Londres – No momento em que a Europa vive uma onda de calor com efeitos mais severos do que as dos anos anteriores e o Reino Unido bateu seu recorde histórico de temperatura, uma nova pesquisa feita pela Universidade de Yale em quase 200 países revela que a maioria das pessoas pesquisadas se preocupa com as mudanças climáticas – e muitos estão convictos de que o homem tem parte da culpa.
Em vários países da América do Sul e Central, mais de 9 em cada 10 entrevistados admite essa preocupação. E em quase todos os países, a maioria dos que participaram da pesquisa acham que o aquecimento global é uma ameaça ao seu país ou território nas próximas duas décadas.
No Brasil, 90% dos entrevistados acham que as mudanças climáticas já estão acontecendo. E 77% acreditam que medidas para reduzir seus efeitos têm o potencial de melhorar o crescimento econômico e gerar empregos – ou pelo menos não terão impacto negativo sobre a economia.
Pesquisa sobre mudanças climáticas envolveu 108 mil pessoas
A pesquisa da Universidade de Yale foi feita em parceria com a Meta, holding dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, com o objetivo de mapear conhecimento, atitudes e comportamento em relação às questões de mudanças climáticas e o sobre o que deve ser feito para resolvê-las.
Foram coletadas respostas de 108 mil usuários ativos do Facebook em quase 200 países e territórios entre 25 de março e 14 de abril. Para efeito da tabulação, eles foram divididos em 110 áreas.
Em geral são pessoas com nível médio ou alto de escolaridade e com acesso a informações, já que utilizam a internet e as redes sociais. Alguns países onde há restrições ao uso do Facebook, como Rússia e China, ficaram de fora do estudo.
A maioria dos entrevistados em quase todas as áreas pesquisadas pensam como os 77% de brasileiros que acham que a ação para reduzir as mudanças climáticas melhorará ou não terá impacto negativo na economia.
Na outra ponta, os entrevistados na República Checa (47%) e no Japão (50%) são os menos propensos a pensar assim.
O aumento do uso de energia renovável é mais bem-vindo na Hungria (91%), Portugal e Espanha (ambos 89%), enquanto os entrevistados na Indonésia (48%) e na Tanzânia (53%) são os que menos acreditam que essa é uma boa solução.
Os entrevistados na Dinamarca (79%), no Reino Unido e na Suécia (ambos 72%) são os que mais acham que seu país deve reduzir o uso dos combustíveis fósseis para “muito menos” ou “um pouco menos”, enquanto os entrevistados no Camboja (12%) e Moçambique (16%) são os menos inclinados a reduzir o consumo.
A maioria das pessoas diz que seu país deve reduzir a poluição que causa mudanças climáticas, seja por conta própria ou se outros países também o fizerem.
No entanto, as pessoas têm opiniões diferentes sobre quem é o principal responsável pela redução da poluição.
Mais da metade dos entrevistados em 43 países disseram que seu governo é o responsável. Em outros 42 mercados, os culpados são as pessoas. E em 25% das nações as empresas levaram a culpa.
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Conhecimento sobre mudanças climáticas irregular, mostrou pesquisa
A maioria dos entrevistados em 46 das 110 áreas pesquisadas por Yale diz que entende moderadamente a questão das mudanças climáticas. Os entrevistados na Finlândia (92%), Hungria (90%), Alemanha (84%) e Croácia (83%) são os mais propensos a dizer que sabem “muito” ou “uma quantidade moderada”.
Na América do Sul, os mais bem informados são os brasileiros: 13% disseram conhecer bem o tema e 52% entendem as mudanças climáticas razoavelmente.
Por outro lado, em muitas áreas, uma parcela importante de entrevistados dizem que “nunca ouviu falar” das mudanças climáticas.
Os entrevistados no Benin (34%), República Democrática do Congo, Nigéria e Haiti (todos com 32%) são os mais propensos a dizer que nunca ouviram falar do problema.
Comparando as regiões do mundo, a população da Europa é a que mais entende sobre a questão pelo menos razoavelmente, com mais de 50% dos participantes do estudo em 27 das 31 áreas dizendo isso.
Em contraste, o público na África Subsaariana é o mais alheio: nenhum país superou os 50%.
Mas os pesquisadores alertam para o fato de que as enquetes foram realizadas na plataforma do Facebook. Por isso, provavelmente sub-representa populações com menores taxas de renda e alfabetização.
De qualquer forma, pesquisas anteriores revelaram que os membros desses grupos são mais propensos a saber pouco ou nada sobre mudanças climáticas.
Pesquisa perguntou se mudanças climáticas estão acontecendo
Depois de serem questionados sobre seu nível de conhecimento sobre a crise ambiental, os entrevistados receberam uma breve definição de mudança climática:
“As mudanças climáticas se referem à ideia de que a temperatura média mundial vem aumentando nos últimos 150 anos, aumentará mais no futuro e que o clima do mundo mudará como resultado.
Com base nisso, você acha que as mudanças climáticas estão acontecendo?”
A grande maioria dos entrevistados em todas as 110 áreas pesquisadas respondeu que sim.
Isso inclui nove em cada dez entrevistados em 21 países e territórios, entre eles Hungria (96%), Portugal (95%) e Costa Rica (94%).
No Brasil, 90% dos entrevistados acham que as mudanças climáticas já são uma realidade, e apenas 4% discordam disso.
As porcentagens mais baixas dos que acreditam no que afirmam os cientistas foram registradas no Laos (67%), Haiti (67%) e Bangladesh (70%). O estudo mostra que o negacionismo está perdendo.
