O terceiro assassinato de jornalista este ano na Colômbia ilustra o risco a que estão submetidos profissionais de imprensa independentes ou de veículos locais que denunciam crimes e corrupção na América Latina e acabam mortos. 

A mais nova vítima é Rafael Emiro Moreno, assassinado domingo (16) na cidade de Montelíbano por homens a bordo de uma motocicleta quando estava no restaurante de fast-food que possuía, segundo a Fundacion para a Libertad de Prensa (FLIP) do país.

A Unidade Nacional de Proteção (UNP) do governo colombiano tinha designado um guarda-costas para proteger Moreno e deu a ele um colete de proteção e um botão de pânico, disse Jhon Murillo, porta-voz do UNP, ao Centro de Proteção a Jornalistas (CPJ). Mas naquele dia o jornalista deu folga ao segurança a partir a hora do almoço, sendo atingido em seguida. 

Primeira vez que jornalista sob proteção foi morto 

Segundo a FLIP,  foi a primeira vez que um jornalista colombiano sob proteção do governo foi morto. Moreno havia solicitado aumento na segurança, mas o pedido estava sob análise. 

Na última semana de agosto, dois profissionais de imprensa foram assassinados na Colômbia. 

O jornalista morto em Montelíbano foi diretor do canal de notícias online independente Voces De Córdoba, que publicou reportagens locais no Facebook, e era líder comunitário.

Há anos ele recebia ameaças por suas reportagens sobre corrupção política e grupos de narcotráfico, segundo o CPJ.

Na sexta-feira, 21 de outubro, Moreno participaria de um seminário em Bogotá sobre os perigos enfrentados pelos jornalistas regionais na Colômbia, disse Jaime Abello, diretor da Fundação Gabo, organizadora do evento.

A revista colombiana Cambio relatou que Moreno investigou recentemente a mineração ilegal de ouro por um poderoso grupo de narcotraficantes conhecido como Clã do Golfo. Mas uma carta supostamente assinada por integrantes do grupo negou autoria do crime. 

“O assassinato brutal de Rafael Emiro Moreno demonstra claramente os riscos de morte a que estão submetidos os jornalistas na Colômbia”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa América Latina e Caribe do CPJ, em Nova York.

“As autoridades colombianas devem investigar o assassinato de Moreno para determinar se ele estava relacionado ao seu trabalho, levar os responsáveis ​​à justiça e revisar urgentemente o programa de proteção do país para garantir que mantenha aqueles sob seus cuidados seguros.”

Ao CPJ, Jhon Murillo disse que o UNP forneceu proteção a Moreno nos últimos seis anos e que o jornalista recentemente pediu uma segunda escolta e um veículo, já que muitas vezes ficava desprotegido quando seu guarda-costas terminava seus turnos de trabalho.

Mas Murillo disse que a avaliação do UNP sobre a situação de segurança de Moreno ainda não havia sido concluída no momento de sua morte.

Em comunicado divulgado um dia após o crime,  a FLIP ressaltou que há outros jornalistas sob ameaça.

“Nesta região de Córdoba, os jornalistas não têm garantias suficientes para fazer seu trabalho. Em 2022, seis comunicadores de Montelíbano denunciaram ameaças e outros dois foram assediados em outros municípios do departamento.

Esse assassinato aprofunda o risco e o sentimento de medo de exercer o jornalismo.” 

O coronel Jhon Fredy Suárez, chefe de polícia do departamento de Córdoba ao norte, que inclui a cidade de Montelíbano, disse à emissora W Radio de Bogotá que desde 2019 Moreno havia relatado pelo menos 20 ameaças de morte contra ele e que seu departamento estava investigando o caso do jornalista morto. 

A Procuradoria-Geral da Colômbia designou uma unidade especial de investigação que está tomando “medidas urgentes” para solucionar o crime e identificar os responsáveis.

Uma recompensa está sendo oferecida a quem fornecer informações que permitam a captura dos assassinos do jornalista. 

O último Ranking de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) classificou a Colômbia em 145º lugar na avaliação de 180 países.

Para a entidade, o país continua sendo um dos mais perigosos do hemisfério ocidental para os jornalistas.

“A cobertura de temas como meio ambiente, conflito armado, corrupção ou conluio entre políticos e grupos armados ilegais provoca assédio, intimidação e violência sistemáticos”, diz a análise da ONG. 

A organiazação está entre as que protestaram contra o assassinato, cobrando investigação. 

Segundo a SIP (Sociedade Interamericana de Prensa), de janeiro até hoje, 37 jornalistas e profissionais de mídia foram assassinados no México, Haiti, Equador, Honduras, Brasil, Chile, Estados Unidos, Guatemala, Paraguai e Colômbia.