Londres – A redação de um jornal ucraniano na cidade de Zolochiv, localizada na região de Kharkiv, foi atingida por um bombardeio da Rússia pela segunda vez desde o início da guerra, danificando as janelas, o telhado e até uma porta blindada instalada depois do primeiro incidente.
Vasily Miroshnik, editor do Zorya, relatou à União Ucraniana de Jornalistas (NUJU) que os funcionários estão convencidos de que forças russas dispararam deliberadamente contra o jornal.
“As autoridades ucranianas e russas devem garantir que os ataques de artilharia não danifiquem edificações civis, incluindo redações jornalísticas, e permitir que a imprensa informe livre e seguramente sobre a guerra na Ucrânia”, disse o Comitê de Proteção a Jornalistas em um comunicado sobre o episódio.
Bombardeio da Rússia danificou casas na região
Não é a primeira vez que um prédio de imprensa sofre com bombardeios na guerra da Ucrânia. Na primeira semana de março, O cinegrafista Evgeny Sakun, da Kiev Live TV, morreu após ser atingido no bombardeio da torre de televisão de Kiev.
O jornal Zorya deixou de ser impresso quando a guerra começou. Agora publica notícias em um grupo do Facebook com cerca de 11,6 mil membros, disse Miroshnik ao CPJ.
O canal também faz transmissões ao vivo de ações militares na área e expressa críticas à invasão russa da Ucrânia.
O primeiro ataque à redação tinha acontecido em abril. O jornal recebeu ajuda do NUJU na forma de equipamentos de proteção e doações para reconstruir o escritório e comprar equipamentos.
“Depois do primeiro bombardeio, nem tínhamos telefone – tudo o que estava nas mesas da redação foi literalmente levado pela onda explosiva”, diz o editor.
No dia 15 de julho, quando a redação foi novamente atingida, as forças russas também bombardearam casas e danificaram a rede elétrica da área, conforme informações da mídia local.
Assim como na primeira vez, ninguém ficou ferido no bombardeio, de acordo com Miroshnik e o NUJU. O editor acrescentou que “os vizinhos têm medo de morar ao lado [da redação]” porque ela foi atacada repetidamente.
Ele relatou que tinham acabado de terminar os reparos após o primeiro bombardeio da Rússia.
“As janelas foram estouradas novamente, e agora decidimos apenas cobri-las com madeira compensada. O telhado também foi demolido e a porta blindada explodiu”, disse Miroshnik ao NUJU.
“Estamos profundamente preocupados com o bombardeio da redação do jornal ucraniano Zorya durante o ataque da artilharia russa ao vilarejo de Zolochiv”, disse Carlos Martinez de la Serna, diretor de programas do CPJ, em Madri.
“A mídia que cobre a guerra deve ter certeza de que pode continuar a fazê-lo sem medo de ataques, e as autoridades russas e ucranianas têm a responsabilidade de garantir sua proteção”.
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Zolochiv está localizada a menos de 20 quilômetros da Rússia. Miroshnik relatou que a equipe do jornal visita casas de pessoas que moram a 100 metros da fronteira, e que elas dizem odiar o país invasor.
“Tornamos difícil para os russos contar mentiras sobre o que está acontecendo no território ucraniano”, disse o jornalista ao CPJ.
“Estamos provando com fatos que a artilharia e a aviação russa estão bombardeando Zolochiv, matando civis, e isso incomoda os colaboradores [pró-russos].
Eu conduzo transmissões ao vivo dos lugares que foram bombardeados, reporto de onde vêm os bombardeios e quem eles estão matando.”
O editor disse ainda ao CPJ que moradores pró-Rússia enviaram reclamações ao Facebook para bloquear o grupo do Zorya na rede social por sua postura crítica à guerra.
“Grupos especiais são criados na rede social para lutar contra nós. É interessante que esses grupos sejam liderados por pessoas muito jovens, algumas delas de setores desfavorecidos da sociedade”, disse o editor ao Sindicato.
Em maio de 2022, a agência de notícias estatal russa RIA Novosti publicou um vídeo em que um homem apresentado como refugiado ucraniano acusou Miroshnik e o jornal Zorya de divulgar informações falsas sobre um bombardeio do exército da Rússia na vila de Udy, em Kharkiv, em abril.
“Eles estão travando uma guerra contra nossa redação semelhante à da mídia estatal russa centralizada, estão travando uma guerra contra nós no Facebook… e estão tentando destruir nossa redação para nos impedir de trabalhar”, disse Miroshnik disse ao CPJ.
Vasyl Miroshnyk diz que planeja começar a publicar um jornal em papel em algumas semanas.
O CPJ disse ter enviado um e-mail aos Ministérios da Defesa da Rússia e da Ucrânia para comentar o ataque, mas não recebeu resposta.
Na semana passada, a organização Repórteres Sem Fronteiras manifestou-se contra bloqueios feitos pelas plataformas de mídia digital na Ucrânia, atingindo conteúdo e publicidade e colocando em risco a sobrevivência do jornalismo independente.
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