Artistas jamaicanos estão criticando a proibição de conteúdos que “promovam atividades ilegais” no rádio e na TV imposta pelo governo da Jamaica na semana passada. 

A mudança foi anunciada pelo órgão de radiodifusão do país no dia 13 de outubro e lista temas específicos que não podem ser transmitidos em músicas e também outros conteúdos audiovisuais.

O cantor e produtor musical ganhador do Grammy Stephen McGregor, mais conhecido como Di Genius, foi um dos que condenou a medida, que tem o objetivo, segundo o governo, de manter as ondas de rádio “livres de conteúdo prejudicial”.

Jamaica diz que proibição de conteúdos é para proteger jovens

O Broadcasting Commission of Jamaica, órgão regulador de radiodifusão, justificou a iniciativa alegando que o “uso de ondas públicas para transmitir músicas que promovam/glorificam atividades ilegais pode dar a impressão errada de que a criminalidade é uma característica aceita da cultura e da sociedade jamaicana”.

Entre os conteúdos proibidos estão menções ao uso ilegal ou abuso de drogas, de armas de fogo e “qualquer outra forma de atividade ilegal ou criminosa”. 

Palavrões ou palavras “substitutas” a eles também estão banidos. O governo afirma que quer evitar que, “involuntariamente, se apoie o desengajamento moral e normalize ainda mais a criminalidade entre os jovens vulneráveis ​.”

Cordel Green, diretor executivo do órgão de radiodifusão, disse que a nova diretiva contempla um “amplo processo que inclui monitoramento focado, decodificação do dialeto da subcultura e gírias urbanas e deliberações sobre o equilíbrio da liberdade de expressão em relação à proteção de danos.”

“Parte da dificuldade em lidar com a música, principalmente aquela que emerge de uma subcultura, é que leva tempo para identificar, entender e verificar as gírias e a linguagem coloquial utilizadas”, afirmou.

“Compreensivelmente, novas línguas de rua podem levar algum tempo antes de serem normalizadas, ou seus significados se tornarem bem arraigados [na sociedade].

A Comissão também deve ser cautelosa em suas ações, sabendo que a atenção regulatória pode ter a consequência não intencional de expor e popularizar fenômenos subculturais.” 

O diretor ainda disse que a regulação de conteúdos sempre levará em conta o direito à liberdade de expressão, mas reforçou que “qualquer contexto em que a criminalidade seja apresentada através de música ou vídeos como um comportamento normal” haverá conflito com os “princípios da radiodifusão responsável.”

Artistas reagem à nova regra nas redes sociais

A medida do governo foi duramente criticada nas redes sociais. Principalmente porque, segundo a BBC, ela acontece num momento em que o país registra altos índices de crimes violentos.

Em 2021, a nação teve uma das maiores taxas de homicídios da América Latina e do Caribe, de acordo com o veículo.

“Embora eu entenda por que as pessoas se sentem assim e mesmo que eu não concorde com a glorificação de armas ou qualquer uso de qualquer droga, não podemos impedir os artistas de cantar sobre o que veem ao seu redor ou onde cresceram”, disse o produtor musical Romeich, no Instagram.

“A Jamaica tem um dos regulamentos mais rígidos contra a música, nossa própria música dancehall e o que deve ser tocado. Apple Music, Spotify, SoundCloud e outras plataformas onde as mesmas pessoas têm o mesmo acesso às mesmas músicas serão banidas?”, questionou.

“A Jamaica é o único país que tem crianças? Porque as mesmas crianças ouvem essas mesmas músicas em outros lugares.”

O cantor Stephen McGregor, conhecido como Di Genius, também questionou a medida nas redes sociais.

“O crime e a violência vão parar magicamente agora”, escreveu de forma irônica, no Twitter. “Na minha opinião, a mudança é mais um ‘olha, estamos fazendo algo’ do que realmente tentar fazer algo”, disse McGregor.

A nova regra não foi o primeiro ato de censura contra músicas na Jamaica. Em 2009, o governo promoveu canções que “promoviam” sexo, violência, assassinato ou incêndio criminoso.

Segundo a BBC, isso aconteceu no ápice da popularidade do daggering, estilo de dança sexualmente sugestiva que virou febre entre os jovens.