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Após lei polêmica da Flórida, narrativas anti-LGBTQ aumentaram 400% nas redes sociais

Lei Flórida LGBTQ Don't Say Gay Disney

A aprovação de uma lei apelidada de “Don’t Say Gay” (“Não Diga Gay”, em português) na Flórida fez aumentar a discriminação contra a comunidade LGBTQIA+ em publicações de língua inglesa nas redes sociais.

É o que descobriu um novo relatório da ONG Center for Countering Digital Hate (CCDH) e do grupo Human Rights Campaign, que mostrou um aumento de 400% nas narrativas falsas anti-gays relacionadas a pedofilia que circulam em posts do Facebook e Twitter.

Na prática, a legislação proíbe aulas sobre gênero e orientação sexual nas escolas até a terceira série do ensino fundamental. O texto gerou debate e protestos de estudantes no estado americano, mas entrou em vigor com apoio do governador republicano Ron DeSantis no mês passado.

Extremistas usaram lei contra ensino LGBTQ na Flórida

O relatório intitulado “Ódio digital: o papel das mídias sociais na amplificação de mentiras perigosas sobre pessoas LGBTQ+” aponta que plataformas de mídia social estão permitindo a disseminação de preconceito online contra comunidades gays.

Discursos de ódio desse tipo, segundo o documento, tiveram um aumento expressivo com o início da discussão do projeto de lei, no começo do ano.

E foram impulsionados por políticos extremistas e seus aliados que projetaram uma campanha de desinformação anti-LGBTQ+”sem precedentes e perigosa” com a aprovação do texto, em julho.

Desde então, o número médio de tweets por dia usando insultos como “groomer” (“aliciador de menores”), “predador” e “pedófilo” para se referir a pessoas LGBTQ+ cresceu 406% um mês após a lei ser aprovada na Flórida.

No total, foram identificados 989.547 tweets postados entre 1º de janeiro e 27 de julho que relacionam a comunidade LGBTQ+ a ofensas desse tipo — todas baseadas na mentira de que gays aliciam ou abusam de crianças.

A legislação promoveu um aumento acentuado na homofobia e transfobia online que as plataformas de mídia social não apenas falham em reprimir, mas também lucram com a disseminação de conteúdo preconceituoso patrocinado, apontam as ONGs.

Segundo o relatório, poucos dias após a lei “Don’t Say Gay” ser sancionada, somente dez contas geraram 66% das impressões para os 500 tweets mais vistos com o termo “grooming”.

Entre essas contas, estavam a da secretária de imprensa do governador Ron DeSantis, Christina Pushaw, membros extremistas do Congresso como Marjorie Taylor Greene e Lauren Boebert, e aliados do ex-presidente Donald Trump.

As postagens dessas 10 pessoas sozinhas alcançaram mais de 48 milhões de visualizações, e os 500 tweets mais influentes com o termo “grooming” foram vistos 72 milhões de vezes e receberam 399.260 curtidas e retuítes.

“A visibilidade surpreendente que essas postagens conquistaram é resultado direto do fracasso do Twitter em aplicar suas próprias políticas que proíbem insultos anti-LGBTQ+”, destaca o relatório.

O Twitter falhou em agir contra 99% dos 100 tweets discriminatórios que foram denunciados anonimamente por pesquisadores da CCDH, apesar do insulto “grooming” para se referir a pessoas gays esteja incluído em sua política contra discurso de ódio.

No Facebook e no Instagram, 59 anúncios pagos promoveram a mesma narrativa e foram veiculados aos usuários mais de 2,1 milhões de vezes.

“Apesar de políticas semelhantes que proíbem conteúdo de ódio anti-LGBTQ+ em ambas as plataformas de mídia social, apenas um anúncio foi removido”, dizem as ONGs.

“O ódio e as mentiras online refletem e reforçam a violência e o ódio offline. Twitter e Meta (Facebook) devem agir contra o ódio anti-LGBTQ+ e parar de hospedar e lucrar com esses insultos de ódio.”

Leia o relatório na íntegra (em inglês) neste link.

Disney também foi alvo de ataques anti-LGBTQ

No mês seguinte à aprovação da lei contra ensino LGBTQ nas escolas da Flórida, o aumento do volume de conteúdo relacionando o termo “grooming” a gays também teve como alvo a Disney.

No período analisado, foram identificados 4.053 tweets por dia com críticas à empresa em publicações homofóbicas — antes, eram somente 37 publicações diárias do tipo.

A Disney acabou no centro da discussão do projeto na Flórida por ter financiado políticos conservadores que apoiaram o texto no estado. Protestos de pais em frente aos parques em Orlando pressionaram para que a empresa revisse sua posição.

(Foto: Flickr/AIDS Healthcare Foundation)

A pressão aumentou quando estúdios filiados à gigante do entretenimento, como a Pixar e a Disney Animation, revelaram vetos a produção com temática LGBT por executivos da empresa-mãe.

“A Disney tem um histórico de encerrar eventos do Orgulho LGBT criados por fãs nos parques, até retirando casais do mesmo sexo por dançarem juntos na década de 1980. Somente em 2021 começou a criar produtos explicitamente LGBTQIA+, como broches de bandeira do Orgulho”, diz trecho de uma carta divulgada por funcionários gays da empresa.

“Nós, da Pixar, testemunhamos pessoalmente belas histórias, com personagens que representam a Diversidade, reduzidas a migalhas após a crítica corporativa. Quase todos os momentos de afeto abertamente gay são cortados por ordem da Disney, independente de qualquer protesto feito pelas equipes criativas ou de liderança executiva da Pixar.”

Após essa movimentação, o CEO da Disney, Mickey, Bob Chapek, pediu desculpas pelas ações da empresa e anunciou uma doação de U$$ 5 milhões para a Human Rights Campaign (HRC).

Na ocasião, a organização recusou o dinheiro e disse que não aceitaria até que a Disney “construísse um compromisso público” com a comunidade LGBT.

Com a virada de posicionamento, a empresa do Mickey Mouse passou a ser atacada nas redes sociais, conforme mostra o relatório do CCDH e HRC.

Os posts preconceituosos afirmavam que opositores à lei estariam “protegendo pedófilos” e que ensinar sobre questões LGBTQ+ nas escolas equivale a “preparação sexual radical”.

A Disney foi alvo de mais da metade dos anúncios do Facebook com narrativas desse tipo. No Twitter, a companhia foi mencionada em 345.152 tweets homofóbicos.

O CEO do CCDH, Imran Ahmed, reforçou que o ódio online se transforma em agressão offline. “A ampliação do ódio anti-LGBTQ+, que busca desumanizar e atiçar o medo e a violência contra as pessoas gays, acontece como parte de uma estratégia”, disse.

“Tanto o Facebook quanto o Twitter são conhecidos por amplificar algoritmicamente o ódio e não agir em casos de abuso, comportamento inautêntico e conteúdo que viola suas políticas”, completou.

“Estamos pedindo ao Twitter e a Meta que ajam contra o ódio anti-LGBTQ+ e parem de hospedar esses insultos prejudiciais. As empresas de mídia social que celebram o Mês do Orgulho enquanto lucram com o ódio perigoso contra pessoas LGBTQ+ devem parar só de falar e começarem a agir.”

 
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