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Isolando-se cada vez mais do Ocidente, Rússia terá concerto resgatando “nostalgia soviética”

Solistas de ópera interpretarão músicas da era soviética no concerto HIt Paradę URRS

Londres – Em um processo de isolamento da cultura ocidental depois do início da guerra, seja por boicotes de artistas ou por bloqueios aos que criticam a invasão da Ucrânia, a Rússia resolveu lançar mão de uma estratégia de volta ao passado da União Soviética. 

Sites de ingressos online abriram a venda para um concerto apresentado como “uma viagem ao passado por meio da música”. 

O show “Hit Parade of the USSR” acontecerá em setembro na Catedral Cristo Salvador, em Moscou, que chegou a ser destruída na época da União Soviética e reconstruída na década de 90. 

Isolada, Rússia enaltece conquistas históricas 

Exaltar o nacionalismo e invocar um passado de glórias, sobretudo na Segunda Guerra Mundial, é parte da narrativa do Kremlin para justificar a invasão da Ucrânia diante da população.

Este é um dos argumentos de manuais criados pelo governo para orientar a mídia estatal sobre como se referir à guerra. 

A volta a um tempo em que a Rússia  era isolada do resto do mundo pode ser parte desse esforço, transmitindo uma mensagem de que os russos não precisam da cultura ou do estilo de vida ocidental para serem felizes. 

Desde a invasão do país à Ucrânia, marcas de consumo ocidentais que haviam entrado na Rússia depois do fim da União Soviética deixaram o país, temporariamente ou para sempre. Algumas tiveram suas operações absorvidas por operadores locais, como o McDonald’s. 

No texto de apresentação do show de setembro, os organizadores começam pedindo aos leitores para se lembrarem de “como o sorvete costumava ser bom”, “que tipo de filme eles sabiam filmar…” e como “as pessoas costumavam ser mais gentis, mais simpáticas” no tempo da União Soviética. 

O concerto apresentará canções de artistas soviéticos famosos, como Edita Pyekha, Muslim Magomayev, Eduard Khil e Joseph Kobzon, interpretadas por solistas de teatros de ópera de Moscou.

“Uma pessoa nascida na USSR tem muitas razões para se entregar à nostalgia de uma época passada”, afirma o comunicado de imprensa.

O texto admite que “o palco soviético” há muito deixou de existir, “mas em nossos corações ainda está vivo e respirando profundamente”.

E diz que música é uma forma de “viajar de volta ao passado”, não por cantores pop, mas por artistas de projetos de arte apoiados pelo governo. 

O Salão da Catedral onde ocorrerá o show foi inaugurado em 2000. Lá são realizadas reuniões dos Conselhos Locais e Episcopais, serviços religiosos, festivais e concertos de música.

Concertos na Rússia não podem falar da Ucrânia 

Além de resgatar a nostalgia dos bons tempos soviéticos em que vivia isolada, afastando-se das tensões contemporâneas relacionadas à guerra com a Ucrânia, a Rússia está fechando o cerco sobre artistas locais e internacionais que se manifestem contra o conflito. 

Os contratos fechados com as atrações passaram a conter cláusulas proibindo declarações políticas ou exibição de imagens que “possam conter informações falsas sobre a operação militar na Ucrânia”, valendo multa para os infratores.

As regras valem para o palco e para qualquer manifestação feita pelo artista, em entrevistas, redes sociais ou contatos com fãs. 

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