Londres – A Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCCHK, na sigla em inglês) protestou contra a recusa do governo em fornecer cadastramento a representantes da imprensa local e internacional para acompanhar eventos oficiais que acontecem no dia 1º de julho e que terão a presença do presidente da China, Xi Jinping, em sua primeira viagem ao exterior depois da pandemia.
Os eventos da sexta-feira marcam o 25º aniversário do retorno da ilha à soberania chinesa por acordo com a Grã-Bretanha e a posse do novo líder do governo local, John Lee. Um esquema de segurança gigante foi montado, com ruas bloqueadas e proibição de manifestações pró-democracia aproveitando a visita do presidente, que chegou a Hong Kong na manhã de quinta-feira (30) em um trem de alta velocidade.
Profissionais de emissoras chinesas e correspondentes tiveram seus credenciamentos rejeitados por “razões de segurança”, segundo a associação. Ao site Hong Kong Free Press, a associação disse que os veículos afetados incluem Reuters, Bloomberg, AFP (Agence France-Press) Ming Pao, HK01, South China Morning Post e Now News.
Mídia segregada na visita de Xi Jinping a Hong Kong
Os recentes atos são apenas mais alguns exemplos do cenário de crescente repressão vivido pela ex-colônia britânica, classificada em 148º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) este ano.
Em maio, a FCCHK chegou a cancelar a entrega do prêmio anual de Jornalismo e Direitos Humanos por medo da cerimônia representar violações involuntárias da dura lei de segurança nacional do governo chinês.
O novo chefe do governo de Hong Kong, John, Lee, é um ex-policial e ex-ministro da segurança, sinalizando que a atual política em relação a críticos do regime comandado por Xi Jinping e à imprensa deve continuar.
O acordo firmado pela China com a Grã-Bretanha estabelece 50 anos de um regime denominado “um país, dois sistemas”, assegurando que as liberdades e o modo de vida de Hong Kong seria mantido.
Isso ocorreu no início, mas nos últimos anos houve uma crescente interferência política e social de Pequim, que os críticos veem como uma quebra do acordo, gerando protestos fortemente reprimidos desde então.
O governo disse que a recusa em fornecer credencial a vários profissionais foi por “razões de segurança”, sem fornecer mais informações, de acordo com reportagens da mídia local.
Embora as organizações de mídia tivessem a opção de solicitar credenciamento para outros profissionais em substituição aos barrados, isso não seria possível, já que os novos inscritos eram obrigados a testar negativo para covid-19 todos os dias entre o último domingo e 1º de julho — o que não foi feito, pois a rejeição dos pedidos foi comunicada na terça-feira (28).
A associação destaca que, no passado, eventos oficiais semelhantes eram abertos ao registro da imprensa sem convite ou verificação.
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A entidade criticou a postura do governo:
“O governo de Hong Kong diz repetidamente ao público que o direito à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão – consagrados na Lei Básica da cidade – ainda existe.
O FCCHK vê essas restrições, aplicadas sem explicação detalhada, como um sério desvio desse compromisso declarado com a liberdade de imprensa.
O FCCHK insta o governo a reconsiderar imediatamente as restrições para permitir que todos os meios de comunicação cubram essa história significativa.”
FCC Statement on July 1 Media Restrictionshttps://t.co/TtCEsgezoW pic.twitter.com/sskikIXVLK
— The Foreign Correspondents’ Club, Hong Kong (@fcchk) June 29, 2022
A visita de Xi Jinping será sua primeira viagem fora da China continental desde o início da pandemia de coronavírus. Ele também esteve presente à posse da governadora que deixa o cargo, Carrie Lam, em 2017.
Na época, a visita foi marcada por uma série de protestos, que se intensificaram nos anos seguintes e levaram Hong Kong a adotar medidas severas de repressão a opositores e à mídia independente.
Sob uma nova Lei de Segurança Nacional, em vigor desde 2020, dissidentes foram presos e houve uma onda de repressão à imprensa.
Em Hong Kong, três jornais são fechados em seis meses
O sufocamento da liberdade de imprensa em Hong Kong levou ao fechamento dos três principais jornais num período de seis meses. O último caso foi o do jornal digital independente Citizen News, que fechou as portas em janeiro deste ano.
O anúncio do fim do Citizen News aconteceu uma semana após uma operação policial que prendeu sete funcionários do Stand News, acusados de sedição.
Entre os presos, estavam uma famosa cantora pop que foi membro do conselho do jornal, Denise Ho, e um dos editores que presidia a Associação de Jornalistas de Hong Kong.
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Outra publicação pró-democracia, o jornal Apple Daily – conhecido por suas críticas ao governo chinês, em Hong Kong – também foi forçado a fechar em junho do ano passado, após uma pressão constante das autoridades sobre o jornal que funcionou de 1995 a 2021.
Seis diretores da publicação também foram detidos no ano passado por acusações baseadas na lei de segurança nacional.
Seu proprietário, o famoso magnata da mídia Jimmy Lai, de 74 anos, cumpre pena por diversas condenações relacionadas aos protestos pró-democracia que tomaram conta de Hong Kong em 2019. Ele é um dos mais velhos jornalistas presos na atualidade.
Ambiente de incerteza na Hong Kong sob o domínio da China de Xi Jinping
Quando anunciou o cancelamento de seus prêmios, em maio, a associação de correspondentes atribuiu a decisão ao ambiente de “significativa incerteza” vivido nos últimos dois anos, que faz com que os jornalistas de Hong Kong trabalhem sob “novas ‘linhas vermelhas’ determinando o que é e o que não é permitido”.
Na mesma semana, a ONG britânica Hong Kong Watch divulgou um relatório denunciando a perseguição à liberdade de imprensa no território chinês, em que afirma: “O ambiente de trabalho para jornalistas locais e estrangeiros em Hong Kong tornou-se cada vez mais difícil.”
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O documento detalha diversos métodos usados pelas autoridades de Hong Kong para restringir a liberdade de imprensa na cidade: violência e batidas policiais contra profissionais e empresas da mídia; fechamento de meios de comunicação independentes; mudança de gestão nas emissoras públicas, como a RTHK; e lei draconianas que encarceram repórteres e editores.
A repressão à imprensa, aponta o relatório, se desenvolveu desde 2019 e foi intensificada com a imposição da Lei de Segurança Nacional, em 2020.