Londres – Depois de suspender as operações de seu jornal de oposição ao governo de Vladimir Putin e à guerra com a Ucrânia, Dmitry Muratov, o jornalista russo que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2021, vai leiloar a cobiçada medalha e destinar os recursos a refugiados ucranianos que tiveram que deixar o país devido à invasão.
No início da semana, a banda ucraniana Kalush Orchestra, que venceu o Eurovision, também anunciou a venda do troféu conquistado com a maior votação pública dos 66 anos de história da competição para ajudar o exército do país.
Muratov, o editor do Novaya Gazeta que dividiu o Nobel com a jornalista filipina Maria Ressa, escolheu a casa de leilões americana Heritage Auction para vender a peça em um leilão marcado para 20 de junho. O lance inicial é de US$ 260 mil (R$ 1,2 milhão).
Medalha do Nobel da Paz será leiloada por russo
Muratov já tinha doado o prêmio em dinheiro do Nobel a instituições de caridade, incluindo crianças que sofrem de atrofia muscular espinhal, entre outras organizações beneficentes.
O jornal parou de publicar notícias no site no dia 28 de março, depois de receber a segunda notificação do órgão de controle de imprensa russo, o Roskomnadozor, o que pode custar a cassação da licença de funcionamento.
Um grupo de jornalistas exilados relançou o jornal com apoio de um fundo da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) para ajuda a jornalistas e veículos obrigados a deixar seus países ou a fechar devido a perseguições de governo.
O jornalista russo, que recebeu o Nobel da Paz de 2021 por seu trabalho em um ambiente hostil à mídia, anunciou a decisão de leiloar declarando que o dinheiro será usado para ajudar ucranianos que tiveram que fugir do país por causa da invasão.
Na descrição do leilão, a Heritage Auctions afirma que 100% dos rendimentos irão para o apoio da Unicef às crianças ucranianas deslocadas pela guerra.
A abertura para lances online foi no dia 1º de junho, Dia Internacional da Criança, com o leilão se encerrando em 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado.
Concedidas às pessoas mais notáveis em áreas especializadas e por ações humanitárias, as medalhas do Nobel são altamente colecionáveis como obras de arte e pelas conquistas que representam.
Segundo a casa de leilão, Muratov, com total apoio de sua equipe na Novaya Gazeta, permitiu que medalha seja vendida não como um item colecionável, mas como “uma ação destinada a impactar positivamente a vida de milhões de refugiados ucranianos.”
Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro, a ONU (Nações Unidas) estima que 6,6 milhões de pessoas deixaram o país invadido.
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Mais de 3,5 milhões fugiram para a Polônia, quase 1 milhão para a Romênia e mais 1 milhão para a Rússia. Hungria, Moldávia e Eslováquia também receberam cerca de 500 mil refugiados cada um.
A ONU afirma que há mais de 10 mil refugiados em pelo menos 20 países. Estime-se que 14 milhões de outros foram deslocados dentro da Ucrânia, com recursos escassos para comida, abrigo e outras necessidades básicas.
Além do leilão da medalha do Nobel da Paz, Muratov também participa de uma campanha de arrecadação de fundos para a Unicef que pode ser acessada por qualquer pessoa e sem prazo de expiração.
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Banda vencedora do Eurovision vende trófeu para ajudar Ucrânia
Em outra ação de apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, a banda ucraniana Kalush Orchestra vendeu o troféu que recebeu por vencer o Eurovision, considerada a maior competição musical do mundo, por US$ 900 mil (R$ 4,3 milhões).
A renda será destinada para comprar três drones para o exército da Ucrânia.
“Pessoal, vocês são incríveis! Somos gratos a cada um de vocês que doou dinheiro para este leilão, e especialmente à equipe da Whitebit que comprou a taça por US$ 900 mil e assim se tornou a dona do nosso troféu desde então”, disse o grupo em um comunicado à imprensa. “Glória à Ucrânia! Glória às Forças Armadas da Ucrânia!.”
Em um leilão anterior, a banda já tinha arrecadado US$ 370 mil (R$ 1,7 milhão) por um chapéu rosa usado pelo cantor Oleh Psiuk na final do Eurovision. O dinheiro também foi destinado às forças militares do país.
Uma das favoritas para ganhar a edição 2022 do Eurovision, a Ucrânia tinha como trunfos não apenas a qualidade da música que representou o país, um moderno e engajado hip hop, mas também a solidariedade dos que se comovem diariamente ao ver os efeitos da invasão da Rússia ao país.
A combinação deu certo na final realizada em 14 de maio, em Turim, na Itália, assistida por 200 milhões de espectadores.
Com nada menos do que 439 pontos dos 480 que poderia obter na votação do público em 40 países, a Kalush Orchestra levou o troféu do Eurovision com maior votação popular já registrada em todas as 66 edições do festival, provocando manifestações de apoio de líderes políticos.
Em menos de 24 horas, a música “Stefania” virou um hino da guerra com a Rússia, com combatentes postando vídeos cantando a música vencedora até de dentro de um bunker.
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