Após uma escalada de violência sem precedentes contra jornalistas no México, agora é o Haiti que desponta como o segundo país mais perigoso para a imprensa na América Latina.
O repórter Romelson Vilcin foi o sexto morto no país em 2022. Ele foi atingido na cabeça por um projétil de gás lacrimogêneo durante um protesto contra a prisão de outro jornalista no domingo (30) em frente a uma delegacia na capital haitiana Porto Príncipe.
A morte dele aconteceu às vésperas do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, celebrado em 2 de novembro. A data é reconhecida pelas Nações Unidas, que anualmente reitera seu compromisso com a defesa da imprensa ao cobrar das autoridades mundiais investigação de casos envolvendo profissionais da mídia.
Jornalistas protestavam contra prisão arbitrária no Haiti
Romelson Vilcin e outros jornalistas participavam de uma manifestação contra a prisão de Robeste Dimanche, repórter detido de forma arbitrária enquanto trabalhava na rádio Télé Zénith.
O ato, que acontecia na porta da delegacia onde Dimanche estava preso, foi duramente reprimido pelos agentes policiais. Segundo a Associação de Jornalistas Haitianos (AJH), a polícia “disparou munição real e de gás lacrimogêneo para repelir os trabalhadores da mídia.”
Vilcin foi atingido na cabeça por um projétil de gás lacrimogêneo, de acordo com comunicado divulgado pela Direção Geral da Polícia Nacional do Haiti.
No entanto, jornalistas que estavam no local alegam que a polícia também disparou armas de fogo contra os manifestantes, e um dos tiros pode ter acertado o repórter.
“Romelson Vilcin foi morto a tiros no pátio da delegacia de Delmas 33. Um policial que perdeu o controle de sua metralhadora abriu fogo na direção de Romelson enquanto outros nos bombardeavam com gás lacrimogêneo. Vários outros profissionais da imprensa foram brutalizados pela polícia”, disse Raynald Petit-Frere, presidente do Coletivo Haitiano de Mídia Digital, do qual o Vilcin era membro, ao jornal haitiano Le Nouvelliste.
A AJH também denuncia que outros profissionais também ficaram feridos, e materiais e equipamentos de trabalho dos jornalistas foram confiscados pela polícia durante a manifestação.
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Romelson Vilcin é o sexto jornalista morto no Haiti até agora em 2022. Ele era o correspondente em Porto Príncipe da rádio Génération 80, localizada em Porto-da-Paz, na região Noroeste do país.
A morte dele acontece dias após a tentativa de assassinato de Roberson Alphonse, repórter investigativo do jornal Le Nouvelliste que foi baleado em seu carro quando ia para o trabalho. Ele ficou ferido, mas não corre risco de morte.
Em seus textos e programas de rádio mais recentes, Alphonse falou sobre política nacional, crime e policiamento, além das condições de segurança no país.
Na semana passada, também foi descoberto o corpo de Garry Tess, um radialista do sul do Haiti que estava desaparecido desde 18 de outubro. As entidades ainda investigam se o caso está relacionado ao seu trabalho como jornalista.
“A Associação de Jornalistas Haitianos condena veementemente as ações da polícia contra a imprensa no domingo, 30 de outubro de 2022. O comportamento dos agentes dentro da delegacia em Delmas 33 é uma reminiscência de tempos passados na história recente do Haiti” , diz a AJH.
“A segurança dos meios de comunicação e a livre circulação dos jornalistas são essenciais para o pleno e pleno gozo da liberdade de imprensa, liberdade de pensamento, liberdade de expressão e direito à informação, que são componentes da democracia.
A AJH exige que a Polícia Nacional do Haiti rejeite todas as formas de brutalidade contra jornalistas porque os profissionais e os meios de comunicação precisam de proteção e segurança para melhor cumprir sua missão.”
A Federação Internacional de Jornalistas também condenou a morte do jornalista, ressaltando que, somente neste ano, a violência que assola o Haiti já deixou seis profissionais de imprensa mortos, vítimas tanto do crime organizado quanto da polícia.
“Poucos dias antes do Dia Internacional para Acabar com a Impunidade de Crimes Contra Jornalistas, a FIJ exige a implementação da Convenção para a Segurança e Independência dos Jornalistas, um instrumento que pode impedir que trabalhadores da mídia no Haiti continuem em perigo”, destacou a entidade.
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