A onda de violência contra jornalistas na América Latina atingiu um novo país: dois repórteres foram assassinados na Colômbia nesta semana.

Órgãos que monitoram o jornalismo na região contabilizam ao menos 25 mortes de profissionais da mídia em 2022. A Associação Interamericana de Imprensa (SIP, em espanhol) crava o número em 30, com a maioria dos casos (18) registrados no México.

Haiti (3), Honduras (2), Equador (2), Brasil (1), Guatemala (1) e Chile (1) também tiveram crimes — fazendo deste o ano mais letal para a imprensa latina.

Jornalistas foram baleados após evento

Os jornalistas Dilia Contreras e Leiner Montero foram assassinados quando voltavam da cobertura de festividades religiosas na zona rural da cidade Fundación, em Magdalena, na madrugada de domingo (28).

Eles estavam em um carro acompanhados do colega Joaquín Alberto Gutiérrez Marín e foram atacados por dois homens em uma moto, que atiraram contra os três. Marín ficou ferido, mas não corre risco de morte.

Segundo a imprensa local, Montero teria se envolvido em uma briga durante a festa. A polícia, no entanto, ainda não sabe se o crime teve relação com esse desentendimento e investiga as causas do atentado.

Montero tinha 36 anos e era diretor da rádio Sol Digital Stereo, onde Dilia também trabalhava. Ele costumava publicar notícias regionais em sua página no Facebook “Leiner Montero – Historias”.

Já Dilia, de 39 anos, era conhecida por suas passagens nos veículos El Informador, Hoy Diario, Voces e Delegacia. Ela deixa uma filha adolescente.

A SIP cobrou investigações para os assassinatos, pedindo às autoridades que não descartem o trabalho jornalístico das vítimas como uma suposta motivação.

A Federação Colombiana de Jornalistas (FECOLPER) e Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) condenaram o crime.

“Em um país que costumava ter o maior número de ataques e assassinatos contra comunicadores da região, os motivos da morte de colegas devem ser esclarecidos com urgência e todos os responsáveis ​​devem ser levados à justiça”, disseram em nota.

O último Ranking de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) classificou a Colômbia em 145º lugar na avaliação de 180 países.

Para a entidade, o país continua sendo um dos mais perigosos do hemisfério ocidental para os jornalistas.

“A cobertura de temas como meio ambiente, conflito armado, corrupção ou conluio entre políticos e grupos armados ilegais provoca assédio, intimidação e violência sistemáticos.”

A organização destaca que, assim como em outras partes da América Latina, tem havido um número crescente de ataques contra jornalistas durante manifestações no país — uma consequência da polarização ideológica.

“A confiança nos meios de comunicação continua a diminuir. O resultado é uma rejeição tanto da presença quanto do trabalho dos jornalistas [em protestos populares].”

Impunidade em mortes de jornalistas na América Latina

Apesar das autoridades colombianas ainda não confirmarem se as mortes dos jornalistas teve relação com o trabalho, os perfis deles se assemelham a outros crimes da região: repórteres de veículos locais pequenos que não contam com a proteção de grandes empresas.

Com altas taxas de impunidade, crimes do tipo nem sempre têm a motivação confirmada pelos responsáveis encarregados de investigá-los.

Em junho, a Unesco reforçou o alerta para a falta de resolução de crimes relacionados à imprensa. 

A agência nas Nações Unidas destacou um estudo de 2021 que aponta que 86% dos casos entre 2006 e 2020 permanecem sem solução.

Em outro levantamento publicado no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade por Crimes contra Jornalistas, em 2 de novembro, o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) trouxe um recorte mais assustador: na última década, cerca de oito a cada dez assassinatos de jornalistas no mundo não receberam qualquer punição.

O Brasil é um dos integrantes do “clube” de 12 países em que agressões à imprensa sem que os autores sejam responsabilizados se repete com frequência.

O cenário para a imprensa latina é mais preocupante no México. Em 2022, ao menos 15 profissionais da mídia já foram assassinados no país.

As organizações que acompanham a situação da liberdade de imprensa no mundo adotam formas diferentes de contabilizar o número de jornalistas mortos ou feridos, incluindo ou não na lista mortes cuja associação com o trabalho ainda não foi confirmada.

Para a ONG Artigo 19 e para a Sociedade Interamericana de Imprensa, já foram 18 mortes este ano. Mas 18 ou 15, o número até agosto é mais do que o dobro registrado em todo o ano de 2021, que foi de 7.

No país que é uma democracia com presidente eleito, os problemas apontados pelas organizações são o crime organizado e a corrupção local, muitas vezes denunciadas por meios de comunicação regionais ou até mesmo individuais, como blogs ou páginas no Facebook.