De quem é a culpa pelas mudanças climáticas?
Os entrevistados em quase todas as áreas acham que as mudanças climáticas são pelo menos parcialmente causadas por humanos, combinadas com fatores naturais.
A maioria (taxas superiores a 50%) dos entrevistados em 108 das 110 áreas pesquisadas diz que as mudanças climáticas são pelo menos parcialmente causadas por atividades humanas (ou seja, que são “causadas principalmente por atividades humanas” ou são “causadas igualmente por atividades humanas e mudanças naturais”).
No entanto, os pesquisadores alertam para o fato de que entre as 108 áreas que pontuaram acima de 50%, em apenas 26 a maioria diz que as mudanças climáticas são causadas principalmente por atividades humanas .
O Brasil passou raspando, com 53% dos entrevistados convictos de que atividades humanas são as principais causadoras da emergência climática.
Os entrevistados na Espanha (65%), Suécia (61%) e Taiwan (60%) são os mais propensos a dizer que as mudanças climáticas são causadas principalmente por atividades humanas, enquanto os entrevistados na Indonésia (18%), Iêmen (21%) e Haiti (23%) são os menos propensos.
Do lado oposto, os haitianos (35%) se revelaram mais convictos de que as mudanças climáticas são causadas principalmente por alterações naturais no meio ambiente, seguidos pelos entrevistados da República Democrática do Congo e República Dominicana (ambos com 28%).
Comparando os resultados por região, os entrevistados na Europa são os que mais acreditam que as mudanças climáticas são causadas principalmente por atividades humanas (maioria em 16 das 31 áreas), enquanto os entrevistados no sudoeste da Ásia e no norte da África, bem como na África Subsaariana, são os que menos acreditam nisso.
Pouca informação sobre mudanças climáticas
Embora de tempos em tempos, como em grandes eventos globais como a COP26, o aquecimento global entre na pauta da imprensa e vire assunto de conversas nas redes sociais, a pesquisa de Yale mostra a necessidade de abrir mais espaço para o tema.
Em apenas 12 das 110 áreas pesquisadas um percentual acima de 50% dos entrevistados disse que ouve pelo menos uma vez por semana sobre efeitos das mudanças climáticas em TV, jornais, mídias sociais ou conversas com amigos e familiares.
No Brasil, a taxa é de apenas 27%, uma tendência que se estende por quase todos os países da América Latina e Central. Entre nossos vizinhos mais próximos, chilenos e uruguaios marcaram um pouco acima, 30% e 28% respectivamente.
O nível de exposição a conteúdo sobre o aquecimento global é significativamente maior na Europa.
Os entrevistados na Suécia (66%), Alemanha (66%) e Finlândia (64%) são mais propensos a dizer que ouvem sobre as mudanças climáticas pelo menos uma vez por semana, enquanto os entrevistados no Iêmen (7%), Argélia (9%) e Camboja (9%) são os menos atingidos por essas informações.
Quem tem medo das mudanças climáticas?
Começam a surtir efeito os alertas como os dos cientistas do Relógio do Apocalipse, que este ano mantiveram a hora simbólica de 100 segundos para a meia-noite para o chamado “Juízo Final” causado por ameaças ambientais e nucleares.
O estudo de Yale revelou que a maioria dos entrevistados em quase todas as áreas pesquisadas (108 de 110) dizem estar “muito” ou “um pouco” preocupados com as mudanças climáticas.
Mais de nove em cada dez entrevistados no México (95%), Portugal (93%), Chile (93%), Porto Rico (92%), Costa Rica (92%), Equador (91%), Panamá (91%) , Peru (91%) e Colômbia (91%) dizem estar preocupados.
Os países onde a população menos se preocupa são Iêmen (32%) e Jordânia (48%).
No Brasil, 1 a cada 6 entrevistados estão muito preocupados. Mas nos vizinhos Chile, Equador, Peru e Colômbia o receio é ainda maior.
Futuras gerações e mudanças climáticas
A maioria dos entrevistados em cerca de dois terços das áreas pesquisadas por Yale (76 de 110) acha que as mudanças climáticas “prejudicarão muito” as gerações futuras.
Comparando os resultados por região, os entrevistados na América do Sul – incluindo os brasileiros – são mais propensos a pensar que as mudanças climáticas prejudicarão muito as gerações futuras (maioria em todas as 9 áreas), enquanto os entrevistados no Sudoeste Asiático e Norte da África são os que menos acreditam nisso.
Mas a preocupação não é apenas com o futuro. É também com o presente. Incêndios florestais, perda de colheitas e casas destruídas por deslizamentos e enchentes são exemplos do que o aquecimento global pode causar ou agravar.
A pesquisa revelou que mais da metade dos entrevistados em 17 das 110 áreas pesquisadas acha que as mudanças climáticas os prejudicarão muito pessoalmente.
Os entrevistados são mais propensos a dizer que a emergência climática irá prejudicá-los muito pessoalmente no Malawi (62%), Chile (61%) e México (59%). Os menos propensos a considerar isso estão na República Tcheca (3 %) e Noruega (5%).
No Brasil, 55% do público acha que haverá muitos prejuízos pessoais e 23% acredita em “algum impacto negativo”.
Os entrevistados são mais propensos a dizer que as mudanças climáticas irão prejudicá-los muito na América do Sul (maioria em 5 de 9 áreas).
Os que menos acreditam nisso estão no Sudoeste da Ásia, no Norte da África e na Europa, onde essa preocupação não alcançou maioria em nenhuma das áreas pesquisadas.
O estudo completo pode ser lido aqui.
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