Londres – Em decisรฃo incomum em favor do Starbucks e contra um sindicato, uma corte federal nos EUA alarmou os que se preocupam com a quebra do sigilo das fontes dos jornalistas, pilar da liberdade de imprensa porque permite denunciar mรกs prรกticas ou crimes sem expor quem os revela.

A Starbucks Workers United , organizaรงรฃo por trรกs da sindicalizaรงรฃo da rede Starbucks na regiรฃo de Buffalo, em Nova York, foi condenada a entregar todas as suas comunicaรงรตes com jornalistas para a empresa. 

A Starbucks disse que esta decisรฃo os ajudarรก a descobrir โ€œdesinformaรงรฃoโ€ que os dirigentes sindicais teriam disseminado sobre suas prรกticas. 

Starbucks tenta demover funcionรกrios a se afiliarem a sindicato 

Atรฉ o ano passado, nenhuma loja de propriedade da Starbucks nos EUA tinha seus funcionรกrios afiliados a um sindicato, atรฉ que um movimento por sindicalizaรงรฃo foi iniciado. Atรฉ agora, mais de 300 lojas em 30 estados aderiram.

Mas o nรบmero representa menos de 3% das 9 mil lojas Starbucks operadas pela empresa em todo o paรญs. 

A empresa vem fazendo uma operaรงรฃo de guerra para neutralizar o movimento sindical, oferecendo vantagens a quem trabalha em lojas nรฃo sindicalizadas e usando todas as armas para conter a expansรฃo do nรบmero de afiliados.

Em um comunicado recente, o porta-voz da empresa, Reggie Borges, disse:

โ€œRespeitamos o direito de organizaรงรฃo de nossos parceiros, mas acreditamos que o melhor futuro รฉ criado diretamente com parceiros e nรฃo por meio de terceirosโ€.

Agora, a decisรฃo judicial inscreveu a briga em outra esfera, a da liberdade de imprensa.

A notรญcia foi revelada pelo Washington Post nesta segunda-feira (31). Segundo o jornal, o juiz do Tribunal Distrital dos EUA John L. Sinatra Jr. nomeado por Donald Trump em 2018, emitiu a ordem โ€œpouco notadaโ€ no mรชs passado a pedido da Starbucks.

Embora o estado de Nova York tenha uma lei que protege os jornalistas profissionais de divulgar fontes, como lembrou o Post, o caso do Starbucks รฉ diferente porque as prรณprias fontes estรฃo sendo obrigadas a revelar as conversas com profissionais da mรญdia, nรฃo estando portanto submetidas ร  legislaรงรฃo aplicada ร  imprensa. 

Sinatra ordenou que a organizaรงรฃo de funcionรกrios entregasse documentos, e-mails, textos e outras comunicaรงรตes eletrรดnicas e โ€œqualquer meio digital, impresso, de rรกdio, TV, internet ou outro meio de comunicaรงรฃoโ€ a respeito do litรญgio com o Starbucks.

Em nota, Richard Bensinger, consultor e dirigente do Starbucks Workers United, disse que a empresa โ€œdespreza todas as normas da democraciaโ€. 

โ€œEles descaradamente espionam, assediam e demitem trabalhadores por exercerem seu direito de organizaรงรฃo.

Eles desprezam a liberdade de imprensa e nosso direito de falar livremente com a mรญdia.โ€

O pedido da Starbucks para ter acesso a conversas entre jornalistas e dirigentes sindicais veio em seguida a uma queixa emitida pelo diretor regional do Conselho Nacional de Relaรงรตes Trabalhistas em Buffalo contra a Starbucks por 29 acusaรงรตes de prรกticas trabalhistas, que incluรญam mais de 200 violaรงรตes da Lei Nacional de Relaรงรตes Trabalhistas.

O Conselho pediu ao tribunal em junho a reintegraรงรฃo de sete funcionรกrios da Starbucks que haviam sido demitidos por atividades de organizaรงรฃo sindical, ainda pendente no Tribunal de Apelaรงรตes dos EUA.

Enquanto isso, o juiz Sinatra negou a moรงรฃo do Conselho, que buscava anular o pedido da Starbucks para ter acesso ร s comunicaรงรตes.

O caso de adesรฃo de funcionรกrios do Starbucks ao sindicato vem sendo amplamente coberto pela mรญdia e vai ter muita conversa para os donos da marca de cafรฉ examinarem, caso a ordem nรฃo seja revertida. 

Segundo o Washington Post, a ordem judicial  afeta “milhares” de mensagens trocadas entre representantes da organizaรงรฃo e repรณrteres do prรณprio jornal e de outros meios como o New York Times, Vice, Fox News, Al Jazeera, e The Guardian. 

Entrevistada pelo jornal, Cathy Creighton, diretora do laboratรณrio da Escola de Relaรงรตes Industriais e Trabalhistas da Universidade de Cornell em Buffalo e ex-advogada sindical, disse nunca ter visto ordem semelhante em 30 anos de advocacia trabalhista.