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Jornalista ucraniano que vive em Kiev entra na lista de ‘procurados’ da Rússia sem saber por qual crime

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A continuidade da guerra na Ucrânia faz com que a repressão à imprensa por parte do governo russo vá além das fronteiras do país: o jornalista ucraniano Dmitry Gordon, que vive em Kiev, tornou-se o mais novo alvo do regime de Vladimir Putin.

O nome dele foi adicionado nesta terça-feira (19) pelo Ministério do Interior da Rússia, sem que o crime pelo qual ele é procurado seja especificado, segundo a agência estatal de notícias RIA Novasti.

Centenas de profissionais de mídia russos fugiram da censura da Rússia, enquanto na Ucrânia o jornalismo resiste, apesar de ser um dos principais alvos dos invasores, o que resultou em 10 mortes deste o início da guerra

Jornalista ucraniano já é acusado de ‘fake news’ 

Gordon é um famoso jornalista da Ucrânia, além de ser escritor com quase 40 livros publicados e de ter tido uma carreira política. Em seus dois canais no YouTube, soma mais de 5 milhões de assinantes. Nas redes sociais, ele não poupa críticas à guerra com caricaturas sátiras de Putin.

O tom de suas publicações já era suficiente para colocá-lo na mira de Putin. Assim que a Ucrânia foi invadida, ele chamou o presidente russo de “Hitler da modernidade”.

“Nunca houve nazistas no meu país – os nazistas vieram agora”, disse, em fevereiro.

Ele  também posta no YouTube vídeos de análises políticas sobre a guerra e entrevistas com especialistas, incluindo ex-membros do governo russo.

Gordon também é fundador do jornal Gordon Boulevard e do portal de notícias online Gordonua.com. O jornal rambém é distribuído na Rússia, Estados Unidos, Israel, Espanha, Itália e Alemanha.

O conteúdo divulgado pelo jornalista ucraniano em suas plataformas motivou um processo por “notícias falsas” sobre os militares da Rússia, aberto pelo Kremlin em março.

Além disso, a justiça do país acusou Gordon de pedidos públicos de guerra contra a Rússia e ódio étnico. Se condenado, ele pode pegar até 10 anos de prisão.

“Gordon pediu um ataque armado à Rússia e uma guerra agressiva usando armas nucleares”, escreveu o Comitê de Investigação da Rússia em um comunicado de 21 de março.

Segundo o portal Moscow Times, as autoridades financeiras russas designaram Gordon como “terrorista e extremista” em abril, congelando seus ativos financeiros mantidos na Rússia.

E, no final de abril, o chefe do Comitê de Investigação da Federação Russa, Alexander Bastrykin, pediu que o conteúdo dos livros de Gordon fosse verificado.

Na ocasião, o jornalista disse que ficou surpreso por saber que seus livros são vendidos na Rússia.

Ao saber da inclusão de seu nome na lista de procurados da Rússia, o jornalista ucraniano não recuou em seus comentários:

“O Ministério de Assuntos Internos da Rússia me colocou na lista de procurados. Deixe-os me atacar. Glória à Ucrânia!”

Pelo menos 200 pessoas, incluindo cidadãos estrangeiros, estão enfrentando processos criminais na Rússia por declarações associadas à invasão da Ucrânia, segundo o Moscow Times.

Rússia pede fechamento de sindicato de jornalistas

A perseguição do Kremlin à mídia chegou ao ponto máximo na semana passando, quando o governo mandou suspender as atividades do Sindicato dos Jornalistas e Trabalhadores da Mídia (JMWU, na sigla em inglês) acusando a organização de “desacreditar” as forças armadas do país.

Além disso, o Ministério Público russo entrou com pedido para a extinção do sindicato.

Entidades internacionais saíram em defesa da associação de jornalistas, considerando que a liberdade de imprensa está em rápido declínio no país desde o início do conflito armado.

A perseguição do Kremlin a profissionais da mídia e opositores de Putin foi intensificada com a aprovação da lei de “fake news”, a mesma usada para fechar o sindicato de jornalistas e para processar o jornalista ucraniano Dmitry Gordon.

O deputado Alexei Gorinov foi o primeiro condenado sob a nova legislação na semana passada e deve ficar sete anos preso.

O advogado de 60 anos estava preso desde abril, sob acusação de espalhar “informações conscientemente falsas” sobre o exército russo durante uma sessão da assembleia local.

De acordo com as autoridades, Gorinov teria infringido a lei por se manifestar, junto com outra deputada da oposição, contra a proposta do conselho de realizar um concurso de desenho infantil e um festival de dança.

Gorinov justificou sua oposição ao projeto sob o argumento de que “crianças estavam morrendo na Ucrânia”.

“Acredito que todos os esforços da sociedade civil [russa] devem ser orientados a parar a guerra e retirar as tropas russas do território da Ucrânia”, disse Gorinov durante a reunião de trabalho, que foi gravada em vídeo e ficou disponível no YouTube, despertando a ira do governo.

No último domingo (17), a jornalista Marina Ovsyannikova, que se tornou conhecida no mundo por invadir um estúdio da TV estatal Channel One e erguer um cartaz protestando contra a guerra, foi detida e depois liberada com uma acusação de desrespeito ao exército russo.  

Ela fez um novo protesto contra o presidente e deu uma entrevista defendendo um dissidente que desagradou o governo. 

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