Enquanto o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador defende publicamente que a Estátua da Liberdade seja removida de Nova York se Julian Assange morrer em uma prisão nos EUA, jornalistas continuam morrendo em uma taxa assustadora no México.

O 15º profissional de imprensa assassinado no país com evidências de crime relacionado à atividade este ano é Fredid Roman, baleado na segunda-feira (22) em Chilpancingo, capital do estado de Guerrero.

Assim como outros profissionais de mídia mortos no país, ele atuava na mídia local, sem a proteção de grandes organizações jornalísticas.

Jornalista morto no México tinha 30 anos de experiência

As organizações que acompanham a situação da liberdade de imprensa no mundo adotam formas diferentes de contabilizar o número de profissionais mortos ou feridos do setor, incluindo ou não na lista mortes cuja associação com o trabalho ainda não foi confirmada.

Para a ONG Artigo 19 e para a Sociedade Interamericana de Imprensa, já foram 18 mortes este ano. Mas 18 ou 15, o número até agosto é mais do que o dobro registrado em todo o ano de 2021, que foi de 7.

O México tinha ficado empatado com o Afeganistão ou em segundo lugar em vítimas de profissionais de mídia ano passado, de acordo com a metodologia das organizações que monitoram a violência contra a imprensa. 

No país que é uma democracia com presidente eleito, os problemas apontados pelas organizações são o crime organizado e a corrupção local, muitas vezes denunciadas por meios de comunicação regionais ou até mesmo individuais, como blogs ou páginas no Facebook. 

Era o caso de Roman, fundador e diretor do jornal La Realidad, que parou de funcionar no ápice da pandemia de covid-19, segundo informações da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

Ele escrevia uma coluna chamada “La Realidad Escrito”, publicada nos veículos Vértice, Desde Abajo e em suas redes sociais.

Com 30 anos de experiência, o jornalista também foi colaborador da revista Quehár Político e ex-diretor de comunicação da Secretaria de Educação de Guerrero.

As autoridades forneceram poucos detalhes sobre seu assassinato, ou se havia evidências de que estava ligado ao seu trabalho jornalístico, embora a violência de gangues de drogas, vigilantes armados e outros grupos seja relativamente comum no estado de Guerrero.

De acordo com a Procuradoria Geral de Guerrero, uma das principais linhas de investigação busca determinar se o crime está relacionado ao recente assassinato do filho do jornalista, ocorrido no dia 1º de julho.

Segundo a imprensa local, o filho de Roman comercializava frango e denunciou criminosos que controlariam a distribuição de alimentos em algumas regiões de Guerrero. O jornalista investigou e divulgou essas denúncias.

Outra hipótese apontada por grupos de imprensa mexicanos é de a morte de Roman estar relacionada ao desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa em 2014, em Guerrero. 

Isso porque a última publicação no Facebook do jornalista foi uma reportagem sobre o caso, que responsabilizou militares pela morte dos jovens. 

A FIJ, o Sindicato Nacional dos Editores de Imprensa (SNRP) e outras entidades repudiaram o crime e cobraram investigação urgente das autoridades para a prisão dos responsáveis pela morte de mais um jornalista no México.

O SNRP, por meio de um comunicado, exigiu “que as autoridades dos três níveis investiguem minuciosamente esse novo assassinato de um comunicador” e afirmou que nos já 15 crimes contra jornalistas “há poucos suspeitos que foram presos e enfrentam uma julgamento” .

“Com o crime de Roman, já são 15 assassinatos contra jornalistas, no país onde o índice de impunidade desses casos chega a 95%”, disse a FIJ.

“Como temos exigido em diversas ocasiões, é necessário que todos os níveis de governo no México assumam a tarefa de erradicar a violência e estabelecer medidas efetivas de proteção aos jornalistas.”

Dezenas de pessoas protestaram na terça-feira (23) na praia de Acapulco, localizada no estado de Guerrero, contra a morte de Roman e todos os outros jornalistas que perderam a vida no país em 2022.

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (UN-DH) lamentou o assassinato do jornalista Fredid Román e pediu ao governo do México que concedesse as medidas de segurança necessárias à família do jornalista.

A representação das Nações Unidas no México solicitou, em um comunicado às autoridades, que essas medidas de proteção também fossem estendidas aos colegas de trabalho de Fredid.

O presidente Andrés Manuel López Obrador lamentou o assassinato do jornalista Fredid Román. Ele garantiu que o caso já está sendo investigado e disse que o assassinato foi analisado na reunião de Segurança que ele realiza todas as manhãs, e anunciou que na quinta-feira (25) dará uma prévia das investigações.