Londres – A capa dos principais jornais britânicos nesta sexta-feira acompanhando o longo funeral da rainha Elizabeth II reflete o encantamento da mídia britânica com os dois membros da realeza mais populares depois da monarca: o príncipe William e sua mulher, Kate Middleton.
O dia de ontem foi de descanso para o rei Charles, que ficou recluso em sua residência do campo, enquanto “missões” formadas pela filha Anne, o filho Edward e o neto que agora é o primeiro na linha de sucessão se dividiram para visitar diferentes locais de tributo à rainha, em Sandringham, Manchester e Glasgow.
Embora as TVs tenham transmitido as visitas – programadas para horários alternados – ao vivo, os jornais fizeram sua escolha. A maioria selecionou a foto dos atuais príncipe e princesa de Gales, título herdado de Charles. Nenhum destacou em sua os dois filhos da rainha.
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Edward com sua mulher Sophie também tiveram seu momento de glória, pelo menos nas redes e na TV. Ela se tornou próxima da rainha, e o casal é o único que não se divorciou entre os quatro filhos, representando a família dos sonhos para a tradição da monarquia.
No entanto, ne seu talento profissional – era profissional de relações públicas – foi capaz de superar o carisma de Kate e William e o poder da história pessoal do príncipe.
Conversando com pessoas que foram prestar homenagem à Elizabeth II, ele contou que o cortejo fúnebre da quarta-feira em Londres, em caminhou atrás do caixão da avó, lembrou o enterro de sua mãe, Diana, que 25 anos depois de morta ainda é um ídolo para muitos britânicos – e a mídia reproduziu a conversa.
O irmão de William, Harry, também foi notícia depois que o tabloide The Sun revelou a decisão do rei Charles de autorizá-lo a usar uniforme militar na próxima vigília pela avó, interpretada como um movimento de aproximação para quebrar a discórdia.
A fila continuou na pauta da imprensa, principalmente as TVs, que transferiram seus estúdios de telejornais para posições alocadas diante do Palácio de Buckingham e de lá apresentam tanto as notícias sobre a morte da rainha quanto outros fatos locais e internacionais.
O caixão permanecerá exposto à visitação pública até 6h30 de segunda-feira (19), quando sairá de Buckingham para Windsor, local do enterro. Mas na manhã de sexta-feira a entrada na fila foi suspensa, devido ao excesso de pessoas.
Veja as primeiras páginas dos jornais de hoje
Com a manchete principal destacando a presença de líderes mundiais no enterro, o The Times escolheu a foto de Wiliam e destacou em uma coluna lateral as “más memórias” trazidas a William pelo cortejo de Elizabeth II, reproduzindo trechos da conversa que ele teve com uma mulher que estava entre as cerca de 100 pessoas que falaram diretamente com o casal.
Os dois passaram 55 minutos diante do castelo de Sandringham, uma das residências da rainha – segundo o The Times, 25 minutos a mais do que o previsto.
Uma das declarações reproduzidas pelo The Times revela o posicionamento da monarquia sobre a morte da rainha diante do público, reafirmando seu papel de figura nacional. Respondendo a uma mulher que disse lamentar “sua perda”, ela respondeu: “Eu lamento sua perda também, ela era nossa rainha”.
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O Daily Telegraph destaca que médicos e enfermeiros do NHS, o sistema público de saúde, foram convidados a acompanhar o cortejo fúnebre. E reproduziu a notícia do The Sun sobre a autorização para o príncipe Harry usar seu uniforme militar na vigília programada para a noite de sábado.
O jornal explica que teria sido uma intervenção de integrantes da assessoria do Palácio, para que “todos os netos se sintam confortáveis”, mas afirma que no funeral da rainha, segunda-feira, Harry usará um terno, assim como o príncipe Andrew.
O tabloide Daily Express escolheu a mesma fotografia, mas fez um corte para destacar a fisionomia triste de William, observado pela mulher. A manchete é “Príncipe William diz que reação emocional à morte da rainha mostra o quanto o público a amava”.
O Daily Mail foi outro que selecionou a mesma foto, destacando as lembranças do funeral da princesa Diana. A notícia acrescenta que quando uma mulher disse a ele que estava prestes a chorar, ele teria respondido: “Não faça isso, senão vou chorar também”.
O Metro não repetiu a mesma foto, mas escolheu uma imagem de tristeza e contrição, destacando a fala sobre o choro mencionada pelo Daily Mail.
O jornal Daily Mirror dividiu sua primeira página com a cobertura do funeral da rainha Elizabeth e o enterro de uma menina que morreu baleada por membros de uma gangue dentro de sua casa.
A foto é a mesma usada por outros jornais, com o olhar de Kate sobre o príncipe, e a referência à lembrança do enterro de Diana.
O The Sun destacou a autorização a Harry para usar o uniforme militar, revelação feita pelo jornal. Conseguir um furo (notícia exclusiva) nesse ambiente em que toda a mídia britânica tem bons contatos com fontes do Palácio de Buckingham e destacou exércitos de profissionais para cobrir cada passo do funeral da rainha Elizabeth é um feito notável.
O tabloide é o único entre os seus pares que não tem dedicado toda a primeira página à cobertura da morte da rainha Elizabeth. Provocativo, destacou em uma chamada no alto da capa a “vergonha” de parlamentares que “furaram a fila” para ver o caixão da rainha.
O esquerdista The Guardian segue com sua posição mais distante do clima emocional que toma conta dos demais veículos britânicos. O jornal destaca a fila, as informações sobre como será o funeral, e traz uma notícia desfavorável para a monarquia: reações do púbico à participação do príncipe Andrew nos eventos.
O supostamente filho preferido de Elizabeth II caiu em desgraça por sua amizade com o falecido pedófilo Jeffrey Epstein e o processo judicial por abuso de uma menor. Ele perdeu os títulos e foi afastado da vida pública no início deste ano. A questão agora é o quanto o funeral de Elizabeth II é um evento público ou o enterro da uma mãe e avó.
O Financial Times dedicou a terça parte de sua capa ao funeral da rainha, destacando as filas de quatro milhas, chamadas de “Fila do dever”, para ver o caixão. É uma referência a uma das marcas mais fortes da imagem de Elizabeth II, o dever de servir ao país e ao povo.
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