Palácio de Buckingham vai ter lances emocionantes de agora até junho – quase um seriado da Netflix ao vivo e em tempo real.