O movimento das redes sociais contra a desinformação climática nas plataformas ganhou mais um membro de peso. Dias antes de ser comprado pelo bilionário Elon Musk, o Twitter escolheu o Dia da Terra, celebrado em 22 de abril, para comunicar ao público que anúncios publicitários que promovam a negação das mudanças climáticas estão proibidos.
A rede social atualizou sua política de uso, inserindo publicações pagas que contrariem o consenso científico sobre os impactos das mudanças climáticas como conteúdo impróprio, juntamente com outros tipos de anúncios proibidos, como campanhas que contenham violência, palavrões ou ataques pessoais.
A mudança no Twitter acontece semanas depois do Pinterest também adotar postura semelhante, porém, mais radical. A plataforma decidiu banir inteiramente a desinformação climática, incluindo posts pagos e conteúdos postados por usuários comuns.
Twitter já tinha anunciado ações contra mudanças climáticas
A decisão do Twitter sobre banir anúncios que neguem as mudanças climáticas foi anunciada no blog da plataforma.
A rede social usará como base, entre outras fontes, relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), para informar quais anúncios violam suas regras.
“Acreditamos que o negacionismo climático não deve ser monetizado no Twitter e que anúncios deturpados não devem prejudicar conversas importantes sobre a crise climática.”
“Reconhecemos que informações enganosas sobre as mudanças climáticas podem minar os esforços para proteger o planeta.”
No ano passado, durante a COP26, Conferência do Clima da ONU, o Twitter também lançou iniciativas para combater as fake news sobre mudanças climáticas na plataforma.
Um conjunto de ferramentas destinadas a “desmascarar” a desinformação sobre a emergência ambiental e adiantar-se a falsas narrativas sobre o clima foi apresentado.
“Estamos lançando pré-bunks – centros de informações confiáveis, disponíveis na guia Explorar, Pesquisa e Tendências, para exibir conteúdo factual em temas-chave, como a evidência científica que apoia a realidade das mudanças climáticas e do aquecimento global”, disse a empresa em um comunicado.
O Twitter inaugurou ainda uma página para a COP26, apresentando recursos e comentários de organizações importantes e especialistas ambientais, bem como as últimas notícias sobre a conferência em tempo real.
A mudança no microblog coincide com a oferta de US$ 43 bilhões feita pelo bilionário Elon Musk para comprar a empresa. A negociação foi iniciada após o dono da Tesla e SpaceX citar em diversas ocasiões a importância da liberdade de expressão na rede social.
Em uma conferência TED na semana passada, Musk chamou o Twitter de “praça pública”. Para ele, uma publicação controversa, mesmo que parte de “uma área cinzenta”, não tem motivos para ser removida.
Se efetivada a compra da plataforma pelo empresário sul-africano, essa postura de liberdade de expressão defendida por ele pode anular as recentes mudanças no Twitter que buscam mais moderação de conteúdo, inclusive sobre as mudanças climáticas.
Pinterest bane postagens e anúncios que negam crise do clima
A política mais recente do Twitter contra a desinformação sobre a crise do clima faz parte de uma tendência maior entre as empresas de mídia social que tentam frear esse tipo de conteúdo em suas plataformas.
Pinterest, Facebook e Google são algumas que já anunciaram ações em resposta às críticas de ativistas de que estão fazendo pouco para combater a disseminação de campanhas organizadas de negam as mudanças climáticas.
O próprio Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), criado há sete décadas por cientistas da Universidade de Chicago, aponta o clima como uma das grandes ameaças ao futuro do planeta. E a desinformação nas redes sociais sobre o tema é destacada pelos especialistas como um dos obstáculos a serem superados na luta a favor do meio ambiente.
Leia mais
Apocalipse do planeta: cientistas mantêm o ‘Doomsday Clock’ a 100 segundos para a meia-noite
Por isso, o Pinterest resolveu reagir e anunciou, no início de abril, uma nova política destinada a banir inteiramente a desinformação climática da rede social.
As mudanças foram descritas pela rede de compartilhamento de fotos de forma ambiciosa: o Pinterest apresenta-se como a primeira grande plataforma digital a introduzir uma política abrangente de controle da desinformação.
A empresa afirma que passará a remover conteúdo postado por usuários e também anúncios pagos que neguem a existência dos impactos das mudanças climáticas, a influência humana sobre elas e que eventos climáticos extremos não são considerados um consenso científico, dentre outras alegações falsas.
A plataforma atualizou as diretrizes de publicidade para proibir explicitamente quaisquer anúncios que contenham teorias da conspiração, informações erradas e desinformações relacionadas às mudanças climáticas.
Em comunicado à imprensa, Sarah Bromma, chefe de política do Pinterest, admitiu que o movimento é “ousado”, mas necessário para cultivar um “espaço confiável e verdadeiro” para os usuários do site.
Leia mais
Pinterest vai banir conteúdo e anúncios negando crise do clima
Na contramão: Facebook exige fake news para céticos das mudanças climáticas
Enquanto Pinterest e Twitter anunciam ações contra desinformação de mudanças climáticas, o Facebook ainda engatinha no problema.
O próprio CEO da Meta, Mark Zuckerberg, assumiu ao Congresso americano que a desinformação climática era “um grande problema” na plataforma e, após isso, foram criados rótulos para fake news sobre o tema.
No entanto, pesquisa recente feita pela ONG Global Witness revela que usuários do Facebook céticos quanto às mudanças climáticas se deparam com mais desinformação dentro da rede social — em vez de serem confrontados com publicações idôneas que abordam o tema.
Em experimento que simulou a vivência de internautas reais, um usuário-teste que seguia páginas com conteúdo negacionista apoiadas por grupos conservadores recebia recomendações de outras que também desqualificavam fatos científicos sobre a crise do clima.
A investigação da ONG constatou que, à medida que a simulação se aprofundava, o Facebook começou a recomendar até mesmo teorias da conspiração anticlimáticas, como a “chemtrail”, que afirma que a condensação deixada pelos aviões contém agentes químicos que controlam o clima.
No total foram recomendadas 18 páginas na simulação inicial, sendo que apenas uma não continha nenhuma desinformação climática. Dois terços das páginas foram dedicados exclusivamente à fake news ou teorias da conspiração relacionas ao clima.
Leia também
Dia da Terra: ‘doodle’ do Google exibe cenas chocantes e reais da crise do clima