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Parlamentares alemães pedem que Reino Unido e EUA reconsiderem extradição de Assange

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Manifestação por Assange em Berlim (foto: Twitter Candles4Assange)

Londres – No mesmo dia em que o primeiro-ministro britânico Boris Johnson renunciou ao cargo, um grupo de parlamentares alemães divulgou um manifesto pedindo que o Reino Unido reconsidere a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos.

O texto, assinado por ao menos 70 integrantes do Bundestag, o parlamento da Alemanha, defende a liberdade de imprensa,  chama a decisão da secretária do Interior do Reino Unido, Priti Patel, de “lamentável e errada” e pede a Joe Biden que retire as acusações de espionagem. 

Em junho, Patel assinou a autorização para que o fundador do WikiLeaks seja enviado para julgamento nos EUA. Assange é procurado no país por divulgação de documentos militares sobre as guerras do Afeganistão e Iraque. Se condenado em corte americana, pode pegar até 175 anos de prisão.

Políticos alemães cobram que Biden rejeite extradição de Assange

O manifesto dos parlamentares alemães teve o endosso de representantes de quatro partidos políticos, mas não o do governo do país.  

Isso difere do posicionamento adotado pelo presidente do México, López Obrador, que sugeriu nesta semana a demolição da Estátua da Liberdade caso Assange seja enviado e morra em uma prisão dos EUA.

“Os jornalistas não devem ser perseguidos ou punidos pelo seu trabalho. Em lugar algum”, diz a declaração dos políticos da Alemanha. “Julian Assange deve ser libertado imediatamente no interesse da liberdade de imprensa, bem como por razões humanitárias devido à sua saúde debilitada.”

A saga do fundador do WikiLeaks começou em 2010, quando o site publicou dados e documentos oficiais mantidos sob sigilo de ações militares dos americanos no exterior.

Em 2012, Assange se asilou na Embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu por sete anos. Em 2019, ele foi preso pela polícia britânica e o imbróglio sobre sua extradição teve início.

Após dois anos de disputa judicial com vitória para o pleito do Departamento de Estados dos EUA, Patel autorizou, em junho, a extradição de Assange.

No decorrer desse período, a saúde física e mental do jornalista se deteriorou. Familiares se preocupam com o risco de suicídio se ele ficar isolado em uma prisão americana e anunciaram novo recurso contra a decisão. 

O grupo de políticos alemães expressou preocupação com o “efeito assustador” que a extradição e a condenação de Assange podem ter sobre a liberdade de imprensa e o jornalismo investigativo em nível mundial:

“Em nossa compreensão da lei, é importante proteger aqueles que guardam segredos. Mas, para a liberdade de imprensa, não deve haver restrições.

A extradição de Assange enviaria um sinal fatal aos jornalistas de todo o mundo.”

E, de forma direta, cobraram do presidente americano que assuma uma postura favorável ao jornalista:

“Nós nos juntamos a muitos parlamentares britânicos para pedir ao governo do Reino Unido que defenda a liberdade de imprensa e reconsidere sua decisão de extraditar Assange para os EUA.

Também pedimos ao presidente dos EUA, Joe Biden, que se abstenha de seu pedido de extradição.”

A deputada Corinna Rueffer, da Aliança 90/Os Verdes, elogiou a ação dos colegas e disse que o Bundestag condena a “tortura psicológica” a qual Assange está sendo submetido durante todos esses anos de reclusão.

Toda essa movimentação no parlamento da Alemanha, no entanto, não mudou a posição do governo sobre o tema.

O jornal alemão Deutsche Welle (DW) procurou o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha para comentar o manifesto dos políticos, mas o governo afirmou que “não tem motivos para duvidar da integridade do processo de extradição” conduzido pelo Reino Unido.

4º aniversário de Assange na prisão é marcado por protestos

Após a decisão do Reino Unido, os advogados de Julian Assange entraram com um recurso para evitar a extradição dele. A apelação foi apresentada na sexta-feira (1º), dias antes do jornalista passar o seu quarto aniversário na prisão de Belmarsh, em Londres.

A celebração dos 51 anos do fundador do WikiLeaks foi marcada por protestos em diversas cidades do mundo e nas redes sociais.

Na manhã do aniversário, a mulher de Assange, Stella, advogada que faz parte de sua equipe de defesa, postou no Twitter um vídeo em que aparece com os dois filhos do casal, Gabriel e Max, preparando “lamington”, um bolo típico australiano, país natal do jornalista. 

Pressões como a feita pelos políticos da Alemanha podem ajudar na apelação de Assange para que ele não seja enviado aos EUA.

Há opção dele ser enviado para cumprir pena na Austrália, embora o governo também não tenha interferido para isso ocorrer

Outra possibilidade é uma apelação ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, antecipada pelos advogados em uma coletiva de imprensa em outubro. Porém, como o Reino Unido não faz mais parte da União Europeia, não há garantias de que leve isso em conta.

Mesmo assim, a União Europeia escolheu o lado de Assange. Em maio, a comissão de Direitos Humanos do Conselho Europeu emitiu um pedido ao Reino Unido para não extraditar o fundador do Wikileaks.

A transição de governo no Reino Unido não aponta para mudanças imediatas na decisão de autorizar a extradição. O novo primeiro-ministro será escolhido até outubro, em uma eleição interna no Partido Conservador.

Até lá, o atual premiê poderá continuar no cargo, como ele deseja, ou ser substituído por um interino. De qualquer forma, nesse período de transição os poderes do líder do governo são limitados, e a secretária que assinou a extradição continua no cargo.

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