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Entrevista | Pesquisador brasileiro do King’s College analisa participação do Brasil na COP27

Vinícius de Carvalho King's College London acadêmico brasileiro COP27 imagem Brasil

Vinícius de Carvalho, Vice decano internacional da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas Públicas do King’s College

Londres – Vice decano internacional da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas Públicas do King’s College Londres, o professor brasileiro Vinícius de Carvalho, que até setembro dirigia o Brazil’s Institute da universidade, é um dos que vê com cautela as expectativas de melhorias imediatas da imagem do Brasil depois da COP27.

Em entrevista ao MediaTalks para o Especial COP27, ele citou o alto índice de desmatamento como exemplo de problema que não será corrigido de um dia para o outro, como se tudo pudesse mudar num estalar de dedos a partir de 1º de janeiro.

Carvalho ressalta que o comportamento científico, especialmente em relação a questões políticas, é o de manter o escrutínio, sem entusiasmo com promessas. “Cientistas não têm crenças, eles testam fatos”.

Efeitos sobre a imagem do Brasil após a COP27

“O discurso da academia sobre as ações para mitigar as mudanças climáticas e a forma de implementá-las não mudou. A diferença na cúpula deste ano é que o discurso político de Lula foi mais em harmonia com o pensamento acadêmico. 

O fato de o presidente eleito ter ido à COP27 e o atual não estar presente foi um sinal de uma administração mais disposta a se engajar globalmente.

Há otimismo, porque as agendas propostas são mais progressistas. E o grupo de transição que participou, com a presença de lideranças indígenas e ambientais, é outro fator que contribuiu para essa percepção.”

Impactos sobre negócios

“Pela ótica da geopolítica, não arriscaria previsões sobre se as mudanças sinalizadas na COP27 vão influenciar o ambiente de negócios do Brasil. Isso não depende apenas da mudança de um ator político.

Fazemos parte de um desenho geopolítico global, em que a percepção sobre os países oscila. São muitos fatores interligados, em um cenário ao mesmo tempo racional e emocional, mas o que importa é a visão a longo prazo.

É importante que o Brasil transmita a imagem de que o agronegócio não é necessariamente danoso ao meio ambiente e que o país tem capacidade de industrialização sem recorrer a combustíveis fósseis.”

O dilema da crise energética

Em nossa universidade, direcionamos muitos esforços na formulação de propostas transformadoras para mitigar as mudanças climáticas.

Mas há um outro lado: a crise energética na Europa, junto com uma demanda maior de energia. E os combustíveis fósseis não correspondem àquilo que se espera em relação ao cuidado com o meio ambiente.

É um dilema existencial. Mas as soluções para sair da crise energética deverão ser cuidadosamente atreladas às questões ambientais.”

Atenção ao greenwashing

“Trazer o problema para discussão na COP27 foi um sinal claro de que há uma atenção maior por parte da sociedade civil, da academia e das estruturas de fiscalização.

Não chegaremos a uma nova era de consciência a partir de amanhã, mas a discussão do tema ajuda a evitar que o greenwashing continue a ser praticado de forma sistemática e ampla.”


Esta entrevista faz parte do MediaTalks Especial COP27, que reúne análise e visões sobre a conferência do clima da ONU em oito países.

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