Para evitar represálias e riscos para os profissionais de imprensa que ainda atuam em Hong Kong em um cenário de repressão cada vez mais intensa, a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCCHK, na sigla em inglês) anunciou a suspensão de seu Prêmio de Imprensa de Direitos Humanos.
Os vencedores seriam anunciados nesta terça-feira, 3 de maio, em que se comemorou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Ao mesmo tempo em que o cancelamento foi anunciado, a ONG britânica Hong Kong Watch divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no território, em que afirma: “O ambiente de trabalho para jornalistas locais e estrangeiros em Hong Kong tornou-se cada vez mais difícil.”
Medo de violação de lei amordaça imprensa de Hong Kong
A decisão da FFCHK de não realizar o tradicional prêmio de direitos humanos reflete o clima de medo em que vivem jornalistas, veículos e demais profissionais de imprensa quase dois anos após a aprovação de uma nova lei de segurança nacional.
Ela foi decretada em 2020 pelo governo chinês como resposta à luta pela democracia na ex-colônia britânica.
No comunicado em que anunciou o cancelamento, a associação atribuiu a decisão ao ambiente de “significativa incerteza” vivido nos últimos dois anos, que faz com que os jornalistas de Hong Kong trabalhem sob “novas ‘linhas vermelhas’ determinando o que é e o que não é permitido”.
Segundo a Associação de Correspondentes, o prêmio poderia representar violações involuntárias da lei.
“Exploramos outras opções, mas não conseguimos encontrar um caminho viável a seguir”, escreveu o presidente do Clube de Correspondentes Estrangeiros, Keith Richburg.
Ele acrescentou que os acontecimentos recentes podem exigir que o clube altere sua estratégia à medida que continua promovendo a liberdade de imprensa.
Desde que a lei foi aprovada, três grandes meios de comunicação fecharam, o Apple Daily, o Stand News e o Citizen News.
O Apple Daily era parte de um grande conglomerado editorial, o Next, cujo proprietário, o bilionário Jimmy Lai, foi preso e condenado. O grupo fechou as portas.
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Entre os trabalhos a serem premiados estavam reportagens publicadas pelo Stand News, fechado depois que a polícia invadiu a redação em dezembro e prendeu editores e executivos.
De acordo com documentos acessados pelo jornal americano Washington Post, algumas das matérias vencedoras abordaram tópicos como a responsabilidade da polícia nos protestos de Hong Kong, em 2019, e as redações e organizações civis que foram fechadas desde então.
Ma o cancelamento da homenagem não agradou a todos. A veterana documentarista Connie Lo, uma das juradas de quatro categorias dos prêmios, disse que a suspensão é “um insulto à indústria do jornalismo”.
“Muitas vezes os repórteres tiveram que arriscar suas vidas para realizar seu trabalho”, disse Lo. “A premiação deste ano teria um significado especial para jornalistas de veículos já extintos.”
Mary Hui, repórter do site de notícias financeiras Quartz, foi um dos oito membros que se demitiram do comitê de liberdade de imprensa do Clube de Correspondentes Estrangeiros na semana passada, em sinal de protesto.
Hui chamou a decisão do clube de “lamentável e decepcionante”.
“Ao cancelar os prêmios, acho que enviamos uma mensagem bastante preocupante de que defender a liberdade de imprensa como a missão declarada do Clube de Correspondentes Estrangeiros não é mais sustentável.”
Ronson Chan, presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, disse que o cancelamento abrupto dos prêmios foi “lamentável, mas compreensível”.
Ele acrescentou que a premiação seria um “reconhecimento aos jornalistas que dedicaram seus corações e almas ao trabalho de reportagem”.
Outro jornalista envolvido na premiação, Allan Au foi preso há duas semanas por supostamente “conspirar para publicar materiais sediciosos”, um crime punível com até dois anos de prisão.
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A prisão de Au marcou a primeira vez que as autoridades miraram um profissional individual, em vez de um executivo da redação. O jornalista veterano foi libertado sob fiança cerca de 17 horas depois da detenção.
A Associação de Correspondentes Estrangeiros foi fundado em 1943 na China e, seis anos depois, transferida para Hong Kong.
O Prêmio de Imprensa de Direitos Humanos está entre os mais antigos e prestigiados da Ásia na área do jornalismo.
